TIL

José de Alencar

questões

   Afora estes, não imaginava Jão Fera outros meios de ganhar dinheiro sem humilhação. O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível de escravo. Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo, e se apurava nesse homem, cujo espírito de sobranceira independência havia robustecido a luta que travara contra a sociedade.
   Era a enxada para ele um instrumento vil; o machado e a foice ainda concebia que os pudesse empunhar a mão do homem livre; mas em seu próprio serviço, para abater o esteio da choça ou abrir caminho através da floresta.
   Tornando da malograda espera do tigre, alcançou o capanga um casal de velhinhos, que seguiam diante dele o mesmo caminho e conversavam acerca de seus negócios particulares. Das poucas palavras que apanhara, percebeu Jão Fera que destinavam eles uns cinquenta mil réis, tudo quanto possuíam, à compra de mantimentos, a fim de fazer um moquirão, com que pretendiam abrir uma boa roça.
   – Mas chegará, homem? perguntou a velha.
   – Há de se espichar bem, mulher!
   Uma voz os interrompeu:
   – Por este preço dou eu conta da roça!
   – Ah! É nhô Jão!
   Conheciam os velhinhos o capanga, a quem tinham por homem de palavra, e de fazer o que prometia. Aceitaram sem mais hesitação; e foram mostrar o lugar que estava destinado para o roçado.
   Acompanhou-os Jão Fera; porém, mal seus olhos descobriram entre os utensílios a enxada, a qual ele esquecera um momento no afã de ganhar a soma precisa, que sem mais deu costas ao par de velhinhos e foi-se deixando-os embasbacados.

(Trecho do vigésimo nono capítulo de “Til”)
MOQUIRÃO – espécie de acampamento próximo ao roçado para evitar viagens constantes.

1. No excerto acima, Jão Fera se nega a trabalhar com a enxada. Trata-se de uma recusa moral? Por quê?
 
2. “Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo”. De acordo com o excerto, os roceiros do Estado de São Paulo se recusavam a trabalhar com enxada para não serem confundidos com escravos. Considerando a época em que a obra “Til” foi escrita e a escola literária que representa, contextualize esse “prejuízo”.
 
   Na manhã em que estamos, saíra o capanga de seu esconderijo resolvido a lançar mão do meio que reservara para a última extremidade. Afastando-se das ruínas para evitar um encontro com Berta, chegara a um sombrio raleiro do mato, onde retouçava o bacorinho ruivo.
   Enxotado por Jão, o animalzinho desapareceu, e antes de meia hora estava de volta precedendo o trote miúdo do Chico Tinguá.
   Pensou lá consigo o vendeiro, apesar do chamado, que o mais urgente era avisar o capanga do que tramavam contra ele; e pois foi logo contando o quanto ouvira pouco antes.
   Riu-se o Bugre.
   – Deixa-os!
   – Mas o arengueiro do Pinta meteu-se de súcia com eles, redarguiu Chico; e não é de bom que o demônio me anda a cheirar cá pelo rancho a uns tempos. Agora mesmo quando vim, lá me ficou espiando!
   Jão Fera encolheu os ombros com um ar desdenhoso.
   – Escuta, Chico, isto é negócio sério. Hás de ir agora mesmo à fazenda do tal Aguiar. Diz-lhe que ele perde seu tempo em estar oferecendo contos de réis a quem me agarrar. Se quiser, que te entregue cinquenta mil réis, e sou capaz de ir lá à fazenda uma tarde que ele marcar depois de São João. Dou minha palavra.
   Olhou-o Chico espantado e quis objetar.
   – Vai ou não? Atalhou Jão com o tom decisivo.
   O vendeiro abaixou a cabeça e partiu. Vendo-o desaparecer, dirigiu-se o capanga para a casa de nhá Tudinha, e já a pedaço oculto entre a ramada, estava de longe observando Berta, quando Miguel se retirou despeitado, deixando só a colaça. Nessa ocasião animou-se ele a transpor a orla da mata; a menina o viu e adivinhando que lhe queria falar, foi a seu encontro.
   O olhar de Berta era uma interrogação instante e cheia de inquietação. Não se encontrara com o capanga, desde que este fugira de volta da Ave-Maria, sem fazer-lhe a promessa que ela exigia.
   – Agora posso desempenhar minha palavra, e não me importarei mais com o Galvão; disse o capanga cabisbaixo e humilde.
   Estremeceu Berta, pensando no perigo que até aquele instante correra o pai de Linda.
   – Obrigada, Jão! Disse Berta com efusão sincera.
   Nem lhe ocorreu, fosse o que ela agradecia, dádiva de um assassino, que lhe cedia uma existência como um artigo de seu bárbaro tráfico.
   – Mecê está contente? Perguntou animando-se o capanga.
   – Muito, muito, Jão!

(Trecho do vigésimo nono capítulo de “Til”)
ARENGUEIRO – aquele que faz intrigas, que cria problemas.
BACORINHO – porquinho, leitão.
COLAÇA – aquela que, não sendo irmã, foi alimentada com o leite da mesma mulher; irmã de leite.
EFUSÃO – manifestação evidente de afeto, de alegria, de carinho.
RALEIRO – espaço sem árvores ou plantações, clareira.
RETOUÇAVA – pastava, andava.
SÚCIA – bando, quadrilha, corja.

3. A expressão “na manhã em que estamos” nos remete ao tempo do autor, do leitor, do narrador ou da narrativa? Diferencie tais tempos.
 
4. No trecho “saíra o capanga de seu esconderijo resolvido a lançar mão do meio que reservara para a última extremidade”, o narrador se refere a um “meio”. De que “meio” se trata? Com que objetivo Jão Fera usaria esse “meio”?
 
5. Que meio Jão Fera usava para chamar Chico Tinguá?
 
6. O que o narrador quis comunicar com a expressão adverbial “apesar do chamado”, no terceiro parágrafo?
 
7. Quem é o “demônio” a quem Chico Tinguá se refere no sexto parágrafo?
 
8. No fim do excerto, Jão Fera usa o pronome de tratamento “mecê”, em conversa com Berta: “Mecê está contente?”. A forma de tratamento “vossa mercê” deu origem a vários caminhos reducionistas para se chegar à “mecê”, “vancê” ou “você”. Os vários caminhos são explicados pelas várias regiões que usaram e modificaram o mesmo termo inicial “vossa mercê”. Há indicações de que “vancê” e “você” sejam desdobramentos regionalizados de “vossancê”. Que outro termo você conhece que pode se localizar historicamente entre “vossa mercê” e “mecê”?
 
9. Til, personagem de José de Alencar, e Pedro Bala, de Jorge Amado, são exemplos de pessoas que gastam suas vidas em função de outras. Diferencie as formas como um e outro se dedicavam a ajudar outras pessoas.
 
10. Por que se pode dizer que em João Romão (O Cortiço, Aluísio Azevedo) não se veem os escrúpulos que podem ser verificados em Jão Fera (Til, José de Alencar)?
 
    Acaso, em uma dessas ocasiões, voltou-se de chofre a menina para ver onde ficara o companheiro e deu com ele a fitá-la daquele modo estranho.
    - Que me está olhando aí? Nunca me viu? exclamou com surpresa, mas travada sempre da petulância que animava-lhe todos os movimentos.
    Não era para você! respondeu rápido o moço, baixando a cabeça de modo a ocultar o rubor que lhe afogueava o rosto.
    Para confirmar o disfarce, armou a clavina e fez pontaria a um cardeal que se embalava no topo de uma palmeira.
    - Miguel!...
    Esta súbita exclamação rompeu dos lábios da menina, trêmula de susto, espanejando-se com a mesma alegria, que não se estancava nunca, e alguma vez represa, borbulhava depois com força maior.
    De repente parou; imóvel, quase estática, uma lividez mortal jaspeou-lhe as feições, enquanto os olhos se pasmavam em um ponto além.
    A orla do mato assomara o vulto de um homem de grande estatura e vigorosa compleição, vestido com uma camisola de baeta preta, que lhe caía sobre as calças de algodão riscado. Apertava-lhe a cintura rija e larga faixa do couro mosqueado do cascavel, onde via-se atravessada a longa faca de ponta com bainha de sola e cabo de osso grosseiramente lavrado.
    Em uma das bandoleiras trazia o polvarinho e munição; na outra suspendia um bacamarte, cuja boca negra e sinistra aparecia-lhe na altura do joelho esquerdo, como a face de um dragão que lhe servisse de rafeiro.
    As mangas da camisa, tinha-as enroladas até o cotovelo, bem como a parte inferior das calças que arregaçava cerca de um palmo. Usava de alpargatas de couro cru e chapéu mineiro afunilado, cuja aba larga e abatida ocultava-lhe grande parte da fisionomia.

(Trecho do primeiro capítulo do romance Til)
BACAMARTE – arma de fogo com cano curto e largo. (Aulete)
BAETA – tecido de algodão grosso. (Aulete)
CLAVINA – carabina; espécie de espingarda curta usada pela cavalaria e por caçadores. (Houaiss)
JASPEOU-LHE – evidenciou as cores do seu rosto.
LIVIDEZ – palidez; descoramento da pele. (Aulete)
POLVARINHO – frasco de levar pólvora à caça. (Houaiss)
RAFEIRO – observador; vigilante

11. Quem é o personagem que aparece a Miguel e Berta, durante o passeio pelo bosque da fazenda.
a) Jão Fera
b) Chico Tinguá
c) Gonçalo Suçuarana
d) Afonso
e) Pinta

12. Considerando o que está escrito no segundo parágrafo e também as características da personagem expostas em todo o romance, podemos concluir que
a) Berta não conseguia expor completamente seus sentimentos, pois era sempre barrada por sua petulância.
b) Til não era frequentemente uma menina audaciosa.
c) a surpresa de Berta é limitada pela ousadia da personagem.
d) Til demonstrou uma surpresa demasiada agravada por seu atrevimento.
e) a ingenuidade de Til a fez demonstrar uma surpresa exagerada.

13. A respeito de todo o trecho transcrito, assinale a alternativa incorreta.
a) A menina seguia pelo mato à frente do rapaz, contrariando os costumes da época e do lugar.
b) Para demonstrar mentirosamente que não estava olhando para a menina, Miguel apontou a espingarda a um pássaro que descansava no topo de uma palmeira.
c) Por alguns instantes, Miguel ficou parado admirando as feições da menina.
d) O narrador compara a arma do terceiro personagem da cena a um dragão protetor.
e) O terceiro personagem aparece às costas de Berta e de frente para Miguel.

14. A flexão verbal “assomara”, no oitavo parágrafo, indica que a ação descrita pelo verbo ocorreu
a) antes de a menina se estacar branca de medo.
b) no meio do dia.
c) depois de a menina parar pálida de temor.
d) no começo da noite.
e) simultaneamente ao fato de a menina se imobilizar descorada de medo.

15. Considerando as relações entre as palavras, assinale a alternativa incorreta.
a) O pronome “lá” representa o substantivo “menina”, no primeiro parágrafo.
b) O adjetivo “travada”, no segundo parágrafo, caracteriza a “surpresa”.
c) No sexto parágrafo, o adjetivo “represa” modifica a palavra “alegria”.
d) A palavra “rija” está empregada como adjetivo de “cintura”, no oitavo parágrafo.
e) O pronome “as”, décimo parágrafo, refere-se ao substantivo “mangas”.

16. O sintagma “da menina”, no sexto parágrafo, deve ser reconhecido sintaticamente como
a) complemento verbal
b) adjunto adverbial
c) predicativo do objeto
d) adjunto adnominal
e) complemento nominal

17. Numa análise sintática, o trecho “da petulância”, no segundo parágrafo, deve ser classificado como
a) sujeito paciente
b) agente da voz passiva
c) sujeito agente
d) agente da voz ativa
e) adjunto adnominal

18. O sintagma “de susto”, no sexto parágrafo, deve ser reconhecido sintaticamente como
a) complemento nominal
b) agente da voz passiva
c) predicativo do objeto
d) adjunto adverbial de causa
e) adjunto adnominal

19. Considerando as relações entre os termos, assinale a alternativa incorreta.
a) O verbo “espanejando-se” dá movimento ao substantivo “exclamação”, no sexto parágrafo.
b) O substantivo “face”, no penúltimo parágrafo, está associado ao termo “boca”.
c) No oitavo parágrafo, o pronome relativo “onde” tem como antecedente a palavra “faixa”.
d) A palavra “represa” está empregada como adjetivo de “alegria”, no sexto parágrafo.
e) O substantivo “rubor” está associado a outro substantivo do terceiro parágrafo: “rosto”.

    - Então você cuida que ele anda atrás de alguém?
    - Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou não tarda.
    Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em torno a vista inquieta, aproximou-se do companheiro para falar-lhe em voz submissa.
    - Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, quando vou à casa de Zana, e não apareceu nenhuma desgraça.
    - É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola.
    - Coitado! Se o prendem!
    - Ora qual. Dançará um bocadinho na corda!
    - Você não tem pena?
    - De um malvado, Inhá!
    - Pois eu tenho!
    - Mas por que é que este demônio que não faz caso de ninguém, e até mata as crianças, sofre tudo de Inhá, como ainda há pouco? Por que é?
    - Não sei, Miguel! disse a menina com ingenuidade.
    - Estou vendo que você tem algum patuá, como dizem as pretas da fazenda.
    - E tenho mesmo! Olhe! aqui está! exclamou a menina a rir-se, mostrando um bentinho que tirou do seio, onde o trazia com uma cruz, preso a um cordão de ouro.
    - Então é encanto; não há dúvida, replicou Miguel sorrindo.

(Trecho do segundo capítulo do romance Til)
PATUÁ – amuleto; pequeno saquinho contendo oração ou relíquia. (Aulete)

20. Parafraseando o período “É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola”, temos:
a) O capanga está fugindo de alguém ou alguém o está fugindo dele e estão próximos.
b) Jão Fera está perseguindo alguém ou alguém está fugindo dele e estão próximos.
c) O assassino está procurando alguém para matar ou alguém está fugindo dele incansavelmente.
d) Jão Bugre está perseguindo alguém ou alguém o está perseguindo insistentemente.
e) O matador de aluguel está no rasto de alguém obstinadamente ou ainda está procurando pistas como um cão.

21. No trecho “Mas por que é que este demônio que não faz caso de ninguém, e até mata as crianças, sofre tudo de Inhá, como ainda há pouco? Por que é?”
a) Miguel supervaloriza a pena que Berta sente de Jão Fera e manifesta sua indignação: como um homem que não respeita ninguém e até mata crianças pode ter medo de uma moça?
b) O rapaz despreza a pena que Til sente de Jão Fera para anunciar uma descoberta: como um homem que não respeita ninguém e até mata crianças pode ter medo de uma menina?
c) Miguel considera a pena que Berta sente de Jão Fera para justificar o medo que o capanga - um homem que não respeita ninguém e até mata crianças – sentiu de Inhá?
d) O rapaz desconsidera a pena que Inhá sente de Jão Fera para manifestar sua incompreensão: como um homem que não respeita ninguém e até mata crianças pode ter medo de uma moça?
e) Miguel evidencia a pena que Berta diz sentir de Jão Fera para constatar que todo homem tem sua fraqueza, pois até mesmo Jão Bugre, que não respeita ninguém e até mata crianças, sentiu medo de uma menina?

    Tinham os dois companheiros chegado ao lugar, onde a vereda que seguiam atravessava um carreador. Perto dali ficava a tronqueira de bater, a qual dava entrada às terras de uma fazenda, cercadas pelo fosso largo e profundo, que serve para resguardar a cultura contra o gado daninho.
    Inhá, que de uma corrida alcançara a tronqueira, subiu de salto pelas travessas, como faria se fossem os degraus de uma escada, e sentou-se na última bem concha de si.
    Levantando então a aldraba de ferro e empurrando com o pé a cancela, começou a balançar-se com um prazer infantil.
    Parado em meio do caminho ficara Miguel contemplando-a com uma expressão de contrariedade. Parecia afligir-se de ver sua graciosa companheira fazer-se criança, e trocar pelas afoitezas de um traquinas as cintilantes vivacidades da mocinha faceira.
    Sentia ele dentro em si uma ânsia incompreensível, qual tem-na o artista olhando o toro de mármore de que seu cinzel vai criar uma estátua. Mas essa, que lhe vive e palpita n’alma, ainda o mármore não a recebeu, e quem sabe se poderá ele nunca moldá-la como a desenhou a imaginação.
    Tal era Miguel ante aquele esboço da mulher que sonhava e, já alguma vez, entrevira em realidade, mas como uma luz efêmera, quase instantânea, bruxuleando entre as cismas de seus passeios solitários pelos campos. Os mesmos ímpetos do artista, cortados pelo desânimo, tinha-os ele nos momentos em que via, como agora, transformar-se de repente a fada gentil de seus sonhos em uma capetinha de mil pecados.
    Sua alma refrangia-se, ferida pela decepção; e por isso, desviando a vista da menina, atravessou o carreador e trilhou a vereda que embrenhava-se pela mata fechada, a pequena distância daí.
    - Psiu!... Onde vai? perguntou Inhá surpresa.
    Miguel parou.
    - Já se esqueceu do caminho? continuou ela a rir. É por aqui!
    - O meu não! respondeu o rapaz.
    E partiu.

(Trecho do segundo capítulo do romance Til)

22. No primeiro parágrafo do trecho acima, a expressão “tronqueira de bater” pode ser substituída sem perda de sentido por
a) pilha de troncos
b) porteira que se fecha quando a cancela bate no tronco
c) esteira de troncos onde as lavadeiras batem roupas
d) troncos onde amarravam escravos para açoitar
e) madeira usada na construção de barcos

23. Considerando o trecho transcrito acima, assinale a alternativa incorreta.
a) Miguel idealizava em Berta uma mulher delicada e gentil, por isso decepcionava-se quando a via em suas desobediências de adolescente.
b) Til provocava em Miguel os mesmos sentimentos próprios de um escultor diante do mármore: ansioso por talhar e decepcionado por não vislumbrar no mármore a sua idealização.
c) Berta se mostra uma menina inquietada por seus sentimentos e preocupada com seu futuro; ao contrário de Miguel, que se apresenta livre e despreocupado.
d) A decisão de Miguel para tomar outro caminho pode ser lida como uma antecipação do destino traçado para os dois personagens.

       Miguel tinha razão. Tão ardilosa era a expressão do rostinho da menina e tão brejeiro seu olhar, que a transfiguravam completamente. Quem assim a visse, julgaria ter diante de si, a chasqueá-lo, o trejeito garoto de um caipirinha.
       Para essa ilusão muito concorriam o tipo e o traje da moça.
      Era ela de pequena estatura e tão delgada e flexível no talhe, que dobrava-se como o junco da várzea. As formas da graciosa pubescência, que um corpinho justo debuxaria em doce e palpitante relevo, as dissimulava o frouxo corte de uma jaqueta de flanela escarlate com mangas compridas, e desabotoada sobre um camisote liso, cujos largos colarinhos se rebatiam sobre os ombros, à feição dos que usavam então os meninos de escola.

(Trecho do terceiro capítulo do romance Til)
ARDILOSA – astuta, esperta, arguta.
BREJEIRO – brincalhão, gozador, zombeteiro.
CHASQUEAR – caçoar, zombar, troçar.

24. A respeito do trecho acima, assinale a alternativa incorreta.
a) O corpo pequeno e magro da personagem ajudava a construir a imagem de uma menina caipira, recuada em seu pequeno mundo.
b) A expressão ardilosa do rostinho da menina contrastava com seu olhar brejeiro.
c) O excerto pode ser dividido em quatro partes: na primeira, o narrador concorda com a imagem de lobo em pele de cordeiro vista por Miguel; na segunda, argumenta que tanto o tipo físico quanto os trajes da menina concorrem para apresentá-la como uma moça completamente angelical; na terceira, explica o tipo físico de Berta; e na quarta, os trajes.
d) Berta não era menos infantil e ingênua como acusava a sua aparência.
e) As roupas frouxas que disfarçavam os traços femininos de mulher colaboram na aparência de uma menina ingênua e inocente.

       Com pouco reboou das barrocas da azinhaga o tropel de um cavalo. Jão Fera, acostumado a distinguir nos rumores da mata as várias notas que formavam a surdina da floresta, inclinou o ouvido à escuta. Não se enganara; o animal vinha naquela direção e aproximava-se rapidamente.
        Galgando então pelos socalcos do imbê, que descia dos galhos de um prócero jequitibá, alcançou o tope no rochedo, donde se descortinava entre o rendado das folhas uma volta do caminho.
        Não tardou que apontasse ali, para sumir-se logo na curva da estrada, um cavaleiro.
        Era o mesmo embuçado que falava pouco antes com Monjolo. Orçava pelos cinquenta anos; Barroso da cara que lhe cobria uma barba ruiva e áspera como as cerdas da capivara; de mediana estatura e excessivamente magro; vinha trajado ao uso da terra: chapéu mineiro de feltro pardo, sob o qual via-se o lenço de Alcobaça que lhe servia de rebuço; poncho de pano azul forrado de baetilha, com a gola de belbute levantada; botas de bezerro armadas de chilenas de prata.
        Os lábios do capanga, onde flutuava um sorriso de desprezo, contraíram-se logo, e arrojou-se o corpo à frente para não desprender a vista assanhada do cavaleiro, que sumira-se na curva do caminho. Desceu rápido ao rés da azinhaga, por onde breve meteu-se o desconhecido.
        Mal que assomou este no alto da rampa, a pupila injetada do capanga cravou-se-lhe no semblante e o atraía como a garra do abutre; a par, os dedos da mão direita afagavam com certa volúpia feroce o longo cabo da faca, passada à cinta, e já a meio fora da bainha.
        Não parecia o embuçado muito senhor de si e tranquilo de ânimo; pois lançava a um e outro lado olhos inquietos e investigadores, à feição de quem temia e perscrutava algum perigo oculto naquelas brenhas que o cercavam. Alguma vez hesitou, como incerto da resolução que devia tomar; olhou para trás, ou enfrestou pela vereda que serpejava diante dele vistas impacientes. Dir-se-ia que vacilava, entre continuar e retroceder; ou quiçá julgava-se transviado, e procurava afirmar-se no caminho para ele desconhecido.
        De chofre empinou-se o cavalo, arremessando o homem sobre a escarpa da barranca, donde rolou ao trilho, como um corpo inerte.

(Trecho do quinto capítulo do romance Til)
AZINHAGA: trilha, atalho.
BARROCAS: barrancos

25. O trecho “de um cavalo” – primeiro parágrafo – sintaticamente é
a) adjunto adnominal
b) adjunto adverbial
c) complemento nominal
d) predicativo do objeto
e) predicativo do sujeito

26. O termo “donde” – segundo parágrafo – é formado por
a) preposição + advérbio de lugar
b) preposição + conjunção adverbial de lugar
c) preposição + pronome relativo
d) pronome possessivo + advérbio de lugar
e) pronome possessivo + pronome relativo

27. O quarto parágrafo se limita às características da
a) argumentação
b) descrição
c) dissertação
d) fábula
e) narração

28. A palavra “meio”, no sexto parágrafo, morfologicamente é
a) adjetivo
b) advérbio
c) pronome
d) substantivo
e) verbo

29. O trecho “da bainha” – sexto parágrafo – é sintaticamente
a) adjunto adnominal
b) complemento nominal
c) objeto direto
d) objeto indireto
e) predicativo do sujeito

30. Os romances românticos não raramente se encerram com finais felizes. No caso de “Til”, de José de Alencar, que fato tipifica o ideal romântico da vitória do bem sobre o mal?
a) Berta se casa com Afonso.
b) Brás se casa com Linda.
c) Jão Fera abandona a jagunçagem para cuidar de Berta.
d) Miguel se casa com Berta.
e) Til perdoou e aceitou a paternidade de Luís Galvão.

   A estas últimas palavras, em que a voz da menina sombreara-se com uma entonação afetuosa, o corpo robusto do capanga oscilou com íntima e rija vibração, como o prócero ibiratã quando a seiva exuberante irrompe lascando-lhe o tronco. Na expansão violenta de sua alma, arrojava-se ele aos pés de Berta e ia cair-lhe de joelhos, quando um olhar embaciado e glacial o reteve ofegante e esmagado:
   – Agora creio em tudo no que me disseram, e no que se pode imaginar de mais horrível. Que assassines por paga a quem não te fez mal, que por vingança pratiques crueldades que espantam, eu concebo; és como a suçuarana, que às vezes mata para estancar a sede, e outras por desfastio entra na mangueira e estraçalha tudo. Mas que te vendas para assassinar o filho de teu benfeitor, daquele em cuja casa foste criado, o homem de quem recebeste o sustento; eis o que não se compreende; porque até as feras lembram-se do benefício que se lhes fez, e tem um faro para conhecerem o amigo que as salvou.
   – Também eu tenho, pois aprendi com elas; respondeu o bugre; e sei me sacrificar por aqueles que me querem. Não me torno, porém, escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava, como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro. Não foi por mim que ele fez isso; mas para mostrar ou por vergonha de enxotar de sua casa a um pobre diabo. A terra nos dá de comer a todos e ninguém se morre por ela.
   – Para ti, portanto, não há gratidão?
   – Não sei o que é; demais, Galvão já pôs-me quites dessa dívida da farinha que lhe comi. Estamos de contas justas! Acrescentou Jão Fera com um suspiro profundo. Assim não era por ele que eu o queria poupar; mas por outra pessoa.
   O capanga quis fitar na menina a pupila ardente; mas não teve forças de erguer o olhar, que pesava-lhe como uma trave e abatia-se no chão:
   – Foi por mecê, disse a voz submissa.

(Trecho do décimo quinto capítulo do romance Til)
DESFASTIO: Apetite, fome.
IBIRATÃ: Árvore de casca e folhas grossas.
PRÓCERO: Alto, gigantesco

31. Assinale a alternativa incorreta a respeito do trecho transcrito acima.
a) A terra alimenta o homem, mas não se alimenta de homens.
b) Jão Bugre entende que o pai de Luis Galvão não o criou como se cria um filho.
c) Jão Fera não queria matar Luís Galvão em consideração a Berta.
d) O capanga não sabe o que é gratidão; não reconhece uma dívida.
e) Segundo Jão Fera, o pai de Luís Galvão o criou para não trazer para si a imagem de homem mau que abandona à morte uma criança ou ampliar a fama de homem bom.

32. O “a” que inicia o primeiro parágrafo está no período por exigência do termo
a) afetuosa
b) entonação
c) irrompe
d) oscilou
e) sombreara-se

33. A palavra “glacial”, no fim do primeiro parágrafo, pode ser substituída sem prejuízo no sentido por
a) branco
b) distante
c) enorme
d) gelado
e) pesado

34. Berta se dirige a Jão Fera usando os verbos e os pronomes na segunda pessoa do singular. Isso deve ser considerado uma
a) característica típica dos romances indianistas de José de Alencar.
b) exibição do autor da própria capacidade literária.
c) idealização da personagem
d) preocupação literária do autor com a verossimilhança.
e) reprodução fiel de personagens semelhantes da mesma época, lugar e condição social.

35. O que o personagem Jão Fera afirma ter no início do terceiro parágrafo?
a) amigo
b) coragem
c) faro
d) gratidão
e) lembrança

36. O trecho “a um pobre diabo” – terceiro parágrafo – deve ser classificado sintaticamente como 
a) adjunto adnominal
b) complemento nominal
c) objeto direto
d) objeto direto preposicionado
e) predicativo do objeto direto

37. O termo “dessa dívida”, empregado no quinto parágrafo, sintaticamente deve ser considerado
a) adjunto adnominal
b) complemento nominal
c) objeto direto
d) objeto direto preposicionado
e) predicativo do objeto direto

38. O termo “quites” – quinto parágrafo – é sintaticamente
a) adjunto adnominal
b) complemento nominal
c) objeto direto
d) objeto direto preposicionado
e) predicativo do objeto direto

39. O sintagma “de sua alma”, usado no primeiro parágrafo, deve ser reconhecido sintaticamente como
a) adjunto adnominal
b) complemento nominal
c) objeto direto
d) objeto direto preposicionado
e) predicativo do objeto direto
 
   Entrava o Chico Tinguá, com a pichorra de café e as palanganas que deitou sobre a mesa, recostando-se depois ao portal da entrada, com a perna trançada e a mão no quadril.
   - Não ouviu falar no Aguiar, do Limoeiro, não?... Um fazendeiro, que o tal Bugre arrumou com duas facadas, há de andar por uns dois meses?
   - Tenho uma ideia, replicou o Gonçalo.
   - O negócio deu brado, porque o homem era rico e andava sempre com uma ruma de capangas. Mas Bugre fez-lhe as contas.
   - É um temível!
   - Marcado como ele só!
   - Nem por isso! observou o Pinta. Mas então é por causa dessa morte que os camaradas vêm prendê-lo?
   - O filho do Aguiar dá dois contos a quem filiar o meco.
   - Não digo que não!
   - Se quer entrar na festa?
   Relanceando um olhar ao Tinguá, que parecia cochilar encostado à ombreira da porta, respondeu o Gonçalo com frouxidão:
   - Nada; tenho obra mais fina.
   - Quem sabe se o senhor conhece o Bugre?
   - Pois que dúvida!
   - Será mesmo o durão que dizem?
   - É conforme. Eu cá não conto com ele.
   - Hum!...
   - O senhor bem podia nos dar alguma inculca do bicho?
   - Cá o amigo Chico é quem há de saber por onde anda o cujo. Oh! psiu!...
   - Nhô Pinta... Ah! Nhô Gonçalo! Acudiu o Tinguá querendo engolir as primeiras palavras escapadas.
   - Não sabe que rumo levou o Jão?
   - Tanto como mecê.
   - Ora, ande lá.
   - Ele aparece aqui, e arrancha tal e qual como os outros; não conta onde pousa; nem a gente indaga da vida alheia.
   - Pois tocava uma boa maquia a quem nos pusesse no rasto da onça. Cem bicos!
   Nesse momento um bacorinho de pelo ruivo, embestegava com um trote miúdo, mas ligeiro, pela cozinha, e atravessou toda a casa até a pousada, onde conversava a capangada. Aí começou a fossar nas pernas do Chico Tinguá, que, arrancando-se à balorda posição, desfechou no importuno animal um pontapé.
   - Arre, patife.
   Deu-se por advertido o bacorinho, que imediatamente enfiou outra vez pela venda e foi sair no quintal, onde pôs-se a grunhir com o focinho ao vento e os olhos na porta da cozinha.

(Trecho do vigésimo primeiro capítulo do romance Til)

40. O termo “palanganas” – primeiro parágrafo – pode ser substituído adequadamente por
a) calças largas habitualmente usadas por caçadores.
b) chapéus macios de aba larga.
c) espingardas apropriadas para caçadores de onça.
d) lascas de madeira usadas em fogão de lenha.
e) recipientes de barro ou metal, largos e pouco profundos, onde eram servidos os assados.
 
41. O verbo “arrumou”, no segundo parágrafo, tem o mesmo significado de
a) aleijou
b) ameaçou
c) feriu
d) cortou
e) matou
 
42. “há de andar por uns dois meses” é o mesmo que
a) Aguiar, o fazendeiro, só vai andar por mais dois meses.
b) está disposto a andar por cerca de dois meses perseguindo Jão Bugre?
c) faz dois meses que isso aconteceu.
d) Jão Fera não vai passar de mais dois meses vivo.
e) o fazendeiro está aleijado há dois meses.
 
43. Assinale a alternativa em que se encontra a melhor paráfrase para o quarto parágrafo do excerto.
a) A oferta de dois contos pela morte de Jão Fera existe porque o fazendeiro era rico e não falta quem queira vingar sua morte a fim de pagar suas contas.
b) Jão Bugre matou o fazendeiro e seus capangas e depois cobrou também pela morte dos guarda-costas.
c) Jão Fera conseguiu matar o fazendeiro, mas a notícia se alastrou porque Aguiar era rico e havia testemunhas.
d) O capanga recebeu dinheiro do fazendeiro para não matá-lo.
e) O negócio deu errado porque o fazendeiro andava sempre acompanhado de guarda-costas e tinha dinheiro para inverter o trato.
 
44. O emprego da palavra “onça”, no vigésimo quinto parágrafo, caracteriza a figura de linguagem denominada
a) anástrofe
b) comparação
c) hipérbato
d) metáfora
e) sínquise
 
45. A respeito do excerto acima, assinale a alternativa incorreta.
a) A expressão “filiar o meco”, do oitavo parágrafo, equivale a “amansar o mau sujeito”.
b) Bacorinho é o mesmo que porquinho, filhote de porco, leitão.
c) Gonçalo, Pinta, Nhô Gonçalo e Nhô Pinta são chamamentos diferentes para a mesma pessoa.
d) No vigésimo quinto parágrafo, o termo “bicos” é uma gíria – palavra própria do lugar e da época – que representa o valor de mil réis.
e) O período “não digo que não” – nono parágrafo – pode ser desenvolvido com o significado de “não duvido de que estejam aqui para vingar o assassinato do fazendeiro Aguiar”.
 
46. No vigésimo quinto parágrafo, o caçador, o rasto e a onça são três elementos comparativos dentro de uma mesma imagem. Que nome se dá a esse recurso literário?
a) alegoria
b) aliteração
c) assonância
d) catacrese
e) coliteração
 
47. A respeito das condições emocionais dos personagens do romance Til, assinale a alternativa incorreta.
a) Jão Bugre não tinha a quem amar a não ser Berta.
b) Luís Galvão se sente culpado pela morte de Besita.
c) Ermelinda perdoa o marido Luís Galvão por ter abusado de Besita.
d) Afonso Galvão ama Berta.
e) Berta ama Miguel, mas recusa esse amor em favor de sua irmã Linda.
 
48. Em todo o romance, Berta se dirige a Jão Fera usando os verbos e os pronomes na segunda pessoa do singular. Isso deve ser considerado uma
a) característica típica dos romances indianistas de José de Alencar.
b) idealização da personagem
c) exibição do autor da própria capacidade literária.
d) preocupação literária do autor com a verossimilhança.
e) reprodução fiel de personagens semelhantes da mesma época, lugar e condição social.
 
49. A respeito das relações entre os personagens do romance Til, assinale a alternativa incorreta.
a) Berta é filha de Luís Galvão e Besita; irmã de Afonso e Linda; salva a vida de Luís Galvão sem saber que ele é seu pai.
b) Brás é sobrinho de Luís Galvão, que é marido de Ermelinda, que perdoa o passado do esposo.
c) Nhá Tudinha é mãe de Miguel, que ama Berta, que ama Afonso.
d) Miguel se casa com Linda, que é irmã de Afonso, que não se casa com Berta.
e) Zana é escrava de Besita, que é casada com Ribeiro, que mata a esposa.
 
50. Considerando as obras “Viagens na minha terra”, do português Almeida Garrett e “Til”, do brasileiro José de Alencar, assinale a alternativa incorreta.
a) As ações dos dois romances se concentram distantes dos grandes centros urbanos, emoldurados pela natureza dos campos.
b) As duas obras são caracteristicamente românticas, pois as duas se deixam seduzir pelas idealizações.
c) Em Almeida Garrett, a protagonista é vitimada pelos seus sentimentos; em José de Alencar, a protagonista usa os sentimentos em favor do aperfeiçoamento da condição humana.
d) Joaninha, a protagonista de “Viagens na minha terra” é vitimada com a perda dos pais, com a cegueira da avó e com a recusa de Carlos ao seu amor; Berta, a protagonista de “Til”, goza de atenção e de carinhos de todas as pessoas que a rodeiam; do amor de Miguel e Afonso; da proteção incondicional de Jão Bugre e dedica sua vida às pessoas que mais precisam apoio.
e) Nas “Viagens na minha terra”, D. Dinis é levado pelos seus sentimentos a assassinar o marido e o cunhado de sua amante e, consequentemente, é abandonado pelo filho; Em “Til”, Ribeiro mata a esposa que inadvertidamente concebe uma filha de outro homem e, vingativamente, morre nas mãos de quem foi o amante de sua mulher.
 
51. Considerando as obras “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida e “Til”, de José de Alencar, assinale a alternativa incorreta.
a) José de Alencar defende sentimentos elevados, como o desejo de desenvolvimento pessoal e ascensão social – Miguel, Afonso e Linda transferem-se para São Paulo em busca de estudo e profissionalização; Manuel Antônio de Almeida descreve a apatia social das camadas sociais menos privilegiadas – Leonardo se tornou um sargento levado pelas circunstâncias e Luizinha se casou com quem lhe puseram no altar.
b) “Memórias de um sargento de milícias” é reconhecido como um romance romântico pré-realista, porque foi escrito e publicado dentro do período romântico, porém, com características realistas; “Til” é reconhecido como um romance romântico urbano, porque seus personagens não são indígenas, nem se estrutura em fatos históricos.
c) Nas duas obras, o narrador é onisciente: justifica-se pelo fato de lidarem relevantemente com os sentimentos de seus personagens.
d) Os protagonistas têm caracteres completamente opostos: Leonardo é irresponsável, descompromissado com a realidade de que participa; Berta se sente totalmente compromissada com as pessoas e os animais carentes, a ponto de dedicar sua vida a eles.
e) “Til” é um romance romântico típico, pois idealiza seus personagens em função dos ideais de justiça, igualdade e fraternidade; “Memórias de um sargento de milícias” é um romance romântico atípico, pois desidealiza seus personagens em função da cultura popular do Rio de Janeiro da primeira metade do século dezenove.

   Era pela volta das oito horas.
   Nhá Tudinha entrava e saía, andando de um lado para outro, na labutação do costume. Não por necessidade, que só por gênio vivia ela nessa contínua lida caseira desde que amanhecia até o escurecer.
   Tinha essa mulherzinha baixa e rolha tal prurido da pele que não podia estar um momento sossegada. Por força que se havia de ocupar alguma coisa; e para que lhe rendesse a tarefa, muitas vezes desfazia o que já estava pronto, a fim de ter o gosto de arranjar de novo.
   Nunca sentia-se tão feliz e contente como nos dias em que a apoquentavam de trabalho. Correr daqui para ali, revolver os cantos da casa, abrir e fechar portas, acudir da varanda à cozinha, e dar vazão a tudo; nisso consistia o seu maior prazer nesse mundo.
   Quem a visse naquela dobadoura da manhã à noite, ficaria admirado de seu ar lépido e agudo; pois decerto não se podia esperar semelhante volubilidade naquele corpo rechonchudo, com suas perninhas curtas e socadas.
   Achava-se então nhá Tudinha em uma de suas boas vezes. O São João estava à porta; e ela, que tinha, e com muita razão, o seu garbo de doceira afamada, por costume antigo se pusera na obrigação de mandar em dias de festa os mimos feitos por suas mãos, no que estava o chiste, às pessoas de amizade, cujo rol começava necessariamente pelo compadre Luís Galvão, padrinho de Miguel.
   Por isso já de véspera andava ela às voltas com o alguidar e o forno.
   Sentada na varanda sobre uma esteira e rodeada de todos os petrechos, estava mui atarefada a anaçar ovos e amassar fubá mimoso para fazer as broas saborosas e os bolos de milho que ninguém preparava como ela.
   Ajudava-a neste mister a Fausta, preta de meia-idade. Eram, essa escrava e a casinha, os restos da abastança de que outrora gozara em vida de seu finado marido, Eugênio de Figueiredo, companheiro e amigo de Luís Galvão. Más colheitas e juros enormes, tinham consumido os modestos haveres.

(Trecho do vigésimo terceiro capítulo do romance Til)
ALGUIDAR: vaso de barro ou metal, cujo diâmetro da borda é bem maior que o do fundo.

52. Aponte os parágrafos em que se verifica o comportamento característico de uma mulher preparada genética e culturalmente para ser exclusivamente uma serviçal doméstica, comportamento bastante comum antes dos movimentos feministas que se desdobraram a partir da metade do século vinte.
a) primeiro, segundo e terceiro parágrafos.
b) quarto, quinto e sexto parágrafos.
c) quinto, sexto e sétimo parágrafos.
d) segundo, terceiro e quarto parágrafos.
e) terceiro, quarto e quinto parágrafos.
 
53. A palavra “rolha”, no terceiro parágrafo, é metáfora de corpo
a) alto, magro e retilíneo.
b) baixo de pernas e braços curtos.
c) carente de vaidades.
d) esguio, porém desprovido de sensualidade.
e) reto, sem variações circunferenciais acentuadas.
 
54. Considerando o quarto parágrafo e a legislação gramatical em vigência, há incorreção
a) na sequência “nos dias em que”, pois a preposição “em” está sem função entre o pronome relativo “que” e seu antecedente “dias”.
b) na utilização do pronome demonstrativo “nesse”, no adjunto adverbial “nesse mundo”. O narrador deveria ter utilizado o pronome “neste”, pois não vivem em mundos diferentes.
c) no emprego do verbo “revolver”, já que ninguém literalmente “revolve” os espaços – “cantos” – de uma casa.
d) no trecho “nunca sentia-se”, pois as palavras de sentido negativo – “nunca” – atraem os pronomes átonos para formarem próclise.
e) no uso das palavras “feliz” e “contente” na mesma circunstância, porque essas duas palavras ostentam o mesmo significado.
 
55. A expressão “dar vazão a tudo” – quarto parágrafo – significa
a) concluir todos os serviços
b) conduzir todas as tarefas
c) fazer as entregas dos doces e biscoitos encomendados
d) não deixar águas paradas nos tanques
e) não desapontar as pessoas que a apoquentavam de trabalho
 
56. A palavra “anaçar” – oitavo parágrafo – pode ser substituída adequadamente por
a) buscar
b) colher
c) misturar
d) procurar
e) selecionar
 
57. A respeito do excerto acima, assinale a alternativa incorreta.
a) A condição estética de Nhá Tudinha é avaliada no quinto parágrafo.
b) Inclui-se na descrição do segundo parágrafo uma condição genética de Nhá Tudinha.
c) Nhá Tudinha conseguia alguma notoriedade nos dias de festa, quando podia reafirmar suas habilidades na produção de doces.
d) O quarto parágrafo se refere à condição feminina da personagem.
e) Um fator da condição fisiológica da personagem é evidenciado no terceiro parágrafo.
 
58. O termo “chiste” pode ser substituído adequadamente por
a) elegância
b) graça
c) indiscutível
d) nobreza
e) triunfo
 
59. No início do sexto parágrafo, no período “Achava-se então nhá Tudinha em uma de suas boas vezes”, o trecho “em uma de suas boas vezes” de ser lido como
a) adjunto adverbial de lugar
b) adjunto adverbial de tempo
c) objeto indireto
d) oração subordinada adverbial de lugar
e) oração subordinada adverbial de modo
 
   Trabalhava a enjeitadinha com toda a meiguice para aplicar às letras o boto engenho daquele órfão, ainda mais que ela desamparado da fortuna. Vão esforço, em que, não obstante, porfiava com uma perseverança incrível naqueles tenros anos e em tão humilde condição.

(Trecho do vigésimo sexto capítulo de Til, de José de Alencar)

60. O narrador se refere a Berta com o adjetivo “enjeitadinha”
a) lembrando-nos de ter sido, a menina, enjeitada pelo pai, Luís Galvão.
b) lembrando-nos de ter sido, ela, enjeitada pelo pai, Ribeiro.
c) para acrescentar que Til não tinha sido exatamente enjeitada, já que Barroso não era o pai dela.
d) para reforçar a condição segundo a qual Berta fora rejeitada por várias pessoas e muitas vezes.
e) para ressaltar que Til não tinha sido de fato enjeitada, pois Jão Fera a protegia como se fosse filha.
 
61. A respeito do trecho acima, assinale a alternativa incorreta.
a) A oração “para aplicar às letras o boto engenho daquele órfão” deve ser classificada como subordinada adverbial final.
b) O segmento “o boto engenho” deve ser compreendido sintaticamente como objeto indireto do verbo “aplicar”.
c) O sintagma “com toda a meiguice” é uma locução adverbial de modo.
d) O termo “boto” está empregado como antônimo de polido, perspicaz, aguçado.
e) O trecho “daquele órfão” classifica-se como adjunto adnominal.
 
   Nisso o Brás pulando como um boneco de engonço, passava a ponta do dedo mui de leve pelas sobrancelhas negras de Berta, por seus lábios finos, pela conchinha mimosa da orelha; e, apontando alternadamente para o til na carta do abecê, repinicava as risadas e os corcovos.
   Iluminou-se de súbito o coração de Berta. A impressão estranha que no idiota produzira aquele insignificante objeto, e cuja causa escapava à sua compreensão, não era a trepidação de um raio, tênue embora, de inteligência, que filtrava daquele cérebro denso como o frouxo bruxuleio de uma estrela através do nevoeiro?
   A camada profunda que soterrava o espírito do Brás, tinha um interstício por onde coava-se alguma chispa, que rareava as trevas carregadas dessa noite sem manhã. E por singular coincidência o primeiro balbucio da inteligência bota se dirigia a ela, como o primeiro vagido da criancinha no berço chama pela mãe.
   Ninguém sabe o que passou então no íntimo de Berta, que tinha suas venetas, e de quem se referiam casos que a gente velha do lugar, e especialmente as pretas da fazenda, atribuíam a uma influência misteriosa e sobrenatural.
   Associando-se a lembrança original do idiota, disse-lhe a menina, ajudando a palavra com mímica expressiva e apontando para a carta.
   - Eu sou til!
   Esteve Brás um instante pasmo e boquiaberto, sem compreender, apesar da ânsia com que afinal bateu palmas de contente e deitou a pular, regougando a sua parva risada.
   - Eh!... eh!... eh!... Berta, umh!... Berta, umh!...
   Daí em diante aquele sinal, que para o idiota era símbolo de graça, da gentileza e do prazer, tornou-se a imagem de Berta, e não se cansava Brás de o repetir, não por palavras, mas por acenos com os meneios mais extravagantes.
   Dias depois, chamando-a ele pelo nome, a menina respondeu-lhe:
   - Não me chamo mais Berta; meu nome agora é Til.

(Trecho do vigésimo sexto capítulo de Til, de José de Alencar)

62. Neste trecho, a palavra “carta” é usada como sinônimo de
a) documento
b) epístola
c) habilitação
d) mapa
e) tabela
 
63. A respeito do trecho acima, assinale a alternativa incorreta.
a) Berta passou a se chamar Til a fim de que Brás pudesse ver no símbolo propriedades da menina e atribuísse ao conjunto delas o mesmo nome.
b) Brás identificava as curvas do sinal diacrítico til nas orelhas, nos lábios e nas sobrancelhas de Berta.
c) O período “Iluminou-se de súbito o coração de Berta” expressa uma alegoria para “a boa vontade de Berta repentinamente se encheu de esperança”.
d) Os habitantes mais velhos da fazenda desmitificavam as capacidades e os comportamentos menos comuns de Berta.
e) O termo “que”, empregado na oração “que no idiota produzira aquele insignificante objeto”, é objeto direto do verbo “produzira”.
 
   Assim em torno dela, que era o til, Berta foi engenhosamente agrupando todas as letras do alfabeto, com os nomes das pessoas e objetos que a cercavam. Pondo em jogo as broncas paixões do idiota, e colhendo os rudes germes de ideia que se formavam em seu bestunto, obteve ela afinal transformar a carta do abecê em uma família, em um mundo, para a existência enfezada dessa mísera criatura.
   Ao cabo de um mês, conhecia Brás todo o abecedário. Que inauditos esforços de paciência, que sublimes intuições não foram necessárias para vencer esse impossível!
   Só Berta o poderia conseguir. A fascinação que exercia sobre o idiota era uma sorte de encanto e magia. Sua vontade movia aquele corpo, como se fosse o espírito que o animava. Brás sentia e pensava unicamente pela alma dela, que lhe transmitia as impressões no olhar carinhoso, na voz suave, no sorriso fagueiro.

(Trecho do vigésimo sexto capítulo de Til, de José de Alencar)

64. Assinale a alternativa incorreta, a respeito do trecho acima.
a) A expressão “broncas” está empregada como antônimo de civilizadas, polidas, apuradas.
b) A palavra “abecedário” se forma com a junção das quatro primeiras letras da língua portuguesa.
c) O adjetivo “inauditos” aparece como sinônimo de frequentes, comuns, abundantes.
d) O termo “bestunto” pode ser entendido como núcleo do cérebro.
e) O vocábulo “alfabeto” se forma com a junção das duas primeiras letras da língua grega.
 
65. Assinale a alternativa incorreta, considerando as personagens Berta (Til, José de Alencar), Joaninha (Viagens na minha terra, Almeida Garrett) e Luizinha (Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida).
a) Joaninha é mais idealizada que Luizinha
b) Joaninha é menos idealizada que Berta.
c) Luizinha é mais idealizada que Berta.
d) Luizinha é menos idealizada que Joaninha.
e) Luizinha é menos idealizada que Berta.
 
   Naquela manhã Jão Fera saíra das brenhas, onde se acoitava, à mesma hora em que Berta chegava à tapera para ver Zana.
   Vinha o capanga sombrio e torvo mais que de ordinário, porém sobretudo absorto em funda cogitação, e tão alheio de si, que não se apercebia do lugar por onde passava, nem dos objetos que o cercavam.
   Devia ser poderosa a preocupação que assim o demovia da habitual desconfiança, bem como das precauções, indispensáveis na sua condição de foragido e reclamadas pela perseguição de que era alvo.
   Assim não ouviu ele um ruído subterrâneo que ressoou-lhe embaixo dos pés; ou, se ouviu, não fez reparo, atribuindo a algum animal, que estivesse a abrir a toca.
   Era o Brás, o qual antes de aproximar-se da tapera, onde encontrara Berta, ali andava cavando com a pá, achada no esqueleto de um burro, a terra que tirava com as mãos e o chapéu.
   Havia nesse lugar uma pequena estiva, feita sobre um socavão pelos antigos moradores do sítio, para serventia da roça. Com a ruína da casa, desapareceram as plantações, e do caminho só restava aquele carreiro e o aterro que aí tinham posto.
   Aproveitando-se da configuração do terreno, gizara Brás com instinto perverso aluir as ribanceiras do grotão, para que faltando apoio às extremidades da estiva, um dia abatesse ela com o peso de Jão Fera, que rolaria pelo barranco abaixo.

(Trecho do vigésimo oitavo capítulo do romance Til, de José de Alencar)
ALUIR: tirar a firmeza de; amolecer; abalar; sacudir, minar.
ESTIVA: grade de madeira que cobre o chão para proteger a colheita, que nela assenta, da umidade.
GROTÃO: depressão muito grande do solo; socavão.
RIBANCEIRAS: beiradas; barrancos.
SOCAVÃO: cavidade ou escavação na terra; grotão.

66. Aponte a alternativa incorreta a respeito do trecho “Vinha o capanga sombrio e torvo mais que de ordinário, porém sobretudo absorto em funda cogitação”.
a) “vinha sombrio e torvo” é predicado verbo nominal, porque “vinha” é verbo intransitivo e “sombrio e torvo” são predicativos do sujeito.
b) “mais que de ordinário” é oração subordinada adverbial comparativa.
c) “porém sobretudo absorto em funda cogitação” é oração coordenada sindética adversativa.
d) “vinha o capanga sombrio e torvo” é oração principal da segunda oração e oração coordenada assindética da terceira.
e) “em funda cogitação” é adjunto adnominal.
 
67. A respeito da participação de Brás no excerto acima, assinale a alternativa incorreta.
a) Havia um aterro sobre a estiva.
b) Brás retirava com as mãos e o chapéu parte da terra que se amontoava sobre a estiva.
c) Jão Fera era o alvo de Brás.
d) O objetivo de Brás era fragilizar as beiradas do grotão abaixo da estiva e transformá-la em armadilha.
e) Brás cavava com uma pá de osso.
 
68. No último parágrafo do excerto, o termo “gizara” pode ser substituído, sem prejuízo de sentido, por
a) arrancara
b) cavara
c) planejara
d) prometera
e) tentara
 
69. A respeito do excerto acima e de todo o romance Til, de José de Alencar, assinale a alternativa incorreta.
a) A escrava mora na casa onde morreu Besita.
b) A “ruína da casa” é uma referência à morte de Besita, à orfandade de Berta e ao desaparecimento de Ribeiro.
c) Brás assiste à visita de Berta a Zana e por fim se atira contra a escrava tentando sufocá-la.
d) Jão Fera não ficou para assistir à visita de Berta a Zana, porque não queria ser visto pela menina, estava envergonhado por ter tentando matar Luís Galvão.
e) Zana enlouquecera como consequência dos golpes violentos de Brás.
 
   Nos três dias que decorreram desde então, debalde engendrou Jão Fera meios de obter a soma precisa. Frustraram-se todas as esperanças, uma após a outra.
   Jogou e perdeu os magros cobres que tinha. Alguns ajustes entabulados falharam: porque o genro que desejava aliviar-se do sogro, e o cafelista a quem azoinava um vizinho resinguento, tinham resolvido esperar pela mudança da política, para com mais segurança aviarem esse negócio.
   Um tigre que descera do sertão destruía o gado de uma fazenda próxima, cujo dono prometera boa recompensa a quem o matasse. Botou-se para lá o capanga; mas já a onça acossada por outros caçadores se havia retirado.
   Afora estes, não imaginava Jão Fera outros meios de ganhar dinheiro sem humilhação. O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível de escravo. Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo, e se apurava nesse homem, cujo espírito de sobranceira independência havia robustecido a luta que travara contra a sociedade.
   Era a enxada para ele um instrumento vil; o machado e a foice ainda concebia que os pudesse empunhar a mão do homem livre; mas em seu próprio serviço, para abater o esteio da choça ou abrir caminho através da floresta.

(Trecho do vigésimo nono capítulo de Til, de José de Alencar)

70. A respeito do período “O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível de escravo”, assinale a alternativa incorreta.
a) O pronome “o”, da primeira oração, é objeto direto pleonástico.
b) “como vergonha” é objeto indireto do verbo “tinha”.
c) O verbo “poria” está flexionado no tempo futuro do pretérito do modo indicativo.
d) “o trabalho” é sujeito do verbo “poria”.
e) O pronome “o”, da segunda oração, é complemento verbal.

71. Consideração a relação de Berta com Brás, aponte a alternativa incorreta.
a) Berta tomou para si a tarefa de alfabetizar Brás.
b) O menino tinha sérias dificuldades para compreender e expressar suas compreensões e, por isso, Berta o castigava frequentemente.
c) Berta percebeu que Brás conseguia memorizar um substantivo e até pronunciá-lo se esse substantivo estivesse ligado a uma imagem mais ampla, mais complexa.
d) Brás era capaz de guardar o nome de uma pessoa e usá-lo porque uma pessoa tem imagem, som, cheiro; mas não conseguia guardar o nome de uma letra porque uma letra é uma coisa mínima, “que não tem onde se lhe pegue”.
e) Berta passou a associar as letras a pessoas ou animais ou objetos. Começou dando a si mesma o nome “til”, o nome do sinal de nasalização que impressionava Brás, com suas curvas.
 
   Nesse tempo servia de camarada a Luís Galvão um rapaz de pouco menos idade, que o acompanhava constantemente em passeios e viagens. Era Jão, a quem os outros se tinham habituado a chamar de Bugre, pela tez bronzeada, que distinguia aquela raça indígena.
   Esse rapaz fora criado nos Pilões, antiga fazenda de Afonso Galvão, pai de Luís; e aí viera ter de um modo singular e misterioso.
   Um dia, no mais ardente da calma, quando os enxadeiros descansam na roça à sombra das árvores esperando o jantar, e o resto da gente recolhe às habitações, acaso chegando o velho fazendeiro à janela viu parado no terreiro deserto um sendeiro sobre o qual se encarapitava uma figurinha que à primeira vista pareceu-lhe um macaco.
   Logo, porém, reconheceu que era uma criança, de pouco mais de um ano. Apesar do natural pacato do rocim, causava espanto que o pequerrucho se pudesse conservar em cima dele, escanchado na cernelha e agarrado às crinas.
   - Que quer você, pirralho? perguntou o velho Galvão.
   Volveu a criança para o fazendeiro uns olhos negros como carbúnculos, e ficou a mirá-lo com o ingênuo pasmo da infância. Como se verificou depois, o menino não falava ainda, talvez por ser tarde nele o desenvolvimento dessa faculdade.
   Nunca se pode saber donde saíra aquela criança; como chegara até o terreiro sem darem por ela; se viera só ou alguém a trouxera. Também foram inúteis as pesquisas que se fizeram para descobrir os pais, ou ao menos algum indício de quem poderiam ser.
   Como de costume, apareceram várias conjeturas e invenções, cada qual mais engenhosa. Uma velha, muito versada no Novo Testamento, afirmou que esse menino era o Anticristo e o sendeiro a própria besta do Apocalipse, descrita por São João. Outra jurava ser o caçula do diabo cocho que se metera na pele do bugrezinho, e andava fazendo estrepolias pelo mundo.
   À parte essas e outras caraminholas de que os visionários encheram a cabeça da gente ignorante, correu entre as pessoas sisudas uma versão, que ninguém soube donde proveio, e naturalmente formou-se de uma misteriosa agregação de circunstâncias, como sucede sempre às rapsódias populares.
   Houvera grande cheia no rio. Uma família de gente pobre ia passar o vau, que faltou-lhes. A mulher sumiu-se, o marido correu a salvá-la, desapareceram ambos arrebatados pela correnteza, ou tragados por algum perau. Então o sendeiro, que levava o menino, e cujo cabresto soltara o infeliz pai no impulso de salvar a companheira, recuou, e seguindo pela margem foi ter à fazenda. A tronqueira estava aberta naturalmente; e assim pode chegar ao terreiro, onde o descobriram.

(Trecho do primeiro capítulo do segundo volume do romance Til, de José de Alencar)
PACATO – Mansidão, tranquilidade, paciência.
PERAU – Declive que dá para um rio ou arroio; lugar íngreme, escarpado; precipício.
ROCIM – Cavalo de pequena estatura, rocinante.
VAU – Local raso de um rio, mar ou lagoa, por onde se pode passar a pé ou a cavalo.

72. VOCABULÁRIO. Encontre a alternativa incorreta.
a) carbúnculo: carvãozão, pedaço grande de carvão.
b) rapsódias: lendas, mitos, crenças.
c) sendeiro: cavalo pequeno, mas robusto e forte.
d) tez: pele, cútis, epiderme.
e) tronqueira: porteira, cancela.
 
73. COESÃO. O advérbio “aí”, da frase “e aí viera ter de um modo singular e misterioso”, do segundo parágrafo, aponta para
a) Afonso Galvão
b) Luís
c) Pilões
d) raça indígena
e) tez bronzeada
 
74. ANÁLISE SINTÁTICA. “Esse rapaz fora criado nos Pilões” – início do segundo parágrafo. Assinale a afirmação incorreta.
a) Essa oração na voz ativa: Criaram esse rapaz nos Pilões.
b) A oração está na voz passiva.
c) “Esse rapaz” é sujeito paciente.
d) Na voz ativa, o sujeito é indeterminado.
e) O agente da voz passiva é “Esse rapaz”.
 
75. O trecho “sem darem por ela”, no sétimo parágrafo, é exemplo de LINGUAGEM
a) coloquial
b) culta
c) erudita
d) popular
e) sofisticada
 
76. Em “olhos negros como carbúnculos” – sexto parágrafo – temos
a) catacrese
b) comparação
c) metáfora
d) metonímia
e) quiasmo
 
77. No período “A mulher sumiu-se, o marido correu a salvá-la, desapareceram ambos arrebatados pela correnteza, ou tragados por algum perau”, no último parágrafo do excerto, temos a ocorrência de uma ênclise, quando o pronome pessoal “a”, que representa o nome “mulher”, está posposto ao verbo “salvar”: “salvá-la”. Baseado neste esclarecimento, responda: a ênclise é
a) uma figura de linguagem
b) um recurso de estilo
c) uma função da linguagem
d) um vício de linguagem
e) uma norma gramatical
 
78. “Volveu a criança para o fazendeiro uns olhos negros como carbúnculos” – sexto parágrafo. Nesta oração, temos a ocorrência de uma figura de linguagem chamada hipérbato, ou seja, os termos da oração não estão em seus lugares apropriados, estão em ordem indireta. Como ficaria esta oração em ordem direta?
a) A criança volveu para o fazendeiro uns olhos negros como carbúnculos.
b) O fazendeiro volveu para a criança uns olhos negros como carbúnculos.
c) Uns olhos negros como carbúnculos a criança volveu para o fazendeiro.
d) A criança volveu uns olhos negros como carbúnculos para o fazendeiro.
e) O fazendeiro volveu uns olhos negros como carbúnculos para a criança.
 
79. Há uma incorreção gramatical na frase “Uma família de gente pobre ia passar o vau, que faltou-lhes”, no último parágrafo. Aponte a alternativa em que se encontra a verificação dessa incorreção.
a) O autor devia ter usado “passaria” em lugar de “ia passar”, pois dois verbos neste caso são desnecessários.
b) O oblíquo “lhes” devia estar no singular, porque se refere à família.
c) A vírgula está empregada incorretamente, porque a oração seguinte é adjetiva restritiva.
d) O pronome “lhes” devia estar antes do verbo “faltou”, porque os pronomes relativos atraem para si os pronomes átonos.
e) O termo “pobre” devia estar associado à família e não à gente, pois é a família que é pobre.
 
80. Na frase “Uma família de gente pobre ia passar o vau, que faltou-lhes”, no último parágrafo, temos uma discordância, porque não há nenhum nome no plural para concordar com o pronome pessoal “lhes”. Essa discordância, no entanto, é aceitável, porque o pronome “lhes” se refere aos membros da família. Como se chama a figura de linguagem que se caracteriza com esse tipo de discordância?
a) silepse de gênero
b) anacoluto
c) silepse de número
d) sínquise
e) silepse de pessoa
 
81. O termo “rapsódia”, usado no penúltimo parágrafo, significa enredamento de lendas, mitos, crendices, provérbios, costumes, tradições, alegorias, fantasias, superstições, fábulas, parábolas. A obra “Macunaíma”, do escritor modernista Mário de Andrade, apresenta-se na literatura brasileira mais como rapsódia que romance. Por que o livro “Macunaíma” deve ser lido como uma rapsódia?
 
   Não havendo por perto ourives capaz de lavrar os emblemas, mandou Besita o Bugre a Itu, a fim de os encomendar. Com repugnância, e um inexplicável constrangimento, ausentou-se Jão por alguns dias dessa casa onde vivia quanto amava neste mundo e sobre a qual velava como um cão fiel e dedicado.
   Foi isto em uma terça-feira. Na quinta seriam oito horas da manhã, e Besita fazia saltar sobre os joelhos o seu lindo bebê, sentada na alcova, com uma rótula aberta a meio. Eis que derramando a vista pelo arvoredo, ficou transida, como se lhe surgisse em face um espectro.
   Enxergara o rosto de Ribeiro, que se ocultou entre a folhagem. Seria apenas uma alucinação de seu espírito, ou a tremenda realidade, cuja ideia tantas vezes a enchera de terror, nas longas noites não dormidas?
   A tremer chamou a preta, que estava na cozinha cuidando do almoço:
   - Meu marido, Zana!
   Aterrou-se a ama, ouvindo da senhora os pormenores da aparição, que anunciava tamanhas desgraças; e esteve algum tempo a espiar por entre a rótula a ver se lobrigava ainda o vulto do Ribeiro, mas nada viu.
   Acudiu-lhe então uma lembrança engenhosa, com a qual esperou e por entre a rótula quase cerrada, não podia o Ribeiro distinguir o semblante da criança. Tomou-a Zana dos braços desfalecidos da senhora, e levando-a a seu cubículo, tisnou-lhe o corpo de carvão.
   Feito isto arranjou outra vez as fraldas e a touca; e saiu ao terreiro para acalentar a criança, andando de uma para outra banda, e entoando a costumada cantiga, mas então alterada por esta forma:
 
    Cala a boca, anda, negrinha,
        Ai-uê-lêlê!
    Senão olha canhambola,

        Ai-uê-lêlê!
    Vem cá mesmo Pai Surrão
    Toma, papa este tição.

   Compreendeu Besita o ardil da preta, e no desamparo em que se achava, confiou nessa frágil esperança.

(Trecho do terceiro capítulo do segundo volume do romance “Til”)
CANHAMBOLA – Escravo fugido para o quilombo; quilombola.
LOBRIGAVA – Avistava, enxergava, distinguia.
RÓTULA – osso localizado entre a tíbia e o fêmur; patela; rodela do joelho.

82. A respeito do excerto acima, assinale a alternativa incorreta.
a) A cantiga entoada por Zana se compõe de versos redondilhos menores e maiores.
b) Besita se lembrou de um engodo e então fez com que Zana tentasse enganar Ribeiro.
c) No último verso da cantiga, Zana zomba da própria cor.
d) “Pai Surrão”, presente na cantiga, é personagem mitológico.
e) Zana tentou enganar Ribeiro, tingindo o corpo de Berta com carvão, a fim de passá-la por sua parenta.
 
83. O termo “tição”, no último verso da cantiga, é exemplo da figura de linguagem denominada
a) comparação
b) metáfora
c) onomatopeia
d) prosopopeia
e) sinestesia

84. Na oração “mandou Besita o Bugre a Itu”, temos um caso de
a) anacoluto
b) hipérbato
c) anástrofe
d) sínquise
e) apóstrofe
 
85. Que figura de linguagem podemos identificar no período “Eis que derramando a vista pelo arvoredo” – segundo parágrafo.
a) antítese
b) catacrese
c) eufemismo
d) metáfora
e) metonímia
 
86. A palavra “ardil”, no último parágrafo, pode ser substituída adequadamente por
a) artifício
b) demora
c) inocência
d) irritação
e) ódio
 
87. ANÁLISE MORFOLÓGICA. Considerando a frase “ausentou-se Jão por alguns dias dessa casa onde vivia quanto amava neste mundo”, do primeiro parágrafo, aponte a alternativa incorreta.
a) “dessa” é fusão da preposição “de” – regida pelo verbo “ausentou” – com o pronome demonstrativo “essa”.
b) “neste” é contração da preposição “em” com o pronome demonstrativo “este”.
c) “onde” é advérbio de lugar.
d) “quanto” é pronome relativo; o antecedente “tudo” está elipsado.
e) “se” é pronome pessoal reflexivo.
 
88. ANÁLISE SINTÁTICA. Considerando a frase “ausentou-se Jão por alguns dias dessa casa onde vivia quanto amava neste mundo”, do primeiro parágrafo, encontre a alternativa incorreta.
a) “dessa casa” é objeto indireto.
b) “onde vivia” é oração principal de “quanto amava neste mundo”.
c) “neste mundo” é adjunto adverbial de lugar.
d) “onde vivia” é oração subordinada adjetiva restritiva.
e) “quanto amava neste mundo” é oração subordinada adjetiva explicativa.
 
89. ANÁLISE SINTÁTICA. Identifique a alternativa incorreta. Na frase “Foi isto em uma terça-feira”, início do segundo parágrafo,
a) “foi em uma terça feira” é predicado nominal.
b) “em uma terça-feira” é adjunto adnominal de tempo.
c) “foi” equivale a “aconteceu”.
d) “isto” é sujeito.
e) “Foi” é verbo intransitivo.

2ª Parte – Capítulo VI – A RESTITUIÇÃO.
 
            Ao cabo de quinze anos voltara o Ribeiro a São Paulo. Não se animaria, contudo, se os anos, e mais ainda uma irrupção no rosto, não lhe tivessem alterado completamente as feições. Em Portugal o chamavam de Barroso, apelido que substituiu ao seu para maior segurança.
            Já estava há meses na província, quando resolveu ir a Santa Bárbara. Com a vista daqueles lugares acendeu-se o ódio sopitado; um pensamento de serôdia vingança despontou em seu espírito e medrou.
            Ouvira falar do Chico Tinguá como inculca de um sujeito que se incumbia, mediante boa espórtula, de arranjar esses negócios. Tocou no ponto ao vendeiro; este expediu o bacorinho a Jão Fera, que não tardou no rancho, onde se fechara o ajuste, mediante o sinal de vinte patacões.
            Nenhum dos dois reconhecera o outro. Jão poucas vezes antes da morte de Besita vira o Ribeiro, e este nunca reparara no capanga, que raro tinha encontrado e de passagem em casa da noiva. Acrescia a mudança operada pela idade e outras circunstâncias.
            Todavia notou Jão que esse homem lhe inspirava profunda aversão; e cada vez que o avistava tinha ímpetos de puxar briga com ele e matá-lo. Na Ave-Maria especialmente, no dia da tocaia, a não ser o urutu que espantou o cavalo, o Ribeiro cairia com o coração traspassado.
            Ao vê-lo passar, na volta do caminho, entre os claros da folhagem, teve o capanga uma espécie de visão; pareceu desenhar-se a seus olhos a mesma face fouveira de raiva e terror, que rápida perpassara diante dele na tarde do assassinato de Besita, mas ficara para sempre estampada em sua reminiscência.
            De seu lado o Ribeiro, embora não tivesse a menor suspeita do homem com quem lidava, não podia eximir-se de um involuntário confrangimento, quando se aproximava de Jão Fera. E se este carregava sobre ele o duro olhar, corria-lhe pela medula um frio glacial.

(Trecho inicial do sexto capítulo da segunda parte do romance Til)
BACORINHO – Porco pequeno, leitão.
CONFRANGIMENTO – Tensão, contração, aperto, compressão, retesamento.
ESPÓRTULA – Gratificação, pagamento.
FOUVEIRA – Ruiva.
INCULCA – Que tem informações, que sabe do assunto.
PATAÇÕES – Moedas.
SERÔDIO – Que ocorre fora do tempo, tardio, extemporâneo.
SOPITADO – Que caiu em sonolência, semiadormecido, que se acalmou, abrandado.

90. Ribeiro volta de Portugal para São Paulo depois de 15 anos. Estivera fora do Brasil porque
a) dependia de tratamentos mais avançados na Europa contra a sua tuberculose.
b) seu pai falecera e lhe deixara fortuna em Portugal.
c) matara sua esposa Besita e fugia.
d) seu pai o havia enviado a Portugal a fim de estudasse e voltasse formado.
e) resolvera construir sua vida com Besita noutro país.
 
91. O “ódio” a que se refere o narrador, no segundo parágrafo do excerto, reanimava um desejo de vingança do Ribeiro (ou Barroso) contra
a) D. Hermelinda.
b) Berta.
c) Jão Fera.
d) Besita.
e) Luís Galvão.
 
92. A palavra “medrou”, do fim do segundo parágrafo, pode ser substituída adequadamente por
a) acuou
b) receou
c) cresceu
d) recuou
e) temeu
 
93. Identifique a alternativa incorreta quanto ao excerto.
a) Barroso voltou de Portugal fisionomicamente modificado.
b) A “noiva” do quarto parágrafo é Besita.
c) Chico Tinguá é o vendeiro que tem acesso a Jão Fera e consegue chamá-lo por meio de um porquinho.
d) “Ave-Maria” – quinto parágrafo – é um trecho de estrada estreito, tortuoso e encoberto onde já aconteceram várias tocaias e mortes.
e) O complemento verbal “esses negócios”, no terceiro parágrafo, refere-se à compra e venda de sítios e fazendas.
 
94. Na oração “corria-lhe pela medula um frio glacial”, no fim do excerto, José de Alencar usa uma figura de linguagem, uma das mais usadas no romantismo. De qual figura se trata?
a) aliteração
b) catacrese
c) epístrofe
d) hipérbole
e) metonímia
 
95. ANÁLISE MORFOLÓGICA. “E se este carregava sobre ele o duro olhar, corria-lhe pela medula um frio glacial” – último parágrafo. Assinale a alternativa incorreta.
a) “este” é pronome demonstrativo.
b) “frio” é adjetivo.
c) “lhe” é pronome possessivo.
d) “se” é conjunção condicional.
e) “sobre” é preposição.

2ª Parte – Capítulo VI – A RESTITUIÇÃO.

            ...voltava ele acompanhado pelo Pinta, quando inesperadamente saiu-lhe ao encontro, de dentro do mato, Jão Fera.
            O Barroso vacilou na sela; e o Gonçalo Suçuarana ficou ainda mais rajado, com a palidez que lhe afulou o semblante. Todavia não fizera o Bugre o menor gesto de ameaça; apenas lhes tomara a frente, postando-se no meio do caminho.
            - É hoje véspera de São João. Seu dinheiro aqui está; não lhe devo mais nada.
            Estas palavras foram ditas pelo capanga na sua voz arrastada e mansa, estendendo ao Barroso um maço de notas, que ele recebeu maquinalmente com a mão bamba.
            - Agora passe bem. Havemos de encontrar-nos! continuou o Bugre, cujo olhar despediu uma chispa.
            E desapareceu.

(Trecho final do sexto capítulo da segunda parte do romance Til)
AFULOU – Inflamou, exasperou.
CHISPA – Fagulha, faísca.

96. Considerando o excerto e a obra de José de Alencar, aponte a alternativa incorreta.
a) Bugre e Jão Fera são a mesma pessoa; um matador profissional criado pelo pai de Luís Galvão.
b) Havia um trato segundo o qual Jão Fera mataria Luís Galvão na festa de São João.
c) Jão Fera conseguiu o dinheiro que devolveu ao Barroso abrindo um roçado para um casal de velhinhos.
d) O “maço de notas” somava quarenta mil réis.
e) Pinta e Gonçalo Suçuarana são a mesma pessoa; um jagunço que não se conformava de ser menos temido que Jão Fera.
 
97. ANÁLISE SINTÁTICA. “Estas palavras foram ditas pelo capanga na sua voz arrastada e mansa, estendendo ao Barroso um maço de notas, que ele recebeu maquinalmente com a mão bamba” – quarto parágrafo. Aponte a alternativa incorreta.
a) “ao Barroso” é objeto indireto.
b) “com a mão bamba” é adjunto adverbial de instrumento.
c) “Estas palavras” é sujeito paciente.
d) “pelo capanga” é agente da voz passiva.
e) “um maço de notas” é objeto direto.
 
98. O vocábulo “todavia”, no segundo parágrafo do excerto, deve ser lido como conjunção
a) adversativa
b) conformativa
c) final
d) consecutiva
e) proporcional