figuras de linguagem

ALEGORIA

– Duas ou mais metáforas na mesma circunstância.
 
Ex: A vida é um grande poema em estrofes variadas; umas em opulentos alexandrinos de rimas milionárias; outras, frouxas, quebradas, misérrimas, mas o refrão é um para todas, sempre o mesmo: morrer.
 
 
ALITERAÇÃO
– Repetição de um mesmo fonema consonantal.
 
Ex: Que a brisa do Brasil beija e balança.
 
 
ANACOLUTO
– Interrupção sintática; inicia-se uma segunda oração sem terminar a primeira.
 
Ex: Os meninos, eles sempre me dão muito trabalho.
 
 
ANADIPLOSE
– Inicia-se o próximo verso com a mesma ou as mesmas palavras empregadas no fim do verso ou frase anterior.
 
Ex: Quero escrever sem saber / Sem saber o que dizer.
 
 
ANÁFORA
– Iniciam-se os versos ou frases com a mesma ou as mesmas palavras.
 
Ex: Depois do areal extenso / Depois do oceano de pó / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só...
 
 
ANÁSTROFE
– Hipérbato leve; uma inversão sintática menos acentuada, comum.
 
Ex: Aconteceu um acidente.
 
 
ANTÍTESE
– Palavras opostas, contrárias, antitéticas.
 
Ex: Trabalhou dia e noite.
 
 
ANTONOMÁSIA
– Palavra ou expressão que substitui um nome.
 
Ex: O Genovês salta os mares sem receios.
 
 
APÓSTROFE
– Vocativo; palavra ou expressão com a qual o eu lírico ou narrativo se dirige a um interlocutor real ou fictício, presente ou ausente.
 
Ex: Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
 
 
ASSÍNDETO
– Ausência de conjunção, de síndeto.
 
Ex: Vim, vi, venci!
 
 
ASSONÂNCIA
– Repetição de um mesmo fonema vocálico.
 
Ex: Berro pelo aterro / pelo desterro.
 
 
CATACRESE
– Palavra emprestada por falta de um termo próprio ou apropriado.
 
Ex: Empreste-lhe um dente de alho.
 
 
COLITERAÇÃO
– Duas ou mais aliterações com fonemas consonantais da mesma área de articulação fonética. O bê e o pê, por exemplo, são bilabiais; o dê e o tê são linguodentais.
 
Ex: Planam bons ventos pelos belos planaltos / Leite quente dói os dentes da frente.
 
 
COMPARAÇÃO
– Metáfora com o elemento de comparação.
 
Ex: Resistiu como um bicho do mato.
 
 
CONCATENAÇÃO
O mesmo que anadiplose.
 
 
ELIPSE
– Omissão, supressão; ocorre quando deixamos de enunciar alguma palavra.
 
Ex: Veio sem pinturas, em vestido leve. (há a supressão do sujeito, do “ela”)
 
 
ENCADEAMENTO
O mesmo que anadiplose ou concatenação.
 
 
EPANADIPLOSE
O mesmo que anadiplose, concatenação ou encadeamento.
 
 
EPANÁSTROFE
O mesmo que anadiplose, concatenação, encadeamento ou epanadiplose.
 
 
EPÍFORA
– Versos ou frases terminam com a mesma palavra.
 
Ex: Os animais não são criaturas? As árvores não são criaturas? As pedras não são criaturas?
 
 
EPÍSTROFE
O mesmo que epífora.
 
 
EUFEMISMO
– Diminuição voluntária do impacto de algumas palavras.
 
Ex: Ele nos deixou. (em vez de “ele morreu”)
 
 
GRADAÇÃO
– Algo cresce ou decresce gradualmente, gradativamente.
 
Ex: Do seu calmo esconderijo, o ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho...
 
 
HIPÁLAGE
– Deslocamento do adjetivo para outro substantivo ou do advérbio para outro verbo.
 
Ex: Em cada olho um grito castanho de ódio.
 
 
HIPÉRBOLE
– Exageração, encarecimento, ampliação.
 
Ex: Teus olhos chorarão rios de lágrimas.
 
 
HOMONÍMIA
– A mesma palavra para vários sentidos.
 
Ex: No vale, a vida é o que vale.
 
 
IRONIA
– Diz-se algo querendo dizer o contrário ou diferente.
 
Ex: A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.
 
 
METÁFORA
– Comparação sem o conectivo de comparação.
 
Ex: Horas são bolhas de sabão.
 
 
METONÍMIA
– Parte que representa um todo.
 
Ex: Duas mil cabeças pastam à beira do rio.
 
 
ONOMATOPEIA
– Imitação alfabética de sons.
 
Ex: Dos cerrados onde o guaxe passa rápido... Vvvvvvvv... passou.
 
 
OXÍMORO
– Palavras opostas que se desdizem, que se contradizem.
 
Ex: O amor é um contentamento descontente. (Luís de Camões)
 
 
PARADOXO
– Ideias que formam uma real ou aparente contradição.
 
Ex: A Virgem deverá gerar o Filho / Que é seu Pai desde toda a eternidade. (Murilo Mendes)
 
 
PARALELISMO
– Frases que apresentam estruturas gramaticais semelhantes.
 
Ex: Guardavam atentamente o gado no vale / Observavam silenciosamente o inimigo na montanha.
 
PARONOMÁSIA
– Efeito fonético extraído de jogo com palavras parecidas, semelhantes.
 
Ex: Que a morte apressada seja tributo do conhecimento, e a vida larga atributo da ignorância.
 
 
PERÍFRASE
– Frase ou expressão em lugar de um nome.
 
Ex: Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...
 
 
PLEONASMO
– Repetição de sentido.
 
Ex: O leque eu o fiz por capricho.
 
 
POLISSÍNDETO
– Repetição de uma mesma conjunção, de um mesmo síndeto.
 
Ex: Nem glória, nem amores, nem santidade, nem heroísmo.
 
 
PROSOPOPEIA
– Personificação de objetos e outros seres vivos.
 
Ex: Devagar... as janelas olham.
 
 
QUIASMO
– Configuração de um xis com quatro palavras de dois versos ou frases.
 
Ex: Melhor é merecê-los sem os ter
        Que possuí-los sem os merecer


SINÉDOQUE
– O mesmo que metonímia; uma parte pelo todo.
 
Ex: eles não têm um teto para morar.
 
 
SINESTESIA
– Combinação de sensações; mistura de sentidos.
 
Ex: Um amor silencioso e suave como o azul de céus que nunca vi.
 
 
SILEPSE DE GÊNERO
– Discordância aceitável de gênero.
 
Ex: Aos domingos, São Paulo desperta tímida e calada.
 
 
SILEPSE DE NÚMERO
– Discordância aceitável de número.
 
Ex: Toda aquela multidão gritavam por respeito.
 
 
SILEPSE DE PESSOA
– Discordância aceitável de pessoa.
 
Ex: Os brasileiros gostamos de paz.
 
 
SÍMPLOCE
– O mesmo começo e o mesmo fim em duas frases ou mais.
 
Ex: Hoje não quero pensar senão na arte nova; hoje não me agrada cantar senão a canção nova.
 
 
SÍNQUISE
– Hipérbato acentuado; uma inversão sintática forte.
 
Ex: “O meu tormento / Leve me torne sempre a terra dura” – Bocage.
Em ordem direta: O meu tormento me torne leve a terra sempre dura.
 
 
ZEUGMA
– Omissão ou supressão de uma palavra já enunciada na frase.
 
Ex: Sandoval vivia para a família, para os filhos.

 
QUESTÕES

Coloque entre os parênteses a letra correspondente à figura de linguagem predominante na frase.
 
a) antítese (par de antônimos)
b) oxímoro (antônimos que se desdizem)
c) paradoxo (aparente ou real contradição)
d) anástrofe (deslocamento sintático leve)
e) hipérbato (deslocamento sintático significativo)
f) sínquise (deslocamento sintático exagerado)

1. (    ) “Passeiam, à tarde, as belas na Avenida”.
2. (    ) “Quanto mais queijo, mais buracos; quanto mais buracos menos queijo; logo, quanto mais queijo, menos queijo.”
3. (    ) “Começa o mundo, enfim, pela ignorância”.
4. (    ) “Calor à tarde e frio à noite”.
5. (    ) “A grita se alevanta ao céu, da gente”.
6. (    ) “É proibido proibir”.
7. (   ) Toda regra tem exceção.
8. (   ) “O meu tormento / Leve me torne sempre a terra dura” (Bocage)
9. (   ) Não é possível ter certeza de nada.
10. (   ) Nasce o sol e não dura mais que um dia.
11. (   ) Normalmente nos incomoda com seu silêncio eloquente.
12. (   ) Trata-se de um ilustre desconhecido.
13. (   ) “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...”
14. (   ) “É um contentamento descontente” (Camões).
15. (   ) Seu olhar de ira cheio.
16. (   ) “Vede que perigosas seguranças!” (Camões).
 
17. Destaque a alternativa em que se encontra a figura de linguagem denominada OXÍMORO.
a) “...as lojas loquazes dos barbeiros” (Cartas Familiares). [Loquaz: falador]
b) “...perdi a consciência da minha personalidade... se me afigurava ser um pedaço de cera, que se derretia, com horrenda delícia, num forno rubro e rugidor” (A Cidade e as Serras).
c) “...erguendo o nariz agudo e triste” (A Cidade e as Serras).
d) “As tias, fazendo as suas meias sonolentas...” (A Capital).
e) “...as faces pensadoras dos rochedos” (Prosas Bárbaras).

NOCAUTEANDO A LIBERDADE – Hélio Schwartsman
 
   Até ler o artigo do deputado José Mentor (PT-SP) ontem na Folha, MMA, para mim, não passava de uma sigla para Ministério do Meio Ambiente. Foi com surpresa, portanto, que descobri que as Mixed Martial Arts, os combates de vale-tudo, fazem um baita sucesso na TV.
   O que me deixou estarrecido, porém, foi perceber que o parlamentar pretende proibir a transmissão dessas e de outras lutas pela TV. Se dois adultos no gozo de suas faculdades mentais decidem voluntariamente espancar-se até um deles ser nocauteado e se há gente disposta a pagar para assistir isso, esse não é um problema que diga respeito ao Estado.
   A justificativa apresentada por Mentor no projeto de lei nº 5.534/09, de que é preciso resguardar "crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos" de assistir a "cenas violentas explícitas", é complicada. O peso da TV e de outros elementos midiáticos na formação de indivíduos violentos ainda é debatido com acrimônia por psicólogos, especialmente os que estudam crianças. Minha impressão, contudo, é que a maré está virando. Estamos passando do virtual consenso de que a TV inexoravelmente deixava todo mundo maluco para a suspeita fundamentada de que a mente humana é mais complexa e a mídia desempenha papel bem menos decisivo do que se suspeitava.
   Como observa Steven Pinker em seu mais recente livro, os filmes de Hollywood estão mais sangrentos do que nunca, pornografia ilimitada está a apenas um clique de distância e surgiu um novo e enorme mercado de games extremamente cruéis. Apesar de toda essa "decadência", a violência na vida real diminui de forma consistente em todo o mundo.
   Pinker vai além e sugere que o desejo por entretenimento com temáticas violentas é um universal humano. Os que não gostamos de MMA apenas usamos outros produtos, como sagas homéricas, dramas shakespearianos, contos de fadas ou histórias bíblicas. Mentor vai censurar isso tudo?
Folha de S. Paulo, 6 de março de 2012.
 
18. No último parágrafo do texto “Nocauteando a liberdade”, usa-se uma figura de linguagem que se caracteriza por uma discordância aceitável. Essa discordância aparece no trecho “Os que não gostamos de MMA apenas usamos outros produtos, como sagas homéricas, dramas shakespearianos, contos de fadas ou histórias bíblicas”. Trata-se de qual figura de linguagem?
a) silepse de pessoa
b) silepse de gênero
c) silepse de número
d) anacoluto
e) anáfora
 
19. A palavra “baita”, usada no primeiro parágrafo do texto “Nocauteando a liberdade” é característica da linguagem coloquial. Isso, por sua vez, caracteriza o texto como uma
a) Dissertação
b) Crônica
c) Crítica
d) Descrição
e) Notícia
 
20. No terceiro parágrafo do texto “Nocauteando a liberdade”, a palavra “resguardar” está empregada com o sentido de
a) Proibir
b) Proteger
c) Impedir
d) Afastar
e) Coibir
 
21. A palavra “acrimônia”, no terceiro parágrafo do texto “Nocauteando a liberdade”, está empregada com o sentido de
a) humor
b) tranquilidade
c) desinteresse
d) descrença
e) dificuldade


VÍCIOS QUE VIRAM VIRTUDES – Hélio Schwartsman
 
   Depois de algumas sessões em que reinou uma falsa paz no Supremo Tribunal Federal, o ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, voltou a estrilar com o revisor, Ricardo Lewandowski. Palavras fortes foram usadas.
   Já escrevi neste espaço que não vejo as desavenças e mesmo o ódio entre membros de uma corte colegiada como problema. Ao contrário, penso que são um sinal de que o órgão é suficientemente plural e de que seus integrantes estão, de fato, empenhados na missão que lhes foi confiada. A cizânia torna a convivência difícil, mas é uma garantia de que o tribunal não cairá facilmente nas armadilhas da conformidade de grupo.
   Aqui, a rudeza, vista como defeito no âmbito individual, se converte em qualidade no contexto de uma corte da qual se exige diversidade. É uma variação do célebre "vícios privados, benefícios públicos", imortalizado por Bernard Mandeville.
   O caso clássico é o da cobiça que, submetida às dinâmicas do mercado, se transforma numa força que promove inovação e redução de preços via concorrência. Mas há outros.
   A tão malfalada fofoca – que, ainda hoje, descrevemos de modo pejorativo como característica feminina – foi, na verdade, o primeiro mecanismo de socialização especificamente humano. Embora jornalistas não gostemos de admiti-lo, boa parte de nosso serviço é atualizar a futrica para uma sociedade de massas.
   O humor, em especial aquele de piadas cortantes, que pode mobilizar os piores preconceitos, também entra nessa categoria. O riso que ridiculariza é horrível se aplicado como forma de "bullying" contra uma criança indefesa, mas pode ser uma arma bastante efetiva para desacreditar e até derrubar tiranos.
   Antes de imprecar contra este ou aquele magistrado, convém perguntar se seus defeitos privados não estão, paradoxalmente, contribuindo para resolver a contento uma relevante questão pública.
Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 2012.
 
22. Aponte para o sujeito do verbo “reinou”, do primeiro parágrafo.
a) falsa
b) Joaquim Barbosa
c) paz
d) sessões
e) Supremo Tribunal Federal
 
23. A inserção de “relator do mensalão” – primeiro parágrafo – configura
a) adjunto adnominal
b) aposto
c) complemento nominal
d) predicativo do sujeito
e) vocativo
 
24. O último período do primeiro parágrafo – “Palavras fortes foram usadas” – caracteriza o uso da voz
a) ativa
b) passiva analítica
c) passiva sintética
d) reflexiva
e) reflexiva recíproca
 
25. No segundo parágrafo, com a palavra “plural”, o articulista quis dizer que o Supremo Tribunal Federal
a) apesar de suas muitas missões, todos os seus integrantes se empenham no cumprimento delas.
b) conta com um bom número de ministros.
c) contém ministros com ideias e comportamentos diversos.
d) é formado por vários tribunais.
e) tem muitas funções e cumpre todas satisfatoriamente.
 
26. O termo “de fato”, no segundo parágrafo, de ser classificado como locução adverbial de
a) afirmação
b) dúvida
c) intensidade
d) modo
e) tempo
 
27. A palavra “cizânia” – segundo parágrafo – pode ser trocada, sem prejuízo de sentido, por
a) desarmonia
b) desordem
c) teimosia
d) tirania
e) vaidade
 
28. A oração “de que o tribunal não cairá facilmente nas armadilhas da conformidade de grupo” (segundo parágrafo) deve ser reconhecida como
a) completiva nominal
b) objetiva direta
c) objetiva indireta
d) predicativa do sujeito
e) subjetiva

29. No segundo período do terceiro parágrafo, há a elipse (supressão) de uma palavra que bem pode ser
a) costume
b) lei
c) máxima
d) modelo
e) provérbio


30. Lembrando que zeugma é uma figura de linguagem que se caracteriza com a supressão de uma ou expressão já enunciada no texto, no fim do quarto parágrafo está zeugmatizada a palavra
a) casos
b) clássico
c) cobiça
d) dinâmicas
e) preços

31. Tendo em mente que silepse é uma figura de linguagem que se caracteriza com uma discordância aceitável, na oração adverbial concessiva “Embora jornalistas não gostemos de admiti-lo”, no quinto parágrafo, apresenta-se uma silepse de
a) gênero
b) número
c) pessoa

32. A palavra “imprecar” – último parágrafo – pode ser trocada, sem prejuízo de sentido, por
a) condenar
b) eleger
c) nomear
d) obstruir
e) praguejar
 
33. O termo “a contento”, no último parágrafo, de ser classificado como locução adverbial de
a) afirmação
b) dúvida
c) intensidade
d) modo
e) tempo


SEU NOME – Fabrício Corsaletti

se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no seu nome
cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu nome
talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome
 
34. Qual das figuras de linguagem abaixo pode ser exemplificada com o poema acima?
a) anástrofe
b) epístrofe
c) hipérbato
d) paronomásia
e) sínquise