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27. DISSERTAÇÃO

O avanço da dengue

            São inquietantes os números da dengue em 2015. Até o dia 28 de março, registraram-se 460 mil casos da moléstia viral no Brasil; no mesmo período do ano passado, haviam sido computadas 135 mil notificações. O surto já causou 132 mortes, 29% a mais do que no primeiro trimestre de 2014.
            Em São Paulo, o quadro é especialmente alarmante. O Estado concentra 56% das ocorrências, com 258 mil contaminações – um salto de 638% em relação às 35 mil do começo do ano passado.
            A incidência da doença em território paulista (585 casos/100 mil habitantes) é a terceira maior do país – atrás de Acre e Goiás – e se enquadra nos critérios de epidemia da Organização Mundial da Saúde.
            Apesar da magnitude do surto, as autoridades ainda falham em apresentar explicações satisfatórias. Sabe-se, por ora, que a existência de quatro tipos de dengue ajuda a decifrar parte do problema.
            Complexa e não de todo compreendida, a dinâmica de circulação das variedades do vírus altera-se com alguma frequência. Isso ocorre pois quem é contaminado por um dos sorotipos torna-se imune a ele, mas não aos demais.
            Com o tempo, esgotando-se a população suscetível a certo tipo da dengue, este tende a desaparecer, sendo substituído por outro.
            Neste ano, segundo levantamento do Ministério da Saúde, o sorotipo 1 foi detectado em 90% das amostras. Trata-se de distribuição nociva para os paulistas, já que, nas décadas de 1990 e 2000, enquanto São Paulo se manteve relativamente livre da dengue, essa variedade do vírus se disseminou pelo restante do Brasil.
            Se nada pode ser feito para mudar esse quadro, dado que não existe vacina nem terapia para a doença, o trabalho de prevenção passa necessariamente pelo controle do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, cujas larvas proliferam em água parada.
            Como atestam as quatro cidades paulistas (Barra do Chapéu, Monteiro Lobato, Timburi e Torre de Pedra) que ficaram imunes à dengue nos últimos dez anos, o apoio da população é fundamental – até porque 80% dos criadouros estão dentro das residências.
            O engajamento dos moradores, entretanto, dificilmente ocorrerá na escala necessária sem constantes visitas de agentes de saúde e campanhas informativas dos poderes públicos, que ainda devem garantir um monitoramento intenso da circulação de mosquitos.
            A receita decerto tem mais chances de sucesso em cidades pequenas, mas não deixa de ser uma inspiração para o restante do Estado.

Editorial da Folha de S. Paulo do dia 21 de abril de 2015.

“A dengue está apenas começando no Brasil”, diz Zanotto.

            A região Sudeste foi palco de 66% dos quase 746 mil casos registrados pelo Ministério da Saúde no país inteiro desde o início de 2015 até 18 de abril. É menos do que foi registrado em 2013, mas bem mais do que em 2014. Nesse total há uma gradação de gravidade – há quem mal sinta sintomas, outros têm febre alta e persistente e passam longos dias prostrados com fortes dores no corpo e náuseas que tornam impossível seguir a prescrição médica de tomar muito líquido. Nesse período, foram confirmados 414 casos graves e 5.771 com sinais de alarme, as categorias que exigem atenção médica. Bem mais do que no ano anterior, com uma alta proporção no estado de São Paulo. Entre os fatores de gravidade estão danos ao fígado e uma queda alarmante na concentração de plaquetas no sangue, que pode transformar qualquer lesão microscópica em uma hemorragia.
            Para Paolo Zanotto – virologista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), os números e a situação de hiperendemicidade indicam uma progressão alarmante da doença. “A dengue está apenas começando no Brasil”, avalia, com base num gráfico do número de casos desde 1995, que prevê uma escalada abrupta a partir de agora. Significa, em sua opinião, que os esforços contra as epidemias devem se tornar mais eficazes. “Deveríamos fazer como o corpo de bombeiros, que age em focos de incêndio, visando contê-los antes que se espalhem e escapem do controle.”
            Os estudos de Zanotto em municípios paulistas como Guarujá, Jundiaí e São José do Rio Preto localizam focos de dengue em áreas com indicadores socioeconômicos mais baixos. Mas concentrar esforços nas favelas não basta, conforme mostra estudo do biólogo Ricardo Vieira Araujo, hoje funcionário da Coordenação de Mudanças Globais do Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Em São Paulo, ele mostrou que em partes da cidade com temperatura superficial do solo significativamente mais alta, onde há baixa umidade, pouca cobertura vegetal e altos níveis de impermeabilização do solo – as ilhas de calor – há maior incidência de dengue.
            Entre 2009 e 2013, Araujo trabalhava na Coordenação de Vigilância em Saúde de São Paulo, no monitoramento de doenças transmitidas por vetores e zoonoses na cidade. “Eu me perguntava por que uma favela na zona sul registrava tantos casos, enquanto em outra comunidade na zona norte, por exemplo, com características semelhantes, os números eram muito menores”, explica. Nesse mesmo período, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente concluiu um mapeamento de temperatura superficial do solo que apontava as ilhas de calor na capital. “Mas muitos dos pesquisadores ponderavam que as próprias ilhas estariam em regiões com indicadores socioeconômicos mais baixos, com uma densidade populacional maior. Então talvez a causa não estivesse nas temperaturas, mas nas condições sociais e demográficas.”
            Para distinguir entre os fatores, foi necessário lançar mão de uma série de informações. O censo de 2010 do IBGE permitiu calcular a população, a densidade populacional, a renda média e o modo predominante de ocupação urbana nos 96 distritos administrativos de São Paulo. Os dados também indicavam onde estavam favelas, ocupações e cortiços. Com imagens de satélite foi possível analisar a cobertura vegetal, assim como criar um mapa com as temperaturas médias de superfície de toda a cidade. Os registros de casos autóctones de dengue vieram da Coordenação de Vigilância em Saúde, que entre 2010 e 2011 registrou cerca de 7.400 casos.
            A integração das informações mostrou que 93% dos casos ocorreram onde a temperatura superficial média passava dos 28 graus Celsius (°C). Nas regiões com maior cobertura vegetal o número de casos por 100 mil habitantes era de apenas 3,2, diante de 72,3 nas menos arborizadas. Somando tudo, o tipo de ocupação parece influenciar menos a incidência de dengue do que a temperatura, no período analisado.
            O estudo foi mais a fundo e incluiu também um experimento em laboratório com duas linhagens de A. aegypti: uma usada rotineiramente pelos pesquisadores e outra obtida de ovos colhidos no campus da USP. Ficou clara a influência da temperatura: quando alcança os 32°C, mais de 90% das larvas do inseto já viraram adultas.
            O pesquisador alerta que os mapas das ilhas de calor não são estáticos e seria necessária uma atualização constante dos dados. Mesmo assim, ele considera importante que os profissionais de saúde e de infraestrutura urbana atuem de forma integrada. “Aumentar as áreas verdes é uma possibilidade. Mas vale lembrar outras alternativas, como as adotadas em vilarejos do litoral do mar Mediterrâneo, onde as casas são pintadas de branco como forma de amenizar o calor. Precisamos usar os recursos que temos para combater a dengue de forma estratégica e integrada”, pondera.

Revista Pesquisa FAPESP – Junho de 2015.

            Nos países desenvolvidos, doenças como leishmaniose, dengue, tuberculose e hanseníase não representam mais risco para a saúde pública. Essas nações não investem mais em pesquisas voltadas ao tratamento dessas patologias. No entanto em países pobres ou em desenvolvimento, as chamadas doenças negligenciadas ainda causam preocupação às autoridades de saúde e provocam demanda de investimentos em estudos científicos.

Revista do Biomédico – http://www.crbm1.gov.br/bio71/r71_caderno29.asp

Escreva dissertação em prosa a respeito do tema

DENGUE E DESIGUALDADE SOCIAL

Exemplo de ROTEIRO
1. O avanço da dengue sintomatiza o descaso das autoridades públicas aos graves índices de pobreza e miséria.
2. Os cidadãos mais pobres não têm escolaridade para lidar com as causas da dengue.
3. A dengue é um problema menor nos redutos de pobreza e miséria.
4. A desigualdade econômica cria focos de problemas sociais.
5. As classes mais abastadas precisam ser alfabetizadas sociologicamente para que possam colaborar com a diminuição das desigualdades econômicas e consequentemente dos focos de problemas sociais.

26. ARTIGO DE OPINIÃO

Escreva - em dez a quinze linhas - artigo de opinião para o seguinte tema

DESIGUALDADE SOCIAL E DOENÇAS NEGLIGENCIADAS

Exemplo de ROTEIRO
1. As desigualdades sociais dificultam o combate às doenças negligenciadas. Nem os governos se sentem pressionados, nem as classes mais abastadas se dispõem a colaborações.
2. Urgências e baixa escolaridade dificultam as ações contra as doenças negligenciadas.
3. Nos países mais desenvolvidos, existe uma parcela significativa da população que reconhece a importância da diminuição das desigualdades econômicas e tem força política para pressionar os administradores públicos.

25. DISSERTAÇÃO

Saiba em quais circunstâncias o aborto é legal

            O que é o aborto?
            Entende-se o aborto como a interrupção da gravidez, com a destruição do ovo (até três semanas de gestação), embrião (de três semanas a três meses) ou feto (após três meses), de forma espontânea ou provocada.
            Na parte especial do Decreto-Lei n° 2.848/1940 (“Código Penal”), são definidos os crimes que atingem a pessoa humana em seu aspecto físico ou moral, dentre os quais estão previstas as modalidades do crime de aborto. De acordo com os arts. 124 a 126 do Código Penal, serão consideradas condutas criminosas, em síntese: (1) o autoaborto; (2) o consentimento da gestante no aborto; e (3) a realização do aborto por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante.
            O autoaborto e o consentimento para a realização do aborto são crimes que apenas poderão ser realizados pela gestante, sendo puníveis com detenção de um a três anos. Diferentemente de provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque, a prática de aborto pode também ser realizada por terceira pessoa, com ou sem o consentimento da gestante. Tais modalidades, por sua vez, são puníveis com reclusão de um a quatro anos e de três a dez anos, respectivamente.
            HIPÓTESE DE ABORTO LEGAL
            Excepcionalmente, o Código Penal prevê duas hipóteses em que o aborto poderá ser realizado por médico (“aborto legal”), quais sejam: (1) quando a gravidez significar risco a vida da gestante; ou (2) quando a gravidez resultar de estupro e o aborto for precedido de consentimento da gestante, ou, se incapaz, por seu representante legal.
            Na primeira hipótese, a lei optou pela preservação da vida da mãe diante do sacrifício de um ser que ainda não foi totalmente formado. Assim, o entendimento é o de que não seria razoável sacrificar a vida de ambos se, na realidade, uma vida poderia ser destruída em favor do outra.
            Já na segunda hipótese, o Estado não poderia obrigar a gestante a gerar um filho que seria fruto de um crime – estupro –, vez que danos maiores poderiam ser acarretados, como os danos psicológicos sofridos pela vítima, por exemplo.
            Em ambos os casos, não se exige autorização judicial para a prática do aborto legal.
            Especificamente, para o caso de estupro, não é necessário que exista processo contra o autor do delito, muito menos que haja sentença condenatória.
            AUXÍLIO DO ESTADO
            Tratando-se das hipóteses de aborto legal em consequência de estupro, nas quais se atinge a pessoa humana em seu aspecto físico, psicológico e social, o Estado tem o dever de fornecer o auxílio necessário para amparar aquelas mulheres que legalmente tem direito a abortar.

http://www.saudeesustentabilidade.org.br/index.php/saiba-em-quais-circunstancias-o-aborto-e-legal/

            O Código Penal Brasileiro atual não fala em eutanásia explicitamente, mas em "homicídio privilegiado". Os médicos dividem a prática da morte assistida em dois tipos: ativa (com o uso de medicamentos que induzam à morte) e passiva ou ortotanásia (a omissão ou a interrupção do tratamento). Hodiernamente, no caso de um médico realizar eutanásia, o profissional pode ser condenado por crime de homicídio – com pena de prisão de 12 a 30 anos – ou auxílio ao suicídio – prisão de dois a seis anos.
            Bem próximo da eutanásia está o suicídio assistido, mas não se confundem. Nem o suicídio assistido se confunde com a indução, instigação ou auxílio ao suicídio, crime tipificado no artigo 122 do Código Penal. Na eutanásia, o médico age ou omite-se. Dessa ação ou omissão surge diretamente a morte. No suicídio assistido, a morte não depende diretamente da ação de terceiro. Ela é consequência de uma ação do próprio paciente, que pode ter sido orientado ou auxiliado por esse terceiro.

http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/legaliza%C3%A7%C3%A3o-da-eutan%C3%A1sia-no-brasil

Legalização da eutanásia faz dez anos em Holanda e Bélgica

            Holanda e Bélgica foram os primeiros países do mundo a legalizar a eutanásia, em 2002, e dez anos depois esse recurso vem sendo praticado em mais de 4.000 pacientes por ano, principalmente em casos de câncer e Alzheimer em estado avançado.
            Na Holanda, a eutanásia é permitida desde que o paciente a solicite, em plena posse de suas faculdades mentais, demonstrando que é vítima de sofrimentos "insuportáveis e intermináveis", devido a uma doença incurável.
            Cerca de um terço dos pedidos "sérios" são aceitos pelos médicos.
            "O conceito de 'sofrimento insuportável' tornou-se mais claro" ao final dos anos, destacou Eric van Wijlick, um dos dirigentes da Sociedade Real de Médicos (KNMG), que representa mais da metade dos profissionais holandeses.
            Em 2011, a eutanásia foi praticada pela primeira vez na Holanda, com um paciente que sofria de Alzheimer em estado avançado. "Isso teria sido inimaginável em 2002", assim como a eutanásia em pacientes que sofrem de demência, por exemplo, destacou a porta-voz da Associação para o Fim Voluntário da Vida (NVVE), Walburg de Jong.
            A maioria dos 3.136 enfermos submetidos a essa prática em 2010, na Holanda, era composta por pessoas que sofriam de câncer. Cerca de 80% deles preferiram morrer na própria casa.
            Seguindo o exemplo holandês, a Bélgica aprovou no dia 28 de maio de 2002 uma lei destinada a "tirar a eutanásia da clandestinidade", depois de um longo debate entre cristãos e leigos.
            Em 2011, foram registrados 1.133 casos desse tipo de morte, segundo a Comissão de Controle e Avaliação da Eutanásia, e seu número não para de crescer. Por motivos culturais e de proximidade com a Holanda, 81% dos doentes submetidos à eutanásia eram de origem flamenga.
            "A lei foi positiva porque permitiu grandes mudanças nas relações entre pacientes e médicos.             Vários tabus sobre o fim da vida puderam ser levantados", disse Jacqueline Herremans, presidente da Associação pelo Direito de Morrer com Dignidade (ADME), na Bélgica.
            A legislação "também permitiu às famílias preparar-se melhor e aceitar a morte de seus próximos. Vimos que fazem rituais, como as cerimônias de despedida ou da última ceia", acrescentou.
            Um médico holandês enfrenta um pedido "sério" de eutanásia aproximadamente a cada três anos, disse Van Wijlick. "A experiência que pode acumular é, portanto, muito limitada e, por falta de conhecimento maior, não pode avaliar corretamente uma solicitação dessas", acrescentou.
            "Que enviem o paciente a outro médico se necessário, mas não digam jamais que é impossível por causa da lei", recomendou Van Wijlick aos profissionais de saúde.
            Por iniciativa da NVVE, seis equipes móveis, compostas por um médico e uma enfermeira, vão à casa dos doentes incuráveis para praticar, de acordo com a lei, as eutanásias rejeitadas pelos médicos de cabeceira.
            Cerca de cem pedidos já foram recebidos por essas equipes, disse Walburg de Jong.

http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/legalizacao-da-eutanasia-faz-dez-anos-em-holanda-e-belgica
FLAMENGO – Que ou aquele que é natural ou habitante de Flandres, região localizada parte na França, parte na Holanda e parte na Bélgica; flandrense, flandrino, flandrisco. (HOUAISS)

Auxiliado pelos textos acima, redija uma dissertação argumentativa para o tema:

ABORTO e EUTANÁSIA:
Podemos decidir a vida ou a morte de pessoas que estão inconscientes?

Use no mínimo 20 e no máximo 30 linhas.
Não é necessário atribuir um título.

Exemplo de ROTEIRO
1. Tanto um feto quanto um paciente em coma não têm como se defender.
2. Sem manifestações do feto ou do paciente, o aborto ou a eutanásia atenderiam apenas interesses de outras pessoas. Às vezes interesses escusos.
3. Os casos em que o aborto é considerado legal, no Brasil, bastam?
4. Diferente do suicídio, a eutanásia envolve outras pessoas. A disponibilização de recursos para um suicídio é crime.
5. O valor à vida é fundamental. O primeiro princípio da existência é a sobrevivência. Toda vida humana é exclusiva. Não podemos desperdiçá-la nem permitir que a encerrem deliberadamente. Nenhum sofrimento deve ser visto como desnecessário por outros; todo sofrimento é subjetivo.

Outro exemplo de ROTEIRO
1. Vidas inconscientes, sem qualquer perspectiva individual e social positiva, devem ser decididas pelos mais próximos.
2. Há sofrimentos desnecessários, inúteis e custosos.
3. Há também o sofrimento dos mais próximos.
4. Impor o nascimento de uma pessoa rejeitada ou prolongar a existência de um corpo capaz de sobreviver apenas com aparelhos e incapaz de se restaurar não é humano, é irracional.
5. Os Estados modernos devem ser menos interferentes nas relações pessoais.

24. DISSERTAÇÃO

BEBIDA: VERGONHA NACIONAL – Ricardo Setti

            A lei proíbe menores de beber, mas ninguém, nem os pais, a respeita. Os jovens pagam o preço por isso, e ele é alto.
            De todas as leis ignoradas no Brasil – e a lista é longa –, poucas são descumpridas com tanta naturalidade, e na escala, como aquela que proíbe menores de 18 anos de beber. Pesquisa inédita feita em sete capitais do país – São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Belém e Campo Grande – mostra que adolescentes que tentam comprar bebidas alcoólicas têm sucesso em, pelo menos, 70% das vezes.
            Na capital paraense, esse índice chega a estupefacientes 88%, recorde seguido de perto pelo Rio, com 86%. Mesmo em São Paulo, onde uma norma estadual aumenta o rigor das punições aos donos de estabelecimentos que vendem bebida para menores, 71% dos adolescentes têm trânsito livre para o balcão do bar.
            As décadas de descumprimento da lei fizeram mais do que consolidar a ideia de que ela não passa de letra morta – contribuíram para que os adultos se habituassem a ver o consumo de bebida por adolescentes como um “mal menor”, comparado aos perigos do mundo.
            “Não é”, afirma o autor do estudo e uma das principais autoridades brasileiras no assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas. “Os pais precisam entender que o álcool potencializa o risco de que aconteça aos seus filhos o que eles mais temem.” Leia-se: que eles se metam em encrencas, e das grandes.
            Levantamentos feitos no Brasil e no exterior comprovam que beber – em qualquer idade – potencializa comportamentos temerários. No adolescente, com sua onipotência e impulsividade características, o risco de o álcool provocar ou facilitar situações como gravidez precoce, contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, envolvimento com a criminalidade e uso de drogas ilícitas é perigosamente maior.
            Junte-se a isso o fato de que, num organismo jovem, o impacto e as consequên­cias da ingestão de bebida são muito diferentes do que os que incidem sobre um adulto, e a conclusão – unânime – dos especialistas é: menores de 18 anos não devem beber sequer uma gota de álcool.
            A experiência de muitos adultos, no entanto, ajuda a enfraquecer o que, para os cientistas, é uma certeza. Muitos pais pensam: “Tomei minhas doses quando era jovem e hoje tenho um emprego estável, uma família feliz e uma relação saudável com a bebida”. Por causa disso, novas pesquisas têm tentado matizar as categorias de bebedores jovens e precisar os riscos associados a cada perfil.
            Esse tipo de estudo é realizado há pelo menos uma década no exterior, mas só há pouco tempo começou a ser feito também aqui. Um precioso levantamento, a ser publicado no mês que vem na revista científica Drugs and Alcohol Dependence, ouviu 15 000 jovens nas 27 capitais brasileiras para mapear como, onde, quanto e o que bebem os adolescentes brasileiros.
            O foco escolhido foi o grupo que mais preocupa quem trata do problema: jovens que bebem ao menos cinco doses de álcool em uma única ocasião – ou seja, que incorrem na popular “bebedeira”. O cenário que emerge do estudo é alarmante. Ao longo de um ano, um em cada três jovens brasileiros de 14 a 17 anos se embebedou ao menos uma vez. Em 40% dos casos mais recentes, isso ocorreu na sua casa ou na de amigos e parentes.
            Os números confirmam também a leniência com que adultos encaram a transgressão. Em 11% dos episódios, os menores estavam acompanhados dos próprios pais ou de tios.
            Um dos dados que mais chamam atenção na pesquisa é o que mostra que, ao contrário de países como os Estados Unidos, por exemplo, no Brasil, os jovens mais ricos são os que mais têm o hábito de se embebedar. O estudo mostrou que quase metade dos jovens da classe A, em que a renda familiar média supera os 10 000 reais, se embriagaram ao menos uma vez no último ano.
            É quase o dobro do índice registrado entre as classes D e E (renda familiar média de 600 reais). Segundo uma das autoras do estudo, Zila Sanchez, isso se deve sobretudo ao fato de que os brasileiros ainda relevam os riscos do álcool, ao contrário do que ocorre entre os americanos.        Além disso, jovens ricos têm uma vida social mais ativa e maior autonomia financeira do que os mais pobres, o que facilita o acesso à bebida.
            Influenciaria, ainda, um menor temor dos pais dessa classe média alta de que seus filhos se tornem marginais ou fracassados em razão do contato com o álcool, já que o ambiente de proteção social e o histórico familiar não apontam nessa direção.
            Essa realidade já influencia também a oferta de serviços de saúde. Há cerca de dois anos, os médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, reduto da classe A, começaram a notar o fenômeno.    “Não era comum atendermos adolescentes de 13 e 14 anos com intoxicações alcoólicas. Agora, dois ou três costumam dar entrada aqui por noite às sextas-feiras e aos sábados”, explica a pediatra Paula Cristina Ranzini, da Unidade de Pronto Atendimento Infantil da unidade Morumbi do Einstein.
            Os jovens chegam entre 23 horas e meia-noite e são levados pelos pais ou por pais de amigos. A situação mais comum é terem exagerado em bebidas ice (como é conhecida a mistura de vodca com refrigerante ou suco de fruta) e destilados em festas na casa de amigos, chamadas de “esquenta”. Os pais ficam perplexos e, muitas vezes, trocam acusações na frente dos médicos.           Entrevistas feitas por VEJA com jovens, pais e funcionários de bares de norte a sul do Brasil refletem com precisão a teoria do “mal menor” captada pelas pesquisas. Uma mãe de Porto Alegre, por exemplo, disse que incentiva os filhos a beber em casa com os amigos para que não façam isso na rua, onde estariam desamparados. Ela acredita que assim está protegendo devidamente os meninos.
            Outros, como um garçom de Belém, admitem vender bebidas a menores, porque, se ele não o fizer, “outra pessoa vai fazer”. Documentos de identidade falsificados, companhia indispensável nas noitadas, são aceitos à larga. E a completa falta de fiscalização para coibir tanto o consumo como a venda das bebidas é a regra. Vende-se livremente porque não há a menor possibilidade de punição.
            Algumas iniciativas isoladas, no entanto, começam a atacar o problema. Em outubro do ano passado, o governo paulista sancionou uma lei que prevê multa de até 92 000 reais a estabelecimentos que vendam bebida a menores, mudando o eixo da correção da pessoa física – o garçom incauto – para a jurídica – o dono do empreendimento. Quase 200 000 locais já foram inspecionados, mas em menos de 1 000 houve punição, o que demonstra que ainda há um longo caminho a percorrer.
            Campanhas mais localizadas também têm surtido efeito. Em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, moradores se mobilizam desde 2008 para diminuir o consumo de álcool entre os jovens. Nem o tradicional quentão é mais servido nas festas juninas, e o número de lugares que vendem bebida a menores caiu cerca de 50% – abaixo da média brasileira, mas ainda um escândalo.
            Esse cenário de vergonha nacional requer, antes de tudo, uma mudança de mentalidade. Até recentemente, pouca gente achava que o cinto de segurança era um acessório útil – ou via algum problema em estar ao lado de um fumante num bar ou em outro ambiente fechado.
            Essas visões não mudaram a partir da criação de novas leis, mas a partir do momento em que a obediência às regras passou a ser cobrada. A fiscalização precisa ser apertada nas ruas e o rigor tem de aumentar em casa. Nos dois casos, o caminho mais seguro para proteger os adolescentes das ciladas do álcool é um só: seguir a lei. Bebida, só depois dos 18.

Revista Veja 21/07/2012

Número de jovens brasileiros com Aids aumenta 40%, revela pesquisa.

            Na faixa de 15 anos a 24 anos, o número de casos de Aids aumentou 40% de 2006 até agora em todo país. A pesquisa é do Ministério da Saúde, que faz campanha para o uso da camisinha e para o exame que detecta a doença. Nas redes sociais, o lema é: "Partiu, teste".
            O relacionamento já durava dois anos. O jovem confiou no namorado e acabou pegando Aids. “Ele me passava segurança, então assim, devido a essa confiança que a gente construiu no relacionamento, eu passei a ter relações sexuais com ele sem camisinha. Eu me arrependo amargamente. Se eu pudesse voltar no tempo, eu jamais iria fazer isso”, conta o jovem.
            Uma pesquisa do Ministério da Saúde com 12 mil pessoas revelou que 94% dos brasileiros sabem que a camisinha é a melhor forma de prevenir doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. Mas quase metade dos entrevistados (45%) não usou preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. 
            O grupo que mais preocupa é o de jovens entre 15 e 24 anos. Enquanto a Aids no Brasil tem uma leve tendência de queda, nessa faixa etária o número de casos está aumentando. Em sete anos, o crescimento foi de 40%. Os jovens têm mais parceiros, se protegem menos e não têm noção do perigo da doença.
            O diretor de um hospital, que é referência no tratamento de Aids, Fernando Ferry, diz que os jovens homossexuais se preocupam ainda mais.
            “São meninos de 13 até 18 anos de idade, que estão começando a sua vida sexual e que não fazem uso do preservativo porque eles não se protegem. Eles têm a falsa sensação de que o HIV é controlado, eles não sabem da doença”, fala Fernando Ferry, coordenador do programa de pós-graduação em HIV da UniRio.
            A estimativa é de que 300 mil pessoas tenham a doença sem saber. “Não adianta ter feito uma vez, deu negativo e está tudo bem. Assimilar como um hábito de vida frequentemente fazer a testagem sorológica e se der positivo já tratar ainda que só tenha a infecção e não tenha a doença.         Essa é uma mudança substantiva, porque antes se esperava a manifestação clínica da Aids para iniciar o tratamento”, fala Arthur Chioro, ministro da Saúde.
            A Aids mata 12 mil brasileiros por ano. “O que eu posso passar para as pessoas é que por mais que você goste, que você ame, que você confie, que você tenha um projeto de vida com aquela pessoa, use camisinha.  Porque de repente o seu projeto de vida é um e a vida acaba te surpreendendo com outro projeto muito indesejado”.

Jornal Hoje – Rede Globo – 02/02/2015.

            "Quando o jovem consome bebidas, perde mesmo a capacidade crítica. A negociação do uso de camisinha fica difícil, quando não há esquecimento mesmo", explica Ana Glória Melcop, da Rede Brasileira de Redução de Danos.

            "Esses jovens se sentem distantes e protegidos da Aids por uma questão de classe e pela sociedade medicalizada", avalia a psicóloga, consultora em educação e colunista do jornal Folha de S. Paulo, Rosely Sayão. Para ela, "é cada vez maior a arrogância desses jovens em relação à vida" e, por isso, eles assumem comportamentos de risco.

Produza uma dissertação argumentativa em prosa para o tema:

ALCOOLISMO E AIDS:
As bebidas alcoólicas são mais nocivas do que parecem?

Exemplo de ROTEIRO
1. O respeito à diversidade tem aumentado o valor da opinião pessoal. As pessoas são menos cuidadosas em tempos de crise moral.
2. Sobre a fragilização do individuo provocada por bebidas alcoólicas. O álcool inibe a razão e abandona o sujeito aos próprios sentimentos? Os jovens não são maduros o bastante para verem simultaneamente, na mesma imagem, o prazer e o risco? Com álcool na cabeça, o jovem esquece a existência da camisinha?
3. Notícia a respeito do avanço da AIDS entre os jovens. Num cenário de crise moral, as bebidas alcoólicas tornam-se ainda mais nocivas?
4. Os adolescentes têm liberdade demais para idade que têm? Os pais têm respeitado demais as opiniões imaturas dos filhos?
5. Os pais menos influentes não podem usar como desculpa um falso amadurecimento precoce para se afastarem ainda mais do cotidiano dos filhos. As autoridades públicas precisam tratar do assunto com mais seriedade e endurecer a fiscalização.

23. DISSERTAÇÃO

EU, ETIQUETA. – Carlos Drummond de Andrade.

            Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei, mas são comunicados a meus pés.
            Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
            Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição.
            Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou – vê lá – anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete.
            Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa. Sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante, mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados.
            Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.

PÉRGULA – passeio público, calçadão.

MAPA-MÚNDI – Mário Quintana

            A facilidade de comunicações acabou com esses tanques em que floresciam as diferentes culturas. Quando antes se olhava o mapa-múndi e via-se cada país de um colorido diferente, podia-se tomar isso ao pé da letra. É verdade que o mundo continuou a ser uma colcha de
retalhos; mas são todos da mesma cor. Bombaim, Roma, Tóquio, que se escondiam, cada um com seu peculiar mistério, nos compartimentos estanques de sua própria civilização, agora, a julgar pelos filmes estão perfeitamente padronizados, universalizados.
            E, no mundo de hoje, para desconsolo dos descendentes de Sindbad e de Marco Polo, a única cor local das cidades famosas são os turistas.

Escreva texto dissertativo em prosa sobre o tema:

A construção ou a preservação da identidade individual
ou nacional num mundo globalizado.

ROTEIRO
1. A globalização era inevitável ou opção?
2. De que maneiras as culturas predominantes invadem as frágeis? Economicamente? Produtos e comportamentos?
3. As culturas mais frágeis são degeneradas ou enriquecidas com a inclusão de objetos, linguagens e comportamentos estrangeiros? A importação de tecnologias (recursos, técnicas, instrumentos, ferramentas) colabora com o desenvolvimento das culturas locais?
4. As culturas menos cristalizadas também têm suas próprias necessidades (clima, relevo, vegetação, solo, pecuária) e soluções adequadas, as quais as particularizam?
5. Importar modelos de comportamento é nocivo às culturas nativas? As concepções atualizadas devem ser adaptadas aos problemas e soluções locais?

22. RESPOSTA INTERPRETATIVA

Escreva em no máximo 15 linhas uma resposta interpretativa para seguinte pergunta:

Para Carlos Drummond de Andrade, no texto “Eu, etiqueta”, qual é a causa da perda de identidade do indivíduo no mundo moderno? E quem é o culpado por essa perda?

ROTEIRO
1. Resposta objetiva para a primeira pergunta. (Qual é a causa da perda de identidade?)
2. Explicação da primeira resposta com trecho ou trechos do texto. (Um ou dois pequenos trechos)
3. Resposta objetiva para a segunda pergunta. (Quem o poeta culpa por essa perda?)
4. Explicação da segunda resposta com trecho ou trechos do texto.(Um ou dois pequenos trechos)

21. DISSERTAÇÃO

Usos contemporâneos de robôs

         Os robôs são utilizados para realizar trabalhos que são muitos pesados, sujos ou perigosos para os seres humanos. Os robôs industriais nas linhas de produção são a forma mais comum de robôs, porém isto vem mudando recentemente pela entrada de robôs faxineiros e cortadores de grama. Outras aplicações incluem a limpeza de lixo tóxico, exploração subaquática e espacial, cirurgias, mineração, busca e regaste e a busca de minas terrestres. Os robôs também estão surgindo nas áreas de cuidados de saúde e entretenimento.
         Os manipuladores industriais possuem capacidades de movimento similares ao braço humano e são os mais comumente utilizados na indústria. As aplicações incluem soldagem, pintura e carregamento de máquinas. A indústria automotiva é um dos campos que mais se utiliza desta tecnologia, aonde os robôs são programados para substituir a mão de obra humana em trabalhos repetitivos ou perigosos.
         Outra forma de robôs industriais é o AGVs (Veículos Guiados Automaticamente). Os AGVs são utilizados em estoques, hospitais, portos de contêineres, laboratórios, instalações de servidores, e outras aplicações onde o risco, confiabilidade e segurança são fatores importantes. De mesma forma, o patrulhamento autônomo e os robôs de segurança estão aparecendo como parte de alguns prédios automatizados.
         Recentemente, grandes progressos tem sido realizados na área da robótica médica, com duas companhias em particular, a Computer Motion e a Intuitive Surgical, recebendo aprovação regulatória na América do Norte, Europa e Ásia para que seus robôs sejam utilizados em procedimentos cirúrgicos médicos invasivos. A automação em laboratórios é uma área crescente. Nesta, os robôs são utilizados para transportar amostras químicas ou biológicas entre instrumentos tais como incubadores, recipientes e leitores. Outros lugares aonde a robótica poderá substituir o trabalho humano é na exploração do fundo do mar e exploração espacial.
         Alguns cientistas acreditam que os robôs serão capazes de se aproximarem a uma inteligência semelhante à humana na primeira metade do século 21. Mesmo antes destes níveis de inteligência teóricos serem obtidos, especula-se que os robôs podem começar a substituir os humanos em muitas carreiras com trabalho intensivos.
         Alguns acreditam que estes robôs coletivamente podem formar um "proletariado robô", ou classe operária, que permitiria que os humanos ser preocupassem principalmente com o controle dos meios de produção (tais como os equipamentos de fazendas e indústrias), assim aproveitando os frutos dos trabalhos dos robôs.
         A robótica provavelmente continuará sua expansão em escritórios e residências, substituindo aparelhos "não inteligentes" por seus equivalentes robóticos. Robôs domésticos capazes de realizar muitos trabalhos caseiros, descritos nas histórias de ficção científica e mostrados ao público nos anos 1960, continuarão a ser aperfeiçoados.
         Já convivemos com certo grau de convergência entre humanos e robôs. Alguns seres humanos já são ciborgues, com alguma parte do corpo ou mesmo partes do sistema nervoso substituídos por equivalentes artificiais, tais como o marcapasso. Em muitos casos a mesma tecnologia pode ser utilizada tanto na robótica quanto na medicina.

Tema de Redação da Fatec-SP - 2013

Robôs versus humanos

            Na fábrica da Philips, na costa chinesa, centenas de operários usam as mãos e ferramentas especializadas para montar barbeadores elétricos. Esse é o modo antigo de trabalhar.
            Numa fábrica da mesma empresa em Drachten, na Holanda, 128 braços robóticos realizam o mesmo trabalho com flexibilidade digna de iogues*. Câmeras de vídeo os guiam para realizar façanhas que superam a capacidade do humano mais hábil que exista.
            Trabalhando sem parar, um braço robótico forma três dobras perfeitas em dois fios conectores e os insere em furos tão pequenos que são quase invisíveis. Os braços trabalham tão rapidamente que precisam ficar fechados em gaiolas de vidro para que as pessoas que os supervisionam não se machuquem. E eles fazem tudo isso sem uma pausa para tomar um café, trabalhando três turnos por dia, 365 dias por ano.
            A fábrica holandesa tem ao todo algumas dezenas de operários humanos por turno – mais ou menos um décimo do número visto na fábrica chinesa.
            Isso é o futuro. Uma nova onda de robôs, muito mais sofisticados que os robôs já empregados hoje por montadoras de automóveis e por outros setores manufatureiros pesados, está substituindo trabalhadores humanos em todo o mundo.
            Fábricas, como a da Holanda, formam um contraponto marcante com as fábricas e empresas gigantes de eletrônicos que empregam, em busca de baixo custo, centenas de milhares de operários pouco qualificados.
            “Com estas máquinas, podemos produzir qualquer eletrônico de consumo do mundo”, disse Binne Visser, gerente da linha de montagem da Philips em Drachten.

(John Markoff, The New York Times, publicado pela Folha de S. Paulo em 27.08.2012. Adaptado)
*iogue: praticante de iog

Fazendo uma reflexão sobre o atual mundo do trabalho, redija um texto dissertativo sobre o tema:

Adequação do perfil dos profissionais a um mercado de trabalho
que vem sendo, gradualmente, ocupado por robôs.

Instruções:
1. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para sustentar suas ideias e pontos de vista.
2. Não copie o texto dado.
3. Empregue em seu texto apenas a variedade culta da língua portuguesa.
4. Não redija o texto em versos; organize-o em parágrafos.
5. Dê um título a seu texto.
6. A versão definitiva da redação deve ser apresentada em folha específica e a tinta.

ROTEIRO
1. Que tipo de mão de obra tem sido substituído por robôs?
2. Quais são as perspectivas? Em que setores avançam as substituições?
3. A robotização da mão de obra tem causado desemprego? Ou está apenas exercendo funções que não interessam mais aos humanos?
4. A robotização da produção industrial tem imposto a qualificação das capacidades humanas?
5. Como adequar o perfil dos profissionais a um mercado de trabalho que vem sendo, gradualmente, ocupado por robôs?

20. CARTA DE RECLAMAÇÃO

            Escreva uma carta de reclamação aos diretores de um supermercado, reclamando de privilégios dispensados pelo gerente a amigos e parentes no uso do estacionamento. Pessoas próximas ao gerente têm usado as vagas reservadas a idosos e deficientes ilegal e frequentemente.
            Use como referência o modelo abaixo e não ultrapasse 15 linhas.

19. DISSERTAÇÃO

MMA: BANDIDO OU MOCINHO – Lara Biderman

           O MMA está na moda e em tudo quanto é lugar; seus adversários criticam a glamourização da violência e adeptos rebatem dizendo que a luta desenvolve a disciplina e controla o estresse.
 
            Goste ou não, você vai ser atacado por todos os lados: a luta da moda, o MMA, está na TV, no cinema, nas livrarias, nas conversas de bar, nas academias de ginástica.
            Os patrocinadores do UFC (campeonato internacional de MMA) já estão batendo os tambores para o próximo torneio, que será realizado em junho, no Brasil. São ajudados pelos subprodutos da luta e ajudam a promovê-los.
            Na próxima sexta-feira, 16, estreia o documentário "Anderson Silva: Como Água", sobre o grande ídolo da modalidade, com um esquema de distribuição peso-pesado: 150 salas e uma expectativa de público recorde.
            Em abril, estão previstos três lançamentos de livro sobre o tema: "Filho Teu Não Foge à Luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial", pela editora Intrínseca, "A Bíblia do MMA", pela Universo dos Livros, e a autobiografia de Anderson Silva, pela Sextante.
            E se você já achava muito ter um bonitão na novela na pele de um lutador (o ator Dudu Azevedo, em "Fina Estampa", da TV Globo), prepare-se. Está sendo filmada a história de José Aldo, campeão dos pesos-pena, vivido na telona por outro bonitão de novelas, Malvino Salvador.
            Nas academias, as aulas de MMA estão inchando.
            De olho no filão, a Fitness Brasil, maior feira de tendências para o setor, que acontece em Santos no final de abril, vai apresentar treinos formatados para esse público de academias, além de montar um octógono (ringue de MMA) durante o evento, onde serão realizadas lutas.
 
            PÓS VALE-TUDO
            "A luta começou chamando 'vale-tudo', mas mudaram o nome para artes marciais mistas [MMA na sigla em inglês] para ficar mais palatável", diz o professor de jiu-jítsu Roberto Godoi, da academia Godoi, de São Paulo.
            O novo clube da luta tenta valorizar mais aspectos como autocontrole e disciplina do que força bruta.  A imagem de atividade violenta e sem limites é tudo o que patrocinadores, empresários e profissionais querem deixar longe da prática.
            "O aumento de alunos nas aulas de MMA é imenso. Eles querem diminuir o estresse, desenvolver disciplina. Fora o gasto calórico, que é enorme", afirma o fisioterapeuta e professor Thomas Henrique Cabrera, que dá aulas da modalidade na rede de academias Runner, em São Paulo.
            Lutas sempre foram um produto nas prateleiras das academias, mas com o MMA a procura explodiu, segundo o empresário Waldyr Soares, presidente da Fitness Brasil.
            "A onda está ligada à overdose de divulgação da modalidade. Não dá para dizer que não tem brutalidade, mas é uma mina de ouro. E é um baita treino, por isso está vendendo bem nas academias."
            O treino também serve de válvula de escape. O chefe de cozinha Guilherme Zago, 28, diz que a luta o deixa preparado para o trabalho. "Fisica e mentalmente, a cozinha de um restaurante é mais pauleira que o MMA", afirma.
            A assistente de marketing Carla Ferro, 37, é outra defensora dos benefícios psicológicos da luta. "Comecei a treinar depois de passar por problemas físicos e emocionais. Tinha terminado meu casamento, estava com a autoestima em baixa e resolvi fazer algo. Me apaixonei pelo MMA."
            A paixão só não está contribuindo para a vida amorosa, segundo ela. "Todos os namorados que tive terminaram comigo porque não aceitavam meu esporte. Achavam muito masculino."
 
            MULHERES NA LUTA
            Com ou sem a aprovação dos parceiros, o clube de lutadoras está crescendo. "Nos torneios nos EUA, as mulheres são 49% do público; no Brasil, são 37%", diz Wallid Ismail, 43, que promoveu no último final de semana o Pink Fight, campeonato só de mulheres, em Campos (RJ).
"Elas dão show, lutam com mais garra para mostrar que acabou essa coisa de sexo frágil", analisa Ismail.
            A educadora física e personal trainer de corrida Adriana Overgoor, 25, diz não estar preocupada em provar nada. "Em muitos treinos, sou a única mulher. E adoro. Claro, sou tratada como princesa."
            Adriana afirma que a luta, além de dar condicionamento e força, aumenta o conhecimento corporal, o que, segundo ela, diminui o risco de a pessoa se machucar. Mas diz ter medo de competir profissionalmente. "O dinheiro que poderia ganhar seria gasto arrumando meus dentes."
            Os treinadores minimizam o risco de lesão. "Com bom treino, nenhum esporte é arriscado", diz o professor de artes marciais Jeremias Cassimiro Alves Silva, 44, que dá aulas de MMA no Conjunto Desportivo Baby Barioni, em São Paulo.

Folha de S. Paulo, 13 de março de 2012.

NÃO É VALE-TUDO

            Quando o UFC começou, em Denver, Colorado, nos Estados Unidos em 1993, cada lutador enfrentava no mínimo três adversários em uma noite. Havia poucas regras - não atingir os olhos, não usar os dedos para rasgar a boca do adversário e não golpear a virilha. Em 2001, os irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, empresários americanos donos de cassinos em Las Vegas, compraram o evento e fizeram mudanças para que se tornasse um esporte reconhecido. Cada atleta passou a lutar apenas uma vez por evento, que tem em média cinco lutas por noite. Foram estipuladas 31 faltas, que podem até eliminar um competidor.
            Todos os atletas são obrigados a passar por exame antidoping e testes médicos (HIV, hepatite, ressonância magnética e exame oftalmológico, entre outros). Durante as lutas, cinco médicos coordenados por um especialista em eventos esportivos de combate cercam o ringue, enquanto quatro especialistas em ferimentos leves acompanham os lutadores do lado de fora do octógono – o ringue, também chamado de gaiola, fechado, com cerca de nove metros de diâmetro ou quase 60m2 de área de luta. O ringue desse formado é uma marca registrada do evento.
            Equipes de paramédicos e duas ambulâncias permanecem no local durante todas as lutas. Se um atleta for pego no antidoping, ficará impedido de lutar. Pode enfrentar processos disciplinares e o resultado de seus combates pode ser alterado.

Davi Correia, Revista Veja

Tendo como base as ideias apresentadas nos textos acima, escreva uma dissertação sobre o tema:

MMA é esporte ou entretenimento de caráter primitivo?
ENTRETENIMENTO: Ato ou efeito de entreter(-se), de distrair(-se); aquilo que distrai, entretém; distração, divertimento. (HOUAISS)
ESPORTE: Atividade física regular, com fins de recreação e/ou de manutenção do condicionamento corporal e da saúde; cada um dos jogos ou atividades que requerem destreza física, com observância de regras específicas (corrida, futebol, hipismo, natação, tênis etc.) ou o conjunto deles; desporte, desporto. (HOUAISS)

Exemplo deROTEIRO
1. O esporte de competições pode ser definido como condicionamento físico para superação de limites?
2. Quaisquer limites ou apenas aqueles de interesse social em determinado estágio de civilização? Povos civilizados não têm mais interesse em técnicas de espancamento e dominação física?
3. Algumas práticas violentas colaboram no desenvolvimento de habilidades e capacidades físicas necessárias para o desenvolvimento intelectual, como força, velocidade, estratégias, autocontrole, avaliação de riscos. A prática de MMA significa desenvolvimento humano?
4. O MMA ignora todos os valores relacionados à paz e à preservação para enaltecer apenas valores de desconstrução e destruição? A lealdade e até amizade entre os lutadores desconfigura a ideia de destruição?
5. As competições de MMA deviam ser ilegalizadas como as rinhas (brigas de galo) e outras competições violentas que envolvem animais? Fatores como, numa rinha, o galo não luta voluntariamente, não observa regras e luta até a morte, justificam a legalidade do MMA?

18. CARTA DO LEITOR

            Escreva uma carta para a jornalista Lara Biderman, do jornal Folha de S. Paulo, a respeito da reportagem MMA: Bandido ou Mocinho, publicada no dia 13 de março de 2012.
 
ORIENTAÇÕES
- Dirija-se ao editor da empresa de mídia.
- Não se esqueça de que você está escrevendo porque a matéria publicada pela empresa de mídia (TV, rádio, jornal, revista, site) chamou sua atenção positiva ou negativamente.
- Mantenha uma linguagem respeitável e respeitosa. Uma linguagem descuidada (com erros ortográficos ou dificuldades para estabelecer a comunicação) ou desrespeitosa (com palavras chulas ou xingamentos) não merece respeito do editor.
- Quando criticar, não deixe de também sugerir.
- Carta do Leitor não recebe título. Aquele que aparece na publicação da carta é dado pelo editor.
- Use no mínimo 10 e no máximo 15 linhas.
- Assine a carta com a palavra Leitor.

17. DISSERTAÇÃO

CORPOLATRIA

            Nunca em uma sociedade se falou e produziu tantos discursos e imagens de corpos belos. Ter um corpo perfeito se apresenta como uma das principais aspirações para serem seguidos pela sociedade atualmente, onde observamos o crescimento e as exigências da busca de corpo perfeito. Neste contexto o ideal de corpo perfeito vem sendo celebrado como uma forma de status na sociedade e uma exigência do mercado de trabalho. De repente a preocupação de se realizar atividade física como maneira de prevenção de doenças, aos poucos foi se transformando em idolatria, uma alienação contemporânea.
            Com o advento da corpolatria, os profissionais de Educação Física encontram no seu dia a dia estereótipos de beleza, regras e as diversas técnicas de controle e administração das metamorfoses corporais, onde os três pilares da boa forma, que se encontram nos aspectos de beleza, juventude e vigor físico, são rigorosamente seguidos e vistos como referência para se adquirir a estética desejada.

(Antônio Marcos Bernardo dos Santos)

            A corpolatria escreve diretamente seus costumes e modelos na carne daqueles que se dedicam a ela: os corpólatras são convidados a escolher seu corpo, esculpindo-o em diversas academias que acabam se transformando em várias lojas de corpos da moda ou até mesmo contratando os serviços de um personal treinner, que, como um costureiro, vai remodelar os corpos de seus clientes.

(Mirian Goldenberg)

            Fala-se muito em culto ao corpo hoje em dia, mas tal culto não deixa de conter em si a contradição do desprezo pelo corpo. Na verdade, todas as ações e gestos envolvidos na corrida por um corpo ideal (desde as academias de ginástica até as clínicas de cirurgia plástica) revelam em seu fundo uma intolerância real pelo corpo. O culto ao corpo pode ser encarado, na verdade, como culto a um ideal de beleza que muitas vezes parece ter verdadeiro horror pelo corpo real – aquele que não é o ideal. É preciso lembrar que o que se chama “ideal” é sempre algo inventado pela mente, pela linguagem, pelos valores de cada época, não algo que vale por si só, mas que se refere sempre a um tempo que o legitima e que lucra com ele.

(Márcia Tiburi)

            A idolatria ou o culto excessivo do corpo, bem como o enorme investimento na produção do físico ideal, dentro de uma visão psicanalítica, revelam fortes tendências ‘narcísicas’.
Nas culturas milenares antigas, o nascer, o crescer, o envelhecer e o morrer tinham diversos sentidos: no Oriente, o viver e morrer traziam consigo a ideia de desenvolvimento, amadurecimento, crescimento interior, acumulação de sabedoria e evolução; nos mais jovens, era inculcado o respeito e a reverência pelos mais velhos, diante da experiência de vida adquirida pelos últimos.
            Em culturas ocidentais ditas jovens – como é o caso da cultura brasileira – envelhecer é quase que vergonhoso e a morte representa um tabu, um tema no qual geralmente não se pensa e sobre o qual dificilmente se fala. O idoso é praticamente banido da vida ativa na sociedade, segregado do convívio social, escondido no recôndito das famílias ou fechado em asilos – embora nos últimos anos estejamos assistindo a alguns movimentos no sentido de resgatá-lo e valorizar-se a assim chamada ‘terceira idade’ ou ‘melhor idade’. Ser velho, contudo, é feio – é o que se depreende da excessiva valorização do jovem em nossa sociedade. Velhice lembra decadência, e decadência lembra morte.

(psicologiananet.com.br)

            Modelado pela erotização do mercado, o corpo adquire valor proporcional à sua adequação aos critérios de beleza estimuladores do consumo. Num país de famintos e corpos esquálidos, a glamourização das formas induz um punhado de homens e mulheres a se submeterem a regimes e tratamentos cruéis. Despendem tempo e fortuna com os requintes da vaidade física, como a aranha tece sua própria teia narcísica, da qual se torna prisioneira. Não há academias especializadas em malhação do espírito, e ainda não se inventou a transfusão de conhecimentos e valores de uma pessoa a outra ou do computador à mente, de modo a fazer coincidir a estética da aparência com a beleza da essência.

(Padre João Batista Libânio)

            Estima-se que existam no país cerca de 24.000 academias de ginástica, sendo o Brasil o maior mercado de academias de ginástica da América Latina e o segundo país do mundo em número de academias, perdendo apenas para os Estados Unidos.
            As academias de ginástica geram hoje um faturamento próximo aos R$ 3 bilhões ao ano, segundo a ACAD - Associação Brasileira de Academias, e cresce a um ritmo de 10% ao ano, segundo especialistas do setor.
            Esse crescimento deve ser confirmado nos próximos anos, pois apenas 3% da população brasileira está matriculada ou frequenta academias, e somente 13% da população pratica alguma atividade física.

SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)

            Com base nas leituras e em suas próprias experiências e conhecimentos, escreva uma redação de gênero dissertativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

CORPOLATRIA: Futilidade ou evolução?

Exemplo deROTEIRO
1. O que é corpolatria? Que fatores caracterizam o culto ao corpo? (Academias, clínicas de cirurgias plásticas, lojas de suplementos alimentares, exposição midiática de corpos invejáveis, concursos de modelação corporal). Desde quando se verifica a corpolatria?
2. O que explica essa atenção exagerada à aparência física? Narcisismo, hedonismo, industrialização do corpo, barateamento das tecnologias, indisposição intelectual, banalização da espécie?
3. O aperfeiçoamento físico exige desenvolvimentos intelectuais? Fisionomistas, fisiologistas, cirurgiões plásticos, engenheiros de aparelhos para a fisicultura, administradores de fisinegócios, editores, jornalistas.
4. Enquanto se faz o mais fácil, prepara-se para o mais difícil? Não se chega ao fundo sem passar pela superfície?
5. Afora os exageros, o culto ao corpo pode ser visto positivamente, como uma frente legítima do processo evolutivo?

16. RELATO

            Imagine-se uma pessoa com mais de quarenta e menos de cinquenta anos, detentora de um corpo notadamente fora dos padrões modernos de beleza. Recentemente mandou construir uma casa grande e sofisticada, predominantemente espelhada, e, na primeira visita à casa nova e pronta, deparou-se com uma comparação inevitável entre os objetos bem acabados da casa e o próprio corpo.
            Escreva um relato descrevendo suas reações e as ideias que lhe vieram à cabeça. Ideias e reações que o fizeram decidir por uma reforma do próprio corpo.

15. DISSERTAÇÃO

O BIOURBANISMO – Claudio Bernardes

            O biourbanismo é uma forma de enxergar o desenvolvimento das cidades como um organismo vivo. No início do século 20, já se comparava a cidade a um organismo, mas como se fosse e funcionasse como uma máquina. Essa visão era totalmente diferente da forma como hoje esse assunto é abordado. Agora, sabemos que não existe linearidade quando se fala de um organismo vivo como a cidade.
            O modelo biológico também pode ser associado ao urbanismo, quando imaginamos o corpo humano e seu comportamento biológico em razão de sua interação com a organização espacial da cidade. Ou seja, como a pressão sanguínea, a mente e, de forma geral, o corpo das pessoas reagem em relação a determinados modelos urbanísticos.
            Investigar como os modelos urbanísticos interagem e interferem na biologia dos seres humanos e usar esses resultados para planejar as cidades é, portanto, o objetivo do biourbanismo. Fica cada vez mais claro que os organismos vivos compartilham com os edifícios e as cidades os mesmos modelos e as mesmas regras que governam os sistemas hierárquicos mais complexos. Embasados nesses conceitos, os planejadores urbanos poderão, em um futuro próximo, planejar sistemas urbanos realmente sustentáveis.
            O planejamento biourbanístico parte do principio de que não é possível construir um espaço urbano se não forem consideradas, além da vida econômica e social, também a interação das cidades com a vida biológica.
            A abordagem científica do biourbanismo pode promover a integração das cidades com sistemas científicos como biologia, ecologia, estatística, termodinâmica etc. As similaridades evidenciam-se não somente na metodologia comum, mas no conteúdo dos resultados, pois a cidade representa um ambiente vivo para abrigar espécies humanas.
            Esse modelo possibilita a identificação de processos que possam garantir uma eficiência sistêmica no planejamento dos padrões de qualidade de vida dos habitantes das cidades, além de abrir espaço para fascinantes cenários de pesquisa nessa área.
            Como as cidades representam um ambiente vivo para os seres humanos, é fundamental conceber modelos de planejamento que criem estruturas urbanas adequadas às nossas necessidades biológicas e neurofisiológicas.
            Não é mais possível pensar em planejamento urbano simplesmente como uma visão aérea do espaço geográfico. É necessário enfatizar, também, a análise do tecido urbano com os princípios orientados para a saúde humana, em micro e macroescalas. A ideia é criar ambientes urbanos que reflitam a inerente afinidade humana pela natureza e possam, ao mesmo tempo, nutrir nossos sistemas biológicos, psicológicos e fisiológicos.
            Dentre as inúmeras possibilidades da aplicação prática dessa teoria estão, por exemplo, a criação de jardins e outros espaços urbanos que concentrem um amplo espectro de experiências sensoriais; a implantação de modelos que ajustem o microclima nas diversas regiões da cidade; a preocupação com a acústica; e a utilização de sons como parte do espaço urbano. Além disso, os seres humanos são predispostos a sentirem-se mais confortáveis no entorno de certos tipos de formas geométricas.
            A natureza, o corpo humano e a sensitividade são importantes para que todos entrem em contato com a realidade e, a partir disso, seja possível construir uma realidade que junte a cidade e os seus habitantes.
            As cidades não são somente espaços para abrigar pessoas. Elas são, principalmente, locais para conectá-las e proporcionar bem-estar. Nesse aspecto, o biourbanismo pode vir a ser uma importante ferramenta para ajudar os planejadores a projetarem espaços urbanos e cidades mais confortáveis, física e emocionalmente, a fim de transformar a vida urbana das gerações futuras.

CLAUDIO BERNARDES é engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É professor da Fundação Getúlio Vargas, da ESPM e é presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação)
Folha de S. Paulo – Colunistas – 25/05/2015.

INFORMAÇÕES
– 40 mil mortos nas ruas e nas estradas do Brasil em 2013.
– Das 5394 mortes no trânsito registradas em todo o Estado de São Paulo, em 2011, 39% eram referentes a pedestres, 32% eram motociclistas, 23% passageiros de veículos automobilísticos e 6% ciclistas (286 mortes).
– De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), em torno de uma em cada oito do total de mortes globais é resultado da exposição à poluição do ar. Isso que dizer que sete milhões do total de mortes que ocorrem todos os anos tem como fator de risco a poluição atmosférica. Os resultados da OMS também enfatizam uma conexão mais robusta entre poluição do ar e as doenças cardiovasculares ou câncer.
– Efeitos negativos da poluição sonora na saúde dos seres humanos: Insônia · Estresse · Depressão · Perda de audição · Agressividade · Perda de atenção e concentração · Perda de memória · Dores de Cabeça · Aumento da pressão arterial · Cansaço · Gastrite e úlcera · Queda de rendimento escolar e no trabalho · Surdez.

            (Tipo VUNESP) – Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero dissertativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A biourbanidade e os desafios impostos por cidades predadoras.

Exemplo deROTEIRO
1. As cidades cresceram impondo sua própria natureza? Ou desde o início já impomos nossa natureza a elas? As cidades apresentam desenvolvimentos inconsequentes?
2. Em quais aspectos as cidades se nos apresentam predadoras?
3. De que maneiras as cidades podem ser compreendidas como organismos vivos? A cidade sofre intervenções coletivas e então, porque um indivíduo não tem controle do desenvolvimento urbano, a cidade nos parece um organismo vivo, autônomo?
4. Os sistemas produtivos se modificaram no último século: as cidades também? Como seria uma cidade ideal, biologicamente sustentável?
5. O que já pode ser feito para que as cidades sejam menos nocivas à biologia humana?

14. RESUMO

            (Tipo UEM) – Redija um RESUMO, em até 15 linhas, apresentando as informações principais do texto O Biourbanismo, de Claudio Bernardes. Lembre-se de que, em um resumo, são expostas as ideias principais do texto. Você não pode copiá-las literalmente nem deve expressar sua opinião e/ou comentário sobre elas.
 
Exemplo deROTEIRO
1. O que é biourbanismo? Como se via a cidade no início do século 20?
2. A cidade é vista como ser vivo que se desenvolve linear ou ciclicamente? O modelo biológico da cidade também pode ser visto pelas alterações que provoca no corpo humano?
3. Qual é o objetivo do biourbanismo? O que se pretende com a abordagem científica do biourbanismo?
4. Algumas possibilidades de aplicação prática do biourganismo.

13. DISSERTAÇÃO
ADOTE UM BANDIDO – Raquel Sheherazade

            O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que em vez de prestar queixa contra seus agressores, preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso. 
            É que a ficha do sujeito – ladrão conhecido na região – está mais suja do que pau de galinheiro.
            Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos “vingadores” é até compreensível. 
            O Estado é omisso. A polícia, desmoralizada. A Justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem, que, ainda por cima, foi desarmado? 
            Se defender, claro! 
            O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. 
            E aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho no poste, lanço uma campanha: 
            “Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!”

http://rachelsheherazade.blogspot.com.br/2014/02/adote-um-bandido.html
AMEAÇA À HUMANIDADE

            A falha humana que eu mais gostaria de corrigir é a agressividade. Ela pode ter sido uma vantagem na época dos homens das cavernas, para que eles pudessem obter mais comida, território ou uma parceira com quem se reproduzir, mas, agora, ela ameaça destruir todos nós.

Stephen Hawking, físico inglês http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/disseram/ameaca-a-humanidade/
ADOTE UM BANDIDO! – Luiz Flávio Gomes

            Essa é a campanha lançada pela infeliz jornalista Raquel Sheherazade (SBT), depois que um grupo de bandidos de classe média, no Rio de Janeiro, chamados “Bairro do Flamengo”, prenderam, espancaram e amarraram em um poste um jovem “criminoso” ou “possível criminoso” (O Globo 5/2/14, p. 8). Justificativa: o Estado é omisso, a Justiça é falha e a polícia não funciona. Tudo isso é verdade, mas o Estado democrático de direito não permite a “solução” encontrada: justiça com as próprias mãos! Quem faz isso é um bandido violador do contrato social. Quem se entrega lascivamente à apologia do crime e da violência (da tortura e do linchamento) também é um bandido criminoso (apologia é crime). Se isso é feito pela mídia, trata-se de um pernicioso bandido midiático apologético. Para toda essa bandidagem desavergonhada e mentecapta a criminologia crítica humanista prega a ressocialização, pela ética e pela educação.
            A ressocialização desses jovens bandidos de classe média se daria por meio de uma marcha da sensatez, em todo país, quebrando tudo quanto é resistência da elite burguesa estúpida, adepta do capitalismo selvagem, extrativista e colonialista, que é a grande responsável pelo parasitismo escravagista assim como pelo ignorantismo do povo brasileiro (em pleno século 21, 3/4 são analfabetos totais ou funcionais – veja Inaf). A ressocialização desta casta burguesa retrógrada passa pelo ensino do elogiável capitalismo evoluído e distributivo, fundado na educação de qualidade para todos, praticado por Dinamarca, Suécia, Suíça, Holanda, Japão, Coreia do Sul, Noruega, Canadá, Áustria etc.
            Quanto aos jovens marginalizados temos que distinguir: os violentos perversos, que representam concreto perigo para a sociedade, só podem ser ressocializados dentro da cadeia, que por sua vez e previamente também precisa ser ressocializada, depois de um arrastão ético em toda sociedade brasileira que, nessa área, encontra-se em estágio avançadíssimo de degeneração moral. Em relação aos jovens não violentos, a solução é a educação de qualidade obrigatória, em período integral e em regime de internação, quando o caso. Nenhuma sociedade moralmente sã admite milhões de crianças abandonadas nas ruas!
            E quanto à bela jornalista da bandidagem apologética? Eu proponho dar início à sua proposta e gostaria de adotá-la por uns seis meses para ensinar-lhe ética iluminista, de Montesquieu a Voltaire, de Diderot a Beccaria, de John Locke a Rousseau e por aí vai. O que está faltando para toda essa bandidagem nacional difusa é a emancipação intelectual e moral de que falava Kant, que hoje exige uma revolução (da qual todos deveríamos participar) ética e educacional. Temos que romper radicalmente com nossa tradição colonialista, teocrática, selvagem e parasitária, ou nunca teremos progresso (veja Acemoglu/Robinson). Essa é a solução. O resto que está aí é pura bandidagem.

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. http://institutoavantebrasil.com.br/adote-um-bandido/ 06/02/2014

            Com base na leitura dos textos acima e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-­argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema Justiça com as próprias mãos: problema ou solução? Apresente proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

PREPARAÇÃO DO TEMA:
 
O Brasil ainda sofre com a ausência de uma ideologia nacional.
 
ESTADO
Ordem (mais ética e menos violência é igual a paz)
e Progresso (infraestrutura e investimentos na produtividade)
 
Objetivos do ENCLAUSURAMENTO:
1. Segurança pública
2. Exemplo
3. Punição
 
Justiça com as próprias mãos:
Proporciona exemplo, punição e segurança pública?

Exemplo deROTEIRO PARA A DISSERTAÇÃO
1. TESE. O linchamento público ou a defesa pessoal armada são opções legítimas?
2. ARGUMENTO 1. CONSEQUÊNCIAS. Aumenta ou diminui a violência?
3. ARGUMENTO 2. INCUMBÊNCIA. A ineficiência do Estado justifica a justiça popular?
4. ARGUMENTO 3. Na justiça popular, a margem de erro é inaceitável?
4. ARGUMENTO 3. Na justiça popular, a justiça é imediata?
5. CONCLUSÃO. INTERVENÇÃO. Educação profissionalizante e policiamento ostensivo resolvem?

12. RELATO

            Escreva um relato de um linchamento público. Imagine ter presenciado um ato de “justiça com as próprias mãos” e escreva o que testemunhou. Faça isso em 10 a 15 linhas. Atribua um título.

Exemplo deROTEIRO
1. Qual foi o suposto crime cometido pelo linchado?
2. Quando, onde, como aconteceu o linchamento?
3. Sobre o estado emocional dos linchadores e a conclusão do linchamento: foi espancado até a morte? foi abandonado desfalecido? os linchadores fugiram assim que a polícia apareceu?

11. DISSERTAÇÃO
Não sou Charlie nem Chérif nem Said

            Podemos pôr em risco a segurança e a vida de outras pessoas em nome da liberdade de expressão e do livre pensar? A liberdade de opinião e o direito de expressá-la são uma conquista social, não apenas um direito individual para servir aos interesses e ao narcisismo de pessoas ou de grupos. Portanto, o livre exercício do direito de opinar, criticar, caricaturar e denunciar exige reflexão, responsabilidade e ética.
            Os talentosos desenhistas e chargistas do jornal satírico Charlie Hebdo mergulharam fundo naquilo que abraçaram como missão: criticar, caricaturar e satirizar os poderes político, econômico, religioso e social. Como os mergulhadores que ultrapassam os limites, foram tomados pelo delírio das profundezas. Desafiaram a minoria extremista e fanática do islamismo.
            A sátira focando personagens e situações do cotidiano francês e internacional tornou-se a marca do sucesso do Charlie Hebdo. Mas o sucesso sempre tem bônus e ônus. Algumas “vítimas” do Charlie, entre elas líderes políticos, religiosos e celebridades, reagiram com processos judiciais e ameaças. A Redação do semanário chegou a sofrer um incêndio criminoso em 2011.
            Mesmo diante dessa situação ameaçadora, a turma do Charlie não baixou o nível do seu poder de fogo satírico, em uma demonstração de uma coragem suicida, como definiu o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, em artigo no Le Monde em 8 de janeiro.
            Agora os dados estão sobre a mesa: o Estado, o governo, o povo francês e até a União Europeia estão na incômoda e obrigatória situação de responder a um ato de barbárie causado pela irrefletida troca da sátira pelo insulto e pelo desrespeito à fé e à crença de grupos minoritários de radicais fanáticos, que fazem uma leitura errada do Alcorão.
            (...)
            Não podemos transformar a liberdade de expressão em um dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e geram autoritarismo e posições extremistas. Aliás, na Europa e nos EUA essa discussão está em curso e seria muito saudável que nós, brasileiros, iniciássemos essa reflexão que tanto nos faz falta.
            Outras reflexões mais profundas devem ser feitas e a mais transcendente de todas diz respeito à forma de convivência entre as culturas ocidental e oriental. São duas estruturas de pensamento, hábito, costumes, idiomas, religiosidade, crenças e sistemas políticos. São concepções e estilos de vida diferentes e que começaram a se revelar um para o outro, com o auxílio dos meios de comunicação de massa.
            É preciso que nós, ocidentais, façamos uma revisão dos nossos conceitos e do nosso modo de relacionamento com os povos da banda oriental do planeta. Vamos nos despir da roupagem de colonizadores que sempre se relacionaram pela dominação, pelo subjugo e humilhação dos povos colonizados.

Luiz Carlos Barreto é produtor de cinema e realizou mais de 80 filmes
Reproduzido da seção “Tendências/Debates” da Folha de S.Paulo, 20/1/2015
DOGMA: ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar. (HOUAISS)
7 de janeiro

            Dizendo ter vingado o profeta Maomé, assassinos encapuzados entram num carro preto e aceleram rumo a um destino desconhecido. No vídeo, logo divulgado, é possível ver a pressa brutal com que fuzilaram um guarda, já caído na calçada, antes de fugir. Concluía-se assim o atentado que matou 12 pessoas, entre jornalistas, cartunistas e policiais, na sede do semanário satírico “Charlie Hebdo”, na manhã desta quinta-feira, 7 de janeiro de 2015, em Paris.
            A publicação estava marcada havia tempos pelos seguidores do fanatismo islâmico. Em 2011, um incêndio criminoso atingia sua sede, buscando punir os autores de algumas caricaturas do profeta. Ninguém, na Redação, se intimidou. Ao contrário, seguidas edições se dedicaram a condenar, pelo sarcasmo, a estreiteza e a violência dos fundamentalistas. Seu diretor, Stéphane Charbonnier, constava de uma “lista de procurados” da Al Qaeda; hoje está morto, ao lado de um dos mais conhecidos chargistas do mundo, Georges Wolinski, fuzilado aos 80 anos.
            Os responsáveis pelo atentado sem dúvida terão percebido o quanto o humor é importante para a defesa da liberdade e da razão.
            O terrorismo muitas vezes se faz como pura vingança, a exemplo do morticínio de poucos dias atrás numa escola paquistanesa onde estudavam filhos de militares engajados na repressão aos extremistas.
            No massacre em Paris, acrescentam-se objetivos diversos. Impunha-se silenciar uma publicação que atuava como fonte incansável de desmoralização do que as religiões podem ter de mais triste, de mais irracional, de mais homicida.
            Foi pela zombaria, aliás, que o Iluminismo conseguiu várias de suas brilhantes vitórias contra a intolerância dogmática da Igreja Católica no século 18.
            Os panfletos de Voltaire, a sorridente relativização das tradições na pena de Montesquieu, o urbano ceticismo de Hume, tudo contribuiu para que se tornasse mais difícil de sustentar – porque tola, porque inútil, porque cega, porque ridícula – a obediência literal a um sistema de crenças advindo de uma época de medo e ignorância.
            A estreiteza católica foi vencida; recuperou-se, da religião cristã, o que sempre teve de pacificador, caritativo e generoso. Hoje, o que possa haver de pacífico, arejado e bom no islamismo se vê, a cada momento, ameaçado por esse exército de bárbaros.
            Num ambiente em que alguns jovens ocidentais se sentem fascinados pelo radicalismo muçulmano, o esforço e a coragem exigidos para desarmar o obscurantismo passam, mais uma vez e como sempre, pela liberdade de expressão e – mais do que nunca – pelo talento de troçar, de brincar, de rir.
            Neste atentado que, conforme frisam alguns comentaristas, surge como o “11 de Setembro” da imprensa mundial, é ilustrativo que a vítima tenha sido uma publicação satírica.
A indignação, a revolta, o luto e as lágrimas se impõem. Mas que não se perca o sorriso. Tristes são os assassinos. Nosso é o sorriso da liberdade, da esperança e da razão.

Editorial da Folha de S. Paulo, 08/01/2015
Comediantes estão cada vez mais sendo perseguidos

            A gente que faz comédia está cada dia mais perseguido, e isso é muito ruim para o comediante. Esses dias fiz piadas sobre a manifestação e acabei sendo perseguido. Outro dia a piada falava do frio de Curitiba e acabei sendo ameaçado por feministas, ou seja, uma cutucada dispara outra e é preciso ficar atento. Só que ficar atento não é bom para o humor, o humor tem que ser verdadeiro e ácido quando necessário.
            Se você pensar duas vezes se vai ou não vai ofender alguém é melhor nem fazer piada, porque a piada sempre vai ter um alvo. Acredito que é possível fazer piadas com qualquer assunto, depende só de como você trata esse assunto e da dose de exagero que você coloca para que fique engraçada.
            Não devemos, enquanto humoristas, focar somente em um estilo de comédia para não cansar e saturar o público. Claro que sempre devemos ser honestos com a plateia, o consumidor de humor saca quando o comediante está forçando uma barra.
            O processo criativo deve ser provocado, não adianta esperar que as ideias apareçam, é preciso exercício. Criar é uma aeróbica mental e, na maioria das vezes, as ideias estão lá, só esperando para serem resgatadas.
            O humorista não pode ter medo de tentar, até porque esse é o nosso trabalho. Nunca saberei se a piada funciona ou não até a hora que subo no palco e me arrisco. Já cansei de sair com três páginas de texto escrito e conseguir salvar só três piadas que realmente funcionaram, e olhe lá.

Diogo Portugal UOL Notícias Opinião - 09/05/2015

Escreva texto dissertativo em prosa que responda a tema:

Já podemos ter uma liberdade de expressão ideal ou ainda temos de transigir?

Exemplo deROTEIRO:
1. Já podemos ter uma liberdade de expressão irrestrita? Todos podem publicar o que quiserem a respeito de quem quiserem?
2. A Justiça oferece possibilidades de reparo àqueles que se sentem prejudicados. Isso é o suficiente?
3. Nos casos de ataques terroristas, apenas os extremistas estão errados ou a mídia internacional deve transigir e respeitar as limitações de outras culturas?
4. Nos casos dos humoristas brasileiros, eles devem ser limitados em suas piadas ou todos devem tolerá-los em nome do humor e da crítica?
5. Proponha algum tipo de limitação ou acordo a fim de diminuir o conflito entre sátiros e satirizados. Podemos pensar numa liberdade de expressão ética? Num conselho de autorregulamentação como o CONAR?

10. ARTIGO DE OPINIÃO

Escreva artigo de opinião a respeito de publicação satírica que o tenha prejudicado. Use no mínimo 10 e no máximo 15 linhas.
 
Observação: o artigo de opinião permite uma linguagem pessoal, portanto, use verbos na primeira pessoa, mas evite pronomes.
 
Exemplo deROTEIRO:
1. O que aconteceu?
2. Em que se sentiu prejudicado?
3. Critique o veículo publicitário da sátira.

9. DISSERTAÇÃO
Manifesto contra o Estatuto da Família - PL 6583/2013 – AVAAZ.org

            Arquivado no final do ano de 2014, o Projeto de Lei nº 6.583/2013, denominado Estatuto da Família, voltou à tramitação por iniciativa do Deputado Federal, Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
            O Estatuto da Família, no formato atual do Projeto de Lei, prevê muito corretamente em seu artigo 1º o seguinte: “Esta Lei institui o Estatuto da Família e dispõe sobre os direitos da família, e as diretrizes das políticas públicas voltadas para valorização e apoiamento à entidade familiar”.
            Ou seja, atendendo ao preceito constitucional de proteção à família, impõe ao Poder Público o estabelecimento de diretrizes e ações tendentes à valorização e apoio à entidade familiar.
            Todavia, anacronicamente, fugindo completamente da realidade social atual, prevê em seu artigo 2º que: “Para os fins desta Lei, define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
            Assim, no caso de aprovação do PL na sua versão atual, apenas e tão somente será entendida como família, logo objeto de especial proteção do Estado, a entidade familiar formada por um casal composto por um homem e uma mulher, excluindo-se sem qualquer justificativa os casais constituídos por dois homens ou duas mulheres. Excluindo ainda da definição de família as famílias adotivas, ao empregar o termo “descendentes” que se refere abertamente unicamente à parentalidade biológica.
            Se a Carta Magna garante que somos “todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (CF – art. 5º, “caput”), se “homens e mulheres são iguais em direitos” (CF – art. 5º, I) e se “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas” (CF – art. 5º, X), o art. 2º do PL nº 6.583/13 é flagrantemente inconstitucional por vedar o reconhecimento como entidade familiar à união homoafetiva.
            A inconstitucional exclusão da formação familiar homoafetiva do conceito de entidade familiar previsto no PL resultará na inviabilização da adoção de crianças e adolescentes por pares homoafetivos como casais, obrigando seus membros a voltar ao retrógrado expediente de habilitarem-se e adotarem seus filhos como solteiros, privando o adotando do direito de ser juridicamente reconhecido como filho de ambos os pais com os reflexos dai decorrentes no campo previdenciário e sucessório.
            A ANGAAD – Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção e o IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família, através de suas comissões nacionais de Adoção e da Diversidade Sexual, entendem que o projeto não pode ser aprovado sem a reformulação do conceito de entidade familiar contido no seu artigo 2º. Sugere-se que a redação seja alterada para:

Art. 2º Para os fins desta Lei, define-se entidade familiar como o núcleo social formado por duas ou mais pessoas unidas por laços sanguíneos ou afetivos, originados pelo casamento, união estável ou afinidade.

            Tão pequena alteração dará constitucionalidade ao projeto e atenderá à realidade social atual que reconhece como legítimas as múltiplas formas de composição familiar, respeitada a laicidade do Estado. Cabe à sociedade civil e ao Estado Democrático de Direito avançar na promoção e garantia de direitos a todos os cidadãos independentemente de sexo, gênero, raça, religião ou orientação afetiva, enfrentando diferenças, preconceitos e desigualdades.

ANGAAD – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE GRUPOS DE APOIO À ADOÇÃO.
Comissão Nacional de Adoção e Comissão da Diversidade Sexual do IBDFAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA.

https://secure.avaaz.org/po/petition - 21/02/2015

Escreva um texto dissertativo em prosa que responda à seguinte pergunta:

Quais critérios devem ser adotados para a elaboração do conceito de família?

Exemplo deROTEIRO:
1. Sobre as modificações na estrutura familiar nas últimas décadas. Dos lares chefiados por mulheres aos casais homoafetivos. A família está desaparecendo ou se modificando?
2. A união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, é exigência fundamental e indispensável para o reconhecimento de uma família? O Estado deve manter o conceito consanguíneo de família para não se desviar dos critérios de perpetuação da espécie? Ou não cabe ao Estado tomar posições filosóficas, mas apenas assegurar condições para que seus cidadãos cristalizem suas concepções em paz?
3. Uma família depende da consanguinidade ou bastam afetividade, coabitação e colaboração? Por que a consanguinidade é necessária? Por que a consanguinidade não é necessária? Um núcleo social homoafetivo deve ser aceito, porém com outro nome que não seja família?
4. É função do Estado referendar por meio de leis as transformações culturais? Os direitos conquistados para as famílias tradicionais devem ser estendidos a todos os outros formatos de família?
5. Faça uma proposta para o conceito de família a ser estabelecido no Estatuto da Família.

8. RESPOSTA ARGUMENTATIVA

Use no mínimo 10 e no máximo 15 linhas para responder com argumentos a seguinte pergunta:

A consanguinidade é necessária e indispensável para a caracterização de uma família?

Exemplo deROTEIRO:
1. Responda objetivamente à pergunta tema e explique sua resposta.
Se você acha que a consanguinidade é necessária, explique com outra resposta: a família é uma estrutura social própria para a geração, criação e educação dos novos cidadãos? quaisquer outros núcleos são apenas associações?
Se você acha que a consanguinidade não é necessária, explique com exemplos de outras estruturas familiares.
2. Argumente. Esclareça por que a consanguinidade é ou não necessária para a caracterização de uma família?
É necessária porque a família é uma formação natural, de reconhecimento social, que se completa com a geração de filhos?
Não é necessária porque as mesmas funções serão cumpridas com filhos naturais ou adotivos. De qualquer maneira, os esforços de cooperação e desenvolvimento principiam-se em afetividade, não em lucro.
3. Argumento conclusivo:
O Estado deve manter o conceito consanguíneo de família para não se desviar dos critérios de perpetuação da espécie?
Há muitos casais heterossexuais sem filhos e nem por isso deixam de ser considerados famílias?

7. DISSERTAÇÃO
Universidade gratuita para aluno rico é aberração brasileira – Gustavo Ioschpe

            Algumas pessoas tentam desqualificar a cobrança alegando dificuldades práticas. Esse sistema seria muito difícil de implementar, dizem elas. Criaria um grande risco de deixar gente pobre de fora e ainda renderia pouco aos cofres públicos. Ora, se isso fosse verdade, os países com os melhores sistemas educacionais do mundo não o teriam adotado. Em realidade, o modelo é simples: institui-se a cobrança de uma mensalidade, e quem não tem condições de pagá-la procura a sua universidade em busca de abatimento. O desconto pode, inclusive, ser superior a 100%, dando não apenas gratuidade como auxílio de custo a estudantes pobres. Basta levar a sua declaração de renda e a dos pais/responsáveis para comprovar a ausência de renda.
            A Receita Federal institui recomendações de valor-limite a ser cobrado de acordo com a renda familiar. Com uma simples regra adicional, para não facilitar ainda mais a vida dos sonegadores: quem cursou o ensino médio em escola privada deve pagar pelo menos a mensalidade que pagava na escola. O esquema não renderia pouco, não. Nas últimas semanas fiz o seguinte exercício: com dados cedidos pela Hoper Educação, descobri as mensalidades das universidades privadas top de linha em oito grandes capitais brasileiras para os quinze cursos com mais alunos na graduação. Tomando como base o perfil socioeconômico dos alunos da USP, estimei a porcentagem de alunos que cursaram o ensino médio em colégios particulares para cada um desses cursos.
            Presumi que essas pessoas poderiam continuar pagando mensalidades pelo menos iguais às das melhores universidades privadas (explicações mais detalhadas dos cálculos estão em twitter.com/gioschpe). Provavelmente é até um valor subestimado, já que muitas das universidades públicas têm melhor qualidade que as privadas e, portanto, poderiam cobrar mensalidades mais altas. Mas apenas com esse esquema simples de cobrança seria possível arrecadar mais de 7,4 bilhões de reais por ano. Mesmo em um país de cifras e desperdícios colossais, não é pouca coisa.
            Mais decisiva que o valor diretamente arrecadado ou o fim de uma injustiça social em um país tão desigual, a cobrança de mensalidades nas universidades públicas permitiria sanar sérias distorções do nosso modelo de ensino superior. O Ministério da Educação (MEC) poderia cortar o financiamento ao orçamento geral das universidades federais (a mesma coisa para as secretarias estaduais de educação e as universidades estaduais). As universidades seriam responsáveis por obter seu financiamento diretamente dos alunos. Os alunos que não pudessem pagar a mensalidade seriam subsidiados diretamente pelo MEC. Isso forçaria as universidades públicas a cobrar mensalidades de valores compatíveis com os de mercado.
            Com sua atual estrutura de custos, seria impossível. Nossas universidades públicas viraram cabides de emprego. Há só dez alunos por professor em universidades federais, ante dezoito nas universidades privadas. Há apenas oito alunos por funcionário, contra 21 nas privadas. Pior: a maioria dos professores é remunerada como se fosse pesquisador de tempo integral, condição real restrita, de fato, a uma pequena minoria. Para fecharem as contas, as universidades teriam de demitir professores e funcionários improdutivos. E talvez baixar o salário fixo dos professores. O MEC e as agências de fomento complementariam sua renda por meio de pagamento por projeto de pesquisa. Estimulariam a produtividade de nossos melhores pesquisadores (e há excelentes pesquisadores em nossas universidades, na maioria dos casos irritados por ter de aturar colegas descompromissados). Outro caminho para as universidades seria o incremento na área de extensão, aquela que lida com empresas e outros públicos externos, fazendo com que suas atividades beneficiassem o setor produtivo brasileiro. Hoje o Brasil produz um número razoável de doutores e papers, mas muito poucas patentes. E é muito difícil para as empresas contarem com pesquisadores de ponta em seus projetos, já que a academia lhes oferece salário bom e estabilidade no emprego.
            O que fazer com todo o recurso que seria poupado pelo MEC e pelas secretarias, substituído pelo pagamento de alunos e de projetos em parceria com o setor produtivo? Quando comecei a defender essa ideia, há mais de dez anos, sugeria que o dinheiro fosse reinvestido em educação básica, à época ainda carente. Hoje já gastamos em educação básica o mesmo que países desenvolvidos, e está claro que o gigantismo paquidérmico do estado impede o país de crescer. Nada melhor, portanto, que devolver esse dinheiro à sociedade, via redução de impostos.
            Essa seria uma boa defesa para convencer aqueles que esgrimem um argumento canhestro para defender a manutenção da gratuidade até para alunos abastados: "Mas eu pago tanto de impostos e nunca recebo nada de volta do estado, a única coisa que exijo é universidade gratuita pros meus filhos". Bem, mesmo quem não usa hospitais ou escolas públicas recebe bastante do estado, sob forma de policiamento, estradas, defesa nacional, sistema judiciário etc. E o objetivo de um sistema de tributação justo não é ser um toma lá dá cá, em que você paga de um lado e recebe do outro, mas sim fazer a redistribuição de renda, em que os mais ricos ajudam os mais pobres.

http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/universidade-gratuita-para-aluno-rico-e-uma-aberracao-brasileira/
USP: Mensalidade poderia ser paga por 60% dos alunos

            Seis em cada dez alunos da graduação da USP têm condição econômica para pagar mensalidade, segundo critérios do Prouni (programa federal de bolsas em faculdades privadas).
            A arrecadação anual da maior universidade pública do país poderia aumentar R$ 1,8 bilhão, caso fosse adotado um modelo que combinasse cobrança na graduação e pós-graduação e concessão de bolsas para estudantes da graduação.
            O cálculo leva em conta uma mensalidade próxima ao valor médio cobrado pela PUC-Rio (R$ 2.600), melhor instituição superior privada do país segundo o RUF (Ranking Universitário Folha).
            O valor potencial arrecadado representa 44% do subsídio de R$ 4,1 bilhões recebido pela USP em 2013 do governo estadual – que é a principal fonte orçamentária da USP. A legislação estabelece que 5% do ICMS do Estado seja transferido à universidade.
            A Folha analisou diferentes cenários hipotéticos de financiamento para a USP, que enfrenta uma de suas maiores crises orçamentárias.
            Os problemas financeiros forçaram a universidade a usar R$ 1,3 bilhão dos R$ 3,6 bilhões de sua poupança, principalmente devido aos seguidos reajustes salariais.
            Atualmente, a folha de pagamentos sozinha excede o que a USP recebe por ano do governo estadual.
 
            PERFIL DOS ALUNOS
            Dados oficiais da USP indicam que 34% dos alunos vêm de famílias com renda mensal superior a dez salários mínimos (R$ 7.240). Pelas normas do Prouni, esses estudantes não teriam direito seja à bolsa integral seja aos 50% de desconto.
            Também segundo o critério do Prouni, outros 30% dos alunos da USP poderiam ter acesso a bolsa de 50% por terem renda familiar entre cinco e dez salários mínimos.
            Se esses 64% dos alunos de graduação, mais todos os de pós-graduação, pagassem a mensalidade média da PUC-Rio, a USP levantaria R$ 1,8 bilhão ao ano.
            Caso a mensalidade considerada nesse cenário fosse o valor médio da Universidade Mackenzie (R$ 1.061), o montante arrecadado por ano seria R$ 730 milhões (18% do orçamento da USP).
            Qualquer mudança na gratuidade na USP, porém, exigiria alteração da Constituição, que proíbe cobrança de mensalidade em instituições públicas de ensino. Mas a discussão a respeito desse tema é recorrente em razão de limitações orçamentárias do poder público.
            No caso da USP, se a universidade não contasse com repasse do governo, a mensalidade teria de ser R$ 3.900 para todos os alunos. Pelo menos 35% deles têm renda familiar total inferior a isso.
            Esse valor é maior que o cobrado por instituições de ponta privadas como o Insper – faculdade de elite paulista –, em que a mensalidade média é de R$ 3.260. Para atrair estudantes de diversas classes sociais, o instituto oferece bolsas integrais não reembolsáveis e financiamento parcial.

Folha de S. Paulo Educação 02/06/2014
Fim da gratuidade nas públicas divide opinião de acadêmicos

            A cobrança de mensalidade em universidades públicas é um tema que divide acadêmicos do país. Para um grupo, é dever do Estado garantir ensino gratuito e de qualidade a todos. A cobrança, para essa corrente de opinião, poderia excluir ainda mais os alunos de baixa renda do ensino superior.
            Outro grupo entende que o valor arrecadado pode custear expansão de vagas, melhorar a pesquisa e liberar o Estado para investir em outras áreas. "Não há razão para não cobrar, dados os benefícios que um diploma de nível superior traz para os formados, sobretudo na USP", afirmou Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE. "Uma cobrança razoável poderia melhorar as finanças da universidade e fazer com que os alunos pensassem duas vezes antes de se matricular sem se dedicar aos estudos", completou.
            Segundo Naercio Menezes Filho, professor da USP e do Insper, a maior parte dos alunos que entra nas universidades públicas pôde frequentar boas escolas privadas. "Então, do ponto de vista de justiça social, faria sentido que alunos com melhores condições pagassem mensalidade", disse.
            Além disso, afirma Menezes Filho, o governo hoje gasta muito mais por aluno do ensino superior do que por estudante do básico, "que oferece maiores retornos aos investimentos recebidos".
            Ex-reitor da USP e consultor de ensino superior, Roberto Lobo se mostra contrário à cobrança de mensalidade nas universidades públicas. "O pagamento de mensalidades teria contribuição pequena para resolver os problemas diante dos atuais custos da universidade", disse.
            O ex-reitor destaca que mesmo países europeus que adotaram a cobrança exigem valores quase simbólicos dos cidadãos do próprio país. Nos EUA, cerca de 90% dos estudantes têm alguma forma de financiamento.
            Lobo afirma que é "equivocado" tomar como base as dificuldades financeiras atuais da USP para iniciar a discussão de mensalidades na universidade. "O deficit se originou aparentemente de concessões exageradas às pressões corporativistas. O problema atual deverá ser resolvido pelos próprios gestores das universidades", afirmou.
            "O ensino público e gratuito é um conceito claro para mim", disse a reitora em exercício da Unesp e presidente do conselho de reitores das estaduais paulistas, Marilza Cunha Rudge. "Mas certamente teremos de fazer discussões sobre novos tipos de financiamento. Atendemos hoje uma parcela muito pequena do ensino médio", afirmou Rudge.
            O reitor da USP, Marco Antonio Zago, foi procurado pela Folha para se manifestar sobre o tema, mas não respondeu até a conclusão desta edição.

Folha de S. Paulo Educação 02/06/2014

Produza texto dissertativo que responda à seguinte questão:

Se não podemos oferecer universidade gratuita para todos,
o ético seria cobrar de todos?

Exemplo deROTEIRO
1. O sistema universitário público brasileiro fere princípios éticos ao oferecer ensino qualificado apenas para os candidatos mais preparados?
2. Todos são beneficiados com a qualificação profissional dos melhores candidatos ou o Estado garante apenas o sucesso individual de alguns cidadãos já privilegiados?
3. Os candidatos que não são aprovados pelos vestibulares teriam condições de acompanhar o desenvolvimento do sistema universitário público? A inclusão de alunos despreparados para o ensino público superior faria cair a qualidade da escola e isso prejudicaria a todos?
4. A qualificação dos ensinos fundamental e médio seria suficiente para diminuir a elitização do ensino público universitário?
5. O Estado deve oferecer ensino superior de qualidade aos mais preparados a fim de garantir quantidade e qualidade de produção e financiar ensino básico aos menos privilegiados para ampliar o número de consumidores e contribuintes?

6. RESPOSTA INTERPRETATIVA

Gustavo Ioschpe, em seu artigo “Universidade gratuita para aluno rico é aberração brasileira”, defende a oferta de ensino público universitário para todos?
- Explique sua resposta com trechos do artigo.
- Use no mínimo 10 e no máximo 15 linhas.
 
Exemplo deROTEIRO
1. Responda objetivamente a pergunta tema e explique sua resposta sem trechos do artigo.
2. Use trechos do artigo para esclarecer sua resposta.
3. Por que a resposta não poderia ser outra?

5. DISSERTAÇÃO

SEM COMPROMISSO – Lucas e Felipe / Guilherme e Santiago
 
Eu não prometo ser fiel
Nem sei se eu te ligo de novo
Beijo na boca sem namoro é mais gostoso

Se a coisa é enrolada
Não tem o mesmo gosto
Namoro bom só o namoro dos outros

Se você me apertar
Eu corro mesmo
Eu pego hoje e amanhã nós esquecemos

Beijo na boca não é namorar
Tá tatuado em mim
Eu não nasci pra me amarrar

Beijo na boca não é compromisso
Quem me conhece sabe
Eu tô correndo disso


DESEJO NÃO É AMOR – Helena Junqueira Freire
 
         Tomar posse de um corpo bonito e submisso é o sonho de qualquer sujeito.
         O desejo é egoísta. Um homem deseja o corpo de uma mulher e chama isso de amor. Ele quer exclusivamente, pelo menos no primeiro instante, satisfazer seu instinto de macho. Quer ser o dono daquele corpo, daquela mulher. E, se ela for extremamente vaidosa e submissa, será perfeita. Uma garota bonita, limpa, discreta, recatada e obediente é tudo de que um homem precisa para dizer que ama.
         E ela? Quem é ela? Isso não tem importância.
         Uma mulher vê um homem elegante, fica com ele, telefonam-se no dia seguinte, e ela diz pra amiga que foi amor à primeira vista. Isso não existe. Isso é desejo à primeira vista. Um desejo avassalador, às vezes. Doentio, até. Mas não é amor. É uma vontade enorme de possuir. De ter o corpo daquela pessoa à sua disposição.
         O amor não quer possuir; quer se unir. No amor, duas pessoas juntam suas virtudes e assumem as limitações um do outro. Tornam-se parceiros nisso que é viver. As qualidades de um colaboram na superação dos limites do outro.
         Pessoas que se amam compartilham bens, desenvolvimentos e recursos. Bens naturais e artificiais, que herdaram da natureza e das gerações anteriores; desenvolvimentos pessoais e profissionais; e recursos fisiológicos, psicológicos, culturais, tecnológicos.
         O amor é geral; o desejo é específico. O amor é orgânico; o desejo é segmentário. O amor abrange; o desejo seleciona. O amor é consciente; o desejo é instintivo. O amor é a finalidade; o desejo é o guia. O amor se renova; o desejo se mata. O amor é signo de perfeição; o desejo corresponde às nossas carências. O amor conhece quem ama; o desejo não sabe de que deseja. O amor é profundo; o desejo é limitado. O amor assume as limitações do outro; o desejo as repudia.
         O desejo então é mau? Não. O desejo é bom. Aponta para as nossas necessidades e nos faz esforçar por elas. Se o amor é o fim a ser alcançado, o desejo é a estrela guia. Ele nos encaminha. A realização dos desejos nos fortalece e nos torna a cada dia mais capazes de alcançar o amor.
         Só não devemos confundir rifle de caçar rolinha com bife de caçarolinha. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. O desejo é uma das duas partes do amor. A outra parte se chama fidelidade. Não necessariamente exclusividade. Mas fidelidade. Quem ama assume todas as adversidades até o fim. Ou seja: desejo mais parceria é igual a amor.

Escreva uma redação no gênero DISSERTAÇÃO para o tema

AS PESSOAS SE TORNARAM OBJETOS DE CONSUMO?

Exemplo deROTEIRO
1. As pessoas se tornaram objetos de consumo?
2. O culto ao corpo significa um processo de valorização para uma eventual negociação?
3. A industrialização do corpo aponta para uma desvalorização da espiritualidade?
4. A prática de bullying é sintoma de uma sociedade materialista e insensível às limitações humanas?
5. Uma ciência que ainda não aprendeu a respeitar sentimentos poderia colaborar na preservação do que já conquistamos de civilização se se dispusesse a considerar as implicações de fatores que ainda não consegue dominar intelectualmente, como a existência ou não de Deus?

4. ENSAIO
Escreva uma redação no gênero ENSAIO para o tema

AS PESSOAS SE TORNARAM OBJETOS DE CONSUMO?

Exemplo deROTEIRO
1. Explique o processo histórico de individualização.
2. Individualismo é sinônimo de egoísmo? Ou o individualismo contemporâneo exige comportamentos éticos?
3. A maioria da população é culturalmente contemporânea?
4. A afirmação do individualismo contemporâneo tem como efeito colateral a exacerbação do egoísmo?
5. A banalização da sexualidade ou o uso exclusivamente material do corpo de outra pessoa é consequência da valorização do egoísmo disfarçado de individualismo.

3. DISSERTAÇÃO

TERCEIRIZAÇÃO
 
            De acordo com Lúcia Helena Barros, advogada e sócia do escritório Fialdini Advogados, a regulamentação da terceirização beneficia as empresas contratantes em quatro pontos principais. Uma delas é que gera maior competitividade e simplifica o processo produtivo, pois passa para a responsabilidade da terceirizada as atividades que não são as principais da empresa. Outro ponto ressaltado pela advogada é que a tomadora de serviço pode ingressar com ação para reaver o que gastou com demandas judiciais referentes ao não pagamento dos direitos trabalhistas por parte da terceirizada.
            A advogada enfatiza ainda que a regulamentação dá maior segurança jurídica entre as empresas e diminui custos com ações trabalhistas. “Vai haver redução de custos, uma vez que o trabalhador não vai negociar diretamente com a tomadora de serviços. O trabalhador pela CLT encarece muito porque equivale a 100% de custo para as empresas. Mas o empregado terceirizado pode receber menos que o empregado registrado na CLT caso não seja registrado”, afirma.
            Lúcia diz ainda que a regulamentação estimula as empresas terceirizadas a terem excelência na prestação de serviços para corresponder às expectativas dos tomadores de serviço. “É patente que vai haver uma modernização dos serviços”, prevê.
            A advogada ressalta que haverá necessidade de uma maior fiscalização para que as prestadoras de serviços resguardem os pagamentos dos direitos trabalhistas. “O projeto  garante a responsabilidade subsidiária por parte dos tomadores, ou seja, caso não haja condições financeiras das prestadoras de serviços, os contratantes responderão pelo pagamento dos direitos. Os trabalhadores de qualquer maneira estão resguardados”, opina.

A TERCEIRIZAÇÃO E AS VACAS – Hélio Schwartsman
 
            Não vejo com maus olhos as novas regras de terceirização. É provável que alguns grupos de trabalhadores saiam perdendo. Sobretudo numa conjuntura econômica adversa, há quem aproveitará para achatar salários, mas esse é o tipo da situação em que não podemos olhar só para setores, devendo pensar no conjunto da sociedade.
            E, no quadro geral, a terceirização é positiva. A ideia de que sempre que o empresário ganha o trabalhador perde (e vice-versa) parte de um pressuposto errado, que é o de que a economia constitui um jogo de soma zero. Na verdade, ela é um sistema muito mais complexo, que engendra uma matemática muito mais interessante, na qual o todo pode ser maior do que a soma das partes.
            Imagine, leitor, que você tivesse, além de dar conta de seus afazeres diários, produzir toda a comida consumida por sua família. Em troca disso, não precisaria mais ir ao supermercado. Vale a pena? É óbvio que não. Especialmente se você mora em apartamento, ficaria incomodado com as vacas na sala de jantar. A especialização do trabalho viabiliza tantas mercadorias que seriam impensáveis numa economia mais primitiva e permite performances tão absurdamente superiores às de quem não é do ramo que eu saio ganhando mesmo que pague prêmios elevados a produtores e intermediários.
            É óbvio que isso não elimina o conflito distributivo entre patrões e empregados, mas o desloca para outro nível. Num mundo no qual a concorrência é acirrada, deveria interessar a todos que as empresas sejam tão produtivas quanto possível. Para um indivíduo se dar bem, é preciso apenas que ele tenha um trabalho. Mas, para que a sociedade saia ganhando, é necessário que ele faça seu trabalho. No cômputo geral, arquiteturas institucionais que incentivem a especialização e o aumento da produtividade, como é o caso da nova lei de terceirização, provavelmente geram mais bem do que mal.

Folha de S. Paulo 11/04/2015

Nove motivos para você se preocupar com a nova lei da terceirização
 
A Câmara Federal pode aprovar o projeto de lei 4.330 que facilita a terceirização e a subcontratação do trabalho. Descubra como a medida pode afetar seu dia a dia
 
            O número de trabalhadores terceirizados deve aumentar caso o Congresso aprove o Projeto de Lei 4.330. A nova lei abre as portas para que as empresas possam subcontratar todos os seus serviços. Hoje, somente atividades secundárias podem ser delegadas a outras empresas, como, por exemplo, a limpeza e manutenção de máquinas.
            Entidades de trabalhadores, auditores fiscais, procuradores do trabalho e juízes trabalhistas acreditam que o projeto é nocivo aos trabalhadores e à sociedade. Nesta terça-feira (07/04), a polícia reprimiu um protesto das centrais sindicais contra o projeto, em frente ao Congresso Nacional.
            Descubra por que você deve se preocupar com a mudança:
            1- Salários e benefícios devem ser cortados
            O salário de trabalhadores terceirizados é 24% menor do que o dos empregados formais, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles ganham em média um terço menos do salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, eles não têm participação nos lucros, auxílio-creche e jornada de seis horas.
            2- Número de empregos pode cair
            Terceirizados trabalham, em média, três horas a mais por semana do que contratados diretamente. Com mais gente fazendo jornadas maiores, deve cair o número de vagas em todos os setores. Se o processo fosse inverso e os terceirizados passassem a trabalhar o mesmo número de horas que os contratados, seriam criadas 882.959 novas vagas, segundo o Dieese.
            3- Risco de acidente deve aumentar
            Os terceirizados são os empregados que mais sofrem acidentes. Na Petrobras, mais de 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013 eram subcontratados. A segurança é prejudicada porque companhias de menor porte não têm as mesmas condições tecnológicas e econômicas. Além disso, elas recebem menos cobrança para manter um padrão equivalente ao seu porte.
            4 - O preconceito no trabalho pode crescer
            A maior ocorrência de denúncias de discriminação está em setores onde há mais terceirizados, como os de limpeza e vigilância, segundo relatório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com refeitórios, vestiários e uniformes que os diferenciam, incentiva-se a percepção discriminatória de que são trabalhadores de “segunda classe”.
            5- Negociação com patrão ficará mais difícil
            Terceirizados que trabalham em um mesmo local têm patrões diferentes e são representados por sindicatos de setores distintos. Essa divisão afeta a capacidade de eles pressionarem por benefícios. Isolados, terão mais dificuldades de negociar de forma conjunta ou de fazer ações, como greves.
            6- Casos de trabalho escravo podem se multiplicar
            A mão de obra terceirizada é usada para tentar fugir das responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e manutenção elétrica.
            7- Maus empregadores sairão impunes
            Com a nova lei, ficará mais difícil responsabilizar empregadores que desrespeitam os direitos trabalhistas, porque a relação entre a empresa principal e o funcionário terceirizado fica mais distante e difícil de ser comprovada. Em dezembro do último ano, o Tribunal Superior do Trabalho tinha 15.082 processos sobre terceirização na fila para serem julgados, e a perspectiva dos juízes é de que esse número aumente. Isso porque é mais difícil provar a responsabilidade dos empregadores sobre lesões a terceirizados.
            8- Haverá mais facilidades para corrupção
            Casos de corrupção como o do bicheiro Carlos Cachoeira e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda envolviam a terceirização de serviços públicos. Em diversos casos menores, contratos fraudulentos de terceirização também foram usados para desviar dinheiro do Estado. Para o procurador do trabalho Rafael Gomes, a nova lei libera a corrupção nas terceirizações do setor público. A saúde e a educação públicas perdem dinheiro com isso.
            9- Estado terá menos arrecadação e mais gastos
            Empresas menores pagam menos impostos. Como o trabalho terceirizado transfere funcionários para empresas menores, isso diminuiria a arrecadação do Estado. Ao mesmo tempo, a ampliação da terceirização deve provocar uma sobrecarga adicional ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao INSS. Segundo juízes do TST, isso acontece porque os trabalhadores terceirizados são vítimas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais com mais frequência, o que gera gastos ao setor público.

Escreva um texto dissertativo em prosa abordando o tema

Já estamos prontos para um mercado de trabalho com menos garantias trabalhistas?

Exemplo deROTEIRO
1. A intenção ideológica é reduzir a participação do Estado nas relações trabalhistas. A intenção econômica é baixar os custos da produção. A pauta imediata é amortecer o paternalismo, aumentar a rotatividade, diversificar os salários, diminuir a carga tributária e focalizar o sistema produtivo.
2. O Brasil já alcançou as condições básicas necessárias para se afastar das relações entre empregados e empregadores? A Justiça trabalhista já é moderna, clara e rápida o bastante, por exemplo?
3. Os trabalhadores, ou pelo menos a maioria deles, já conquistou condição profissional para negociar sozinhos salários e benefícios razoáveis com seus empregadores?
4. A terceirização é uma boa ideia para hoje ou para o futuro? O neoliberalismo é capaz de construir sociedades neoliberais?
5. A multiplicação de cursos profissionalizantes nas escolas públicas formaria jovens menos dependentes de qualquer emprego e capazes de negociar funções e salários com alguma autoridade?

2. DEFINIÇÃO

            Escreva uma definição para a palavra TERCEIRIZAÇÃO e cite como exemplo o Projeto de Lei 4.330. Use no mínimo 10 e no máximo 15 linhas.
 
ROTEIRO
1. O que é terceirização?
2. Quais setores já podem ser terceirizados no Brasil?
3. O que pretende o Projeto de Lei 4.330?

1. DISSERTAÇÃO

MAIORIDADE PENAL – Dráuzio Varella.
 
            É evidente que um adolescente de 16 ou 17 anos capaz de assaltar à mão armada e atirar naqueles que se negarem a obedecê-lo tem consciência plena de que comete um ato abominável. Considerá-lo criança imatura para compreender a enormidade do crime praticado é paternalismo ridículo.
            Também acho frouxa a legislação atual que recolhe um assassino dessa idade à Fundação Casa, para ser submetido à privação da liberdade e a medidas socioeducativas, por um período máximo de três anos.
            Por coincidência, nesta semana a revista "The Economist" publicou uma matéria em que analisa a experiência americana com a prisão de menores nas penitenciárias do país.
            A Constituição americana garante a cada Estado a liberdade para julgar menores da forma que considerar mais justa.
            Em Nova York maiores de 16 anos são enquadrados nas leis que regem os adultos, independentemente da natureza do crime. No Mississipi, a partir dos 13 anos, os autores de crimes graves recebem condenações iguais às dos adultos; em Wisconsin, a partir dos 10 anos em casos de assassinato.
            Apenas em 2005, a Suprema Corte dos Estados Unidos proibiu que menores de 18 anos fossem condenados à morte. Em 2010, foi vetada a prisão perpétua para menores que não tivessem cometido assassinatos. De acordo com a Anistia Internacional, hoje há no país 2.500 prisioneiros condenados à prisão perpétua por crimes cometidos antes da maioridade.
            Quais as consequências de leis tão severas?
            Paradoxalmente, no período de 1990 a 2010, o número de menores em penitenciárias aumentou 230%, segundo o insuspeito Centers for Diseases Control and Prevention (centros de controle e prevenção de doenças, em português).
            A probabilidade de um adolescente condenado a cumprir pena com os adultos voltar a delinquir é cerca de 35% maior do que aqueles que são julgados pelas leis específicas para infratores jovens.
            Do ponto de vista pessoal, não tenho a menor simpatia por criminosos de qualquer idade, mas frequento cadeias como médico há 26 anos.
            Não é preciso ser grande criminalista para saber que é mais fácil recuperar para o convívio social infratores mais jovens. Marginais de longas carreiras têm a vida tão estruturada no mundo do crime que eles dificilmente se adaptam ao convívio com a sociedade que os rejeita.
            Para agravar-lhes a desesperança, passaram tantos anos enjaulados em condições desumanas nos presídios brasileiros que o aprisionamento só serviu para castigá-los e torná-los ainda mais revoltados e antissociais.
            Trancar adolescentes em celas apinhadas de criminosos profissionais pode atender aos desejos de vingança da população assaltada por eles nas esquinas, mas é uma temeridade.
            Se houvesse prisão perpétua ou pena de morte no Brasil, como defendem os radicais, poderíamos ficar livres deles para sempre. Não sendo esse o caso, dia mais, dia menos, eles voltarão às ruas. Estarão recuperados, dispostos a respeitar seus concidadãos, ou mais agressivos?
            Um rapaz de 16 anos chega numa penitenciária de homens mais velhos com medo de ser estuprado, abusado e de perder a vida nas mãos dos desafetos. Será presa fácil das facções que dominam os presídios. Contará com a proteção do grupo e com as vantagens da cesta básica para a mãe e o transporte gratuito para a família visitá-lo nas cadeias espalhadas pelo interior.
            Quando for libertado, entretanto, será forçado a pagar uma mensalidade de cerca de R$ 700, cobrada a pretexto de retribuir aos irmãos presos a ajuda que recebeu enquanto esteve na mesma situação. Para saldar essa dívida eterna, não poderá mais abandonar a vida no crime, a menos que arrisque perdê-la.
            Se a sociedade julga suave a condenação máxima de três anos na Fundação Casa, no caso de menores de idade autores de crimes hediondos, nada impede a criação de leis que lhes imponham penas mais longas. Mas que sejam cumpridas em presídios especiais, distantes da convivência com marginais perigosos.
            Violência urbana é doença contagiosa que precisa ser tratada com racionalidade técnica, baseada em evidências. Adotar medidas drásticas ao sabor das emoções quase sempre provoca efeitos opostos aos desejados.

REAJA, BRASIL – Major Olímpio.
 
            A maioridade penal deveria ocorrer, na verdade, a partir dos 12 anos de idade, momento em que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) diferencia a criança do adolescente e passa a impor ao adolescente seis medidas punitivas.
            Essas medidas, no entanto, têm se mostrado inócuas, não intimidando a prática de crimes bárbaros por jovens perigosíssimos com licença legal para matar, estuprar e traficar drogas. Infelizmente, além de não proteger, o ECA serviu de salvo-conduto para "coitadinhos vítimas da sociedade".
            Por não ter argumento que convença a sociedade, defensores de bandidos juvenis se escoraram na tese da redução ser inconstitucional, por ferir cláusula pétrea da Constituição –"não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir [...] IV- os direitos e garantias individuais".
            É evidente que o disposto no artigo 228 da Constituição não se enquadra como cláusula pétrea. É, sim, política criminal. Não existe direito pétreo à inimputabilidade. Observe que o artigo 60 impede que seja abolido, e não modificado. A inimputabilidade não será abolida, será, portanto, modificada.
            A redução de crimes envolve uma série de medidas, mas é indiscutível que a redução constitucional será um fator que inibirá o crime. Dizer que apenas 1% dos homicídios no Brasil são praticados por menores, significa que de 54 mil vítimas por ano, temos 540 vítimas por indivíduos que não podem ser punidos por não compreenderem que matar uma pessoa é errado.
            É falacioso afirmar que reduzindo a maioridade penal, estamos infringindo a Convenção sobre os Direitos da Criança, da ONU, que estabelece ser criança todo o ser humano com menos de 18 anos.
            Segundo o artigo 37 da convenção, "nenhuma criança será submetida a tortura nem a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não será imposta pena de morte nem a prisão perpétua sem a possibilidade de livramento por delitos cometidos por menores de 18 anos". Ou seja, a convenção permite a aplicação de pena a menor de 18 anos que cometa crime.
            Alegar que a redução ferirá o Pacto de São José da Costa Rica, também é falacioso, pois o único dispositivo que trata de matéria criminal em relação a menores diz: "Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento".
            Com relação à vontade da população, temos certeza de que é necessário reduzir a maioridade penal. Pesquisa da CNT de 2013 revela que 92,7% dos brasileiros são a favor da redução, enquanto o Datafolha registrou que 93% dos paulistanos aprovam a redução.
            Interessante é que os intransigentes defensores da manutenção da impunidade para menores criminosos são adoradores do regime ditatorial de Cuba. Esquecem-se, no entanto, de que segundo a lei penal cubana "a responsabilidade penal só é elegível à pessoa que tenha 16 anos de idade completos no momento em que o ato passível de punição foi cometido". Por que aqui não pode ser assim também?
            Uma comissão especial analisará o mérito em 40 sessões e em três meses o plenário da Câmara poderá votar a matéria. Serão necessários 308 votos em dois turnos. Teremos perto de 400. Depois, seguirá para o Senado onde serão necessários 49 dos 81 senadores aprovando em duas votações. Teremos, no mínimo, 60 votos favoráveis.
            Os brasileiros podem ficar tranquilos, pois não há possibilidade de veto presidencial depois da aprovação no Congresso. Por se tratar de emenda à Constituição entrará em execução sem ação do Executivo.

OLIMPIO GOMES, 53, o Major Olimpio, é deputado federal pelo PDT-SP e oficial da reserva da Polícia Militar de São Paulo.

JUSTIÇA E DIREITOS PARA TODOS – Orlando Silva.
 
            A violência assusta a todos os brasileiros, independentemente de condição social, econômica ou faixa etária. Não importa onde moramos nem o que fazemos. A insegurança é parte do nosso cotidiano e todos nós buscamos o direito de viver sem medo.
            A violência é um problema complexo, resultado de diversos fatores. Soluções simplistas são falsas e ineficientes. Pior ainda, podem agravar os problemas.
            Reduzir a maioridade penal fará com que o país rompa tratados internacionais, como a Convenção sobre Direitos da Criança da ONU, ratificada em 1990.
            Cerca de 70% dos países têm 18 anos como idade penal mínima. E essa é a realidade, sobretudo, nos países que têm democracias maduras e tradição na defesa dos direitos humanos.    Países como a Alemanha e a Espanha, que reduziram a maioridade penal, diante da não diminuição da violência, recuaram de suas decisões.
            O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) determina sanções para jovens em conflito com a lei, inclusive a restrição de liberdade. É um regime próprio porque é peculiar a condição da juventude. Admito ajustes nessa lei sem deixar de reconhecer que a condição juvenil merece tratamento diferenciado.
            A sociedade tem o desafio de reinserir quem comete atos infracionais, a partir de sanções que tenham eficácia e impeçam o infrator de voltar a delinquir. Enquanto os jovens em conflito com a lei que passam por unidades socioeducativas têm reincidência de 20%, no sistema penitenciário esse índice é de 70%.
            Os presídios brasileiros se converteram em verdadeiras universidades do crime. A população carcerária já é composta, em sua maioria, por jovens. Reduzir a idade penal vai ajudar aumentar o encarceramento da juventude e fazê-la engrossar o contingente que está a serviço do crime organizado.
            O debate sobre a maioridade penal sempre ressurge quando a sociedade entra em estado de choque diante de alguma barbaridade. Vejo com tristeza a manipulação da dor de famílias que sofrem com a perda de entes queridos brutalmente. Fico indignado com oportunistas que fazem da cultura do ódio bandeira política.
            A sociedade e o Congresso Nacional – em especial– devem agir com racionalidade, sob pena de aprofundar essa barbárie.
            Acredito que o Estado deva garantir políticas públicas e permitir à juventude brasileira ser plena no exercício dos seus direitos. Que o Brasil deva superar tantas desigualdades, que é fator de tensão permanente na nossa sociedade. Sou contra reduzir a maioridade penal porque sou a favor da vida. Quero justiça e direitos para todos.

ORLANDO SILVA, 43, deputado federal pelo PCdoB-SP, é vice-líder do governo e membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

PARA EX-MINISTRO DO STF, REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DIMINUIRIA CRIME.
 
            O advogado Carlos Velloso, ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), diz que a redução da maioridade penal vai inibir jovens e criminosos. Na terça (31), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara aprovou a constitucionalidade de uma proposta que altera a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
            Folha - Por que o sr. é a favor da redução?
            Carlos Velloso - O jovem de hoje é diferente do jovem de 1940, quando essa maioridade penal [de 18 anos] foi instituída. Agora, ele é bem informado, já compreende o que é uma atitude delituosa. Muitos jovens com 16 anos já estão empregados no crime organizado. A redução vai inibir os adolescentes e criminosos que aliciam menores.
            A redução diminuiria o número de crimes?
            Sim, os jovens cometem os delitos porque não são incriminados. E por isso são procurados por criminosos mais velhos, como os traficantes.
            Uma pequena parcela dos crimes cometidos por menores são hediondos.
            Não se pode levar em conta só homicídios. Crimes contra o patrimônio têm índices maiores.

Folha de S. Paulo, 1 de abril de 2015.

Escreva texto dissertativo em prosa posicionando-se a respeito de uma idade limite para a

maioridade penal.

Exemplo deROTEIRO
1. Qual deve ser a idade limite para a maioridade penal?
2. Uma idade limite abaixo dos 18 anos faria aumentar ou diminuir o número de crimes? Por quê? Se os maiores cometem crimes mesmo sabendo das possíveis punições, por que os menores não cometeriam?
3. O que mudou no Brasil para se instituir uma idade penal menor de 18 anos? (Os jovens se tornam adultos com menos idade, por exemplo?)
Ou: O que não mudou no Brasil para não se instituir uma idade penal menor de 18 anos? (A Justiça e o sistema carcerário ainda são ineficientes para não gerar mais revolta e violência, por exemplo?).
4. As leis que nos protegem dos Direitos Humanos punem mais os cidadãos responsáveis que os delinquentes?
Ou: Um Estado que encarcera menores semianalfabetos está punindo pelas consequências de uma causa que ele se nega a erradicar?
5. Se a democracia é signo da vontade da maioria, a redução da maioridade penal deve ser aprovada para que não se coloque em risco o Estado democrático brasileiro.
Ou: A população e o Congresso Nacional devem ser menos vingativos e mais racionais para não multiplicarem a criminalidade?