Memórias de um sargento de milícias

Manuel Antônio de Almeida

questões

         Os leitores estão já curiosos por saber quem é ela, e têm razão; vamos já satisfazê‑los. O major era pecador antigo, e no seu tempo fora daqueles de quem se diz que não deram o seu quinhão ao vigário: restava‑lhe ainda hoje alguma coisa que às vezes lhe recordava o passado: essa alguma coisa era a Maria‑Regalada que morava na Prainha. Maria‑Regalada fora no seu tempo uma mocetona de truz, como vulgarmente se diz: era de um gênio sobremaneira folgazão, vivia em contínua alegria, ria‑se de tudo, e de cada vez que se ria fazia‑o por muito tempo e com muito gosto: daí é que vinha o apelido – regalada – que haviam juntado ao seu nome.
         Isto de apelidos era no tempo desta história uma coisa muito comum; não estranhem pois os leitores que muitas das personagens que aqui figuram tenham esse apêndice ao seu nome.
         Dizem todos, e os poetas juram e tresjuram, que o verdadeiro amor é o primeiro; temos estudado a matéria, e acreditamos hoje que não há que fiar em poetas: chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda. As leitoras que não concordarem com esta doutrina convençam‑me do contrário, se são disso capazes.
         Isto tudo vem para dizermos que Maria‑Regalada tinha um verdadeiro amor ao major Vidigal; o major pagava‑lho na mesma moeda. Ora, D. Maria era uma das camaradas mais do coração de Maria‑Regalada. Eis aí por que falando dela D. Maria e a comadre se mostraram tão esperançadas a respeito da sorte do Leonardo.
         Já naquele tempo (e dizem que é defeito do nosso) o empenho, o compadresco, eram uma mola real de todo o movimento social.
         – Vai mandar aprontar a cadeirinha, disse D. Maria a uma de suas escravas.
         – Vamos, senhora, vamos; que isto são os meus pegados velhos.
         D. Maria aprontou‑se, meteu‑se na sua cadeirinha; a comadre tomou a mantilha, e partiram para a Prainha.
         Maria‑Regalada recebeu‑as com uma boa risada.
         – Que milagre de Santa Engrácia! que fortuna! que alegrão! O que a traz por aqui? Isto é grande novidade!

(Trecho do quadragésimo quinto capítulo das “Memórias de um sargento de milícias”)
MOCETONA – moça alta, corpulenta e vistosa.
DE TRUZ – de qualidade.

1. O termo “regalada”, anexado ao nome Maria, oferece ao leitor o sentido de
a) aberta
b) aguda
c) estabanada
d) prazerosa
e) volumosa
 
2. No quarto parágrafo, o termo “lho” é contração dos pronomes “lhe” e “o”.
a) “lhe” refere-se à Maria-Regalada e “o” ao amor dela para ele.
b) “o” refere-se ao Major Vidigal e “lhe” à Maria-Regalada.
c) “lhe” refere-se à Maria-Regalada e “o” a “tudo”.
d) “o” refere-se a “tudo” e “lhe” à moeda.
e) “lhe” refere-se ao Major Vidigal e “o” à Maria-Regalada.
 
3. A palavra “tudo”, do início do quarto parágrafo, é classificada morfologicamente como pronome indefinido. Explique, nesse contexto, a função sintática da palavra “tudo”.
 
4. No fim do terceiro parágrafo do excerto, o narrador se refere às leitoras, e não aos leitores, como seria recomendado para o plural indefinido de leitor: “As leitoras que não concordarem com esta doutrina convençam‑me do contrário, se são disso capazes”. Contextualize o emprego do plural “leitoras”.
 
Observações para as questões 5 e 6: na metalinguagem, o narrador interrompe a narrativa para comentar a estrutura do texto, a forma; na digressão, ele o faz para comentar o conteúdo, o que foi ou será narrado.
 
5. Retire do excerto um trecho que possa exemplificar a digressão.
 
6. Transcreva do excerto um período que sirva de exemplo de metalinguagem.
 
7. Retire do excerto dois trechos que justifiquem a concepção segundo a qual a obra “Memórias de um sargento de milícias” é um romance de costumes.

         Era no tempo do rei.
         Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
         Daí sua influência moral.
         Mas tinham ainda outra influência, que é justamente a que falta aos de hoje: era a influência que derivava de suas condições físicas. Os meirinhos de hoje são homens como quaisquer outros; nada têm de imponentes, nem no seu semblante nem no seu trajar, confundem-se com qualquer procurador, escrevente de cartório ou contínuo de repartição. Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém; eram originais, eram tipos: nos seus semblantes transluzia um certo ar de majestade forense, seus olhares calculados e sagazes significavam chicana [poder de dificultar o andamento de um processo]. Trajavam sisuda casaca preta, calção e meias da mesma cor, sapato afivelado, ao lado esquerdo aristocrático espadim, e na ilharga [cada uma das partes laterais e inferiores do abdome] direita penduravam um círculo branco, cuja significação ignoramos, e coroavam tudo isto por um grave chapéu armado. Colocado sob a importância vantajosa destas condições, o meirinho usava e abusava de sua posição. Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! Por mais que se fizesse não havia remédio em tais circunstâncias senão deixar escapar dos lábios o terrível — Dou-me por citado. — Ninguém sabe que significação fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras! eram uma sentença de peregrinação eterna que se pronunciava contra si mesmo; queriam dizer que se começava uma longa e afadigosa viagem, cujo termo bem distante era a caixa da Relação, e durante a qual se tinha de pagar importe de passagem em um sem-número de pontos; o advogado, o procurador, o inquiridor, o escrivão, o juiz, inexoráveis [insensíveis, inflexíveis] Carontes [assistentes judiciários], estavam à porta de mão estendida, e ninguém passava sem que lhes tivesse deixado, não um óbolo [moeda grega de pouco valor], porém todo o conteúdo de suas algibeiras, e até a última parcela de sua paciência.

(Trecho do primeiro capítulo das “Memórias de um sargento de milícias”)

8. Deste excerto, podemos depreender que os meirinhos do
a) tempo do rei eram mais elegantes que os meirinhos de hoje.
b) Rio de Janeiro do início do século 19 representavam o poder da Justiça e do Rei, enquanto os meirinhos de hoje representam apenas a si mesmos.
c) tempo de D. João VI tinham mais poderes jurídicos que os meirinhos de hoje.
d) judiciário carioca não mereciam respeito, mas eram respeitados.
e) Rio de D. João VI passavam o dia trancados na cadeia judiciária que ficava numa das esquinas do cruzamento das ruas do Ouvidor e da Quitanda.
 
9. A oração caracterizada pelo verbo formar – flexionado na terceira pessoa do plural do tempo presente do modo indicativo – no segundo parágrafo – deve ser classificada sintaticamente como
a) oração subordinada adjetiva restritiva
b) oração subordinada substantiva apositiva
c) oração subordinada adjetiva explicativa
d) oração subordinada substantiva subjetiva
e) oração subordinada adverbial concessiva
 
10. No primeiro período do segundo parágrafo, que se cortava reciprocamente?
a) as ruas do Ouvidor
b) os meirinhos
c) a rua do Ouvidor e a rua da Quitanda
d) as esquinas                
e) as ruas da Quitanda
 
11. Do trecho “era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe” (segundo parágrafo), os sintagmas “de todos os indivíduos” e “dessa classe” são respectivamente
a) complemento nominal e complemento nominal
b) adjunto adnominal e adjunto adnominal
c) complemento nominal e adjunto adnominal
d) adjunto adnominal e complemento nominal
 
12. Assinale a alternativa incorreta a respeito do excerto de “Memórias de um sargento de milícias”.
a) Os meirinhos da época do rei exerciam fortemente influência moral e física – por meio do traje e do semblante.
b) Os meirinhos gastavam muito dinheiro pagando advogados, procuradores, inquiridores, escrivães, juízes e insensíveis assistentes.
c) Os meirinhos do século 19 valiam pelos oficiais de justiça de hoje. Quando o sujeito recebia uma notificação, dizia: “Dou-me por citado”.
d) Os meirinhos tinham motivos para serem temidos e o eram; também tinha razões para serem respeitados e o eram.
e) Um dos motivos pelos quais os meirinhos eram temidos era o seu poder de dificultar o prosseguimento de um processo.
 
13. O sintagma “de mão estendida”, no fim do excerto, deve ser reconhecido sintaticamente como
a) adjunto adverbial de modo
b) complemento nominal
c) objeto indireto
d) adjunto adnominal
e) predicativo do sujeito

         Aproximou-se a noite; acenderam-se velas junto do defunto; fizeram-se todos os mais arranjos do costume.
         D. Maria e a comadre começaram a conversar, porém baixinho.
         – Então, senhora, principiou D. Maria, este homem não havia de morrer assim sem ter feito seu testamento; pois ele não havia de querer deixar no mundo o afilhado ao desamparo para os ausentes se gozarem do que a ele lhe custou tanto trabalho.
         – A mim, respondeu a comadre, nunca me falou em semelhante coisa; mas enfim, como isso são lá negócios de segredo... talvez.
         – Seria bom procurar-se; talvez em alguma gaveta por aí se ache; é impossível que o defunto não dispusesse sua vida; bem vezes lhe aconselhei eu semelhante coisa.
         – Tem razão, D. Maria, eu acho também que deve haver alguma coisa.
         E foram as duas tratar de procurar o testamento nas gavetas de uma grande cômoda que havia no quarto do defunto. Enquanto nisso se ocupavam, Luizinha e Leonardo conversavam, ou antes cochichavam, como se diz vulgarmente. O que eles se diziam não posso dizê-lo ao leitor, porque o não sei; sem dúvida a rapariga consolava o rapaz da perda que acabava de sofrer na pessoa do seu amado padrinho.
         Finalmente as duas acharam com efeito um testamento, e ficaram com isso muito satisfeitas.
         Voltaram à varanda e surpreenderam os dois no melhor da sua conversa. A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:
         – Ela tem muito bom coração!
         – E o dele não é pior, respondeu a comadre.
         E acrescentou com intenção:
         – Estava um bom casal.
         – Oh! senhora, disse D. Maria com ingenuidade, deixe a menina, que ainda é muito cedo...
         – Também não digo já, mas a seu tempo.

(Trecho do quinto capítulo das “Memórias de um sargento de milícias”)

14. A oração “acenderam-se velas junto do defunto” é exemplo de voz
a) ativa
b) passiva analítica
c) passiva sintética
 
15. O termo “baixinho”, no segundo parágrafo, é adjunto adverbial de modo porque altera o sentido da palavra
a) comadre
b) começaram
c) conversar
d) Maria
e) porém
 
16. A palavra “ausentes”, no terceiro parágrafo, refere-se
a) a Leonardo Pataca, que jamais se preocupara com o destino do filho.
b) à mãe de Leonardo, que o abandonara e voltara a Portugal.
c) ao governo e aos advogados que poderiam ficar com a herança deixada pelo padrinho.
d) a pessoas desconhecidas quaisquer que poderiam desfrutar os bens acumulados pelo compadre.
e) às pessoas que deveriam, mas não participaram da criação e da educação de Leonardo.
 
17. O “lhe” – terceiro parágrafo – é objeto
a) direto
b) direto pleonástico
c) direto preposicionado
d) indireto
e) indireto pleonástico
 
18. O “me” – quarto parágrafo – é objeto
a) direto
b) direto pleonástico
c) direto preposicionado
d) indireto
e) indireto pleonástico
 
19. A que “juízo” se refere o narrador no nono parágrafo?
a) Certamente Luizinha consolava Leonardo, que perdera o padrinho.
b) Leonardo e Luizinha formavam um bom casal.
c) Leonardo também era uma pessoa de bom coração.
d) Luizinha era uma moça de bom coração.
e) Provavelmente o padrinho havia deixado um testamento a fim de amparar o afilhado.
 
20. Considerando as afirmações a respeito do romance “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, assinale a alternativa incorreta.
a) A novela se abre com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a estória no século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora uma patrícia, Maria da Hortaliça, saloia portuguesa. Daí resulta o casamento e... “sete meses depois tem a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo que nasce, mama duas horas seguidas sem deixar o peito”. Esse menino é o Leonardo, futuro “sargento de milícias” e o “herói” do livro.
b) Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o trai com vários homens; dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal. O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega de criá-lo.
c) O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, fica apaixonado pelo garoto, concentrando todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras. Depois de muito pensar, resolve que o menino seria padre.
d) Depois que Maria da Hortaliça volta para Portugal, Leonardo-Pataca apaixona-se por uma parteira que também o abandona. Para atraí-la novamente, recorre às feitiçarias de um caboclo velho e imundo que mora num mangue. Na última prova, à noite, quando está nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal.
e) O Major Vidigal era “um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada”. Era a polícia e a justiça da época, na cidade. Ele detém Leonardo-Pataca, quando o encontra na casa de um caboclo, numa sessão de magia negra e detém também o padre mestre-de-cerimônias, quando o apanha na condição de amante na casa de uma cigana.
 
21. Quanto à história da vida do compadre, padrinho de Leonardo, só não se pode afirmar que:
a) nada sabia a respeito de suas origens e de seus parentes.
b) se arranjara na vida de modo honesto e justo, com o auxílio de uma herança deixada pelo capitão do navio.
c) criara Leonardo, após ter sido este abandonado por Pataca e por Maria.
d) fora criado por um barbeiro, que lhe ensinara, além do ofício, a ler e escrever.
e) trabalhou em um navio negreiro, como barbeiro e sangrador.
 
22. Ao menos uma característica romântica – presente também nas cantigas de amor medievais – marca o início do relacionamento entre Luisinha e Leonardo:
a) o tema do amor inacessível, irrealizável ou, ao menos, dificultado pelas circunstâncias.
b) a presença da figura feminina que, por pertencer a classe social superior, despreza o pretendente.
c) a elaboração de um anti-herói para ser coberto de zelos pela personagem feminina.
d) tórrida paixão, marcada por episódios carregados de sensualidade.
e) a impossibilidade da realização do amor devida à distância espacial que separa os amantes.
 
23. Sobre a personagem José Manuel não se pode afirmar que:
a) seu interesse por Luisinha ligava-se diretamente a fatores financeiros.
b) podia ser considerado um “velhaco de quilate”.
c) era um conhecido de D. Maria, recém-chegado da Bahia.
d) se caracterizava pela maledicência e pela mentira.
e) não representava um obstáculo à paixão que Leonardo nutria por Luisinha.
 
24. Considerando as afirmações a respeito do romance “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, assinale a alternativa incorreta.
a) O “Padre Mestre de Cerimônias”, embora apresentasse um exterior austero, mantinha relações íntimas com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e fora causa de sua prisão.
b) Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é quem lhe tirara a cigana e que este iria ao aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major Vidigal, que prendeu todo mundo, inclusive o Padre, e os levou para a “Casa da Guarda”. O “Padre Mestre de Cerimônias”, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, que voltou para Leonardo, que recebeu as censuras da Comadre.
c) Leonardo não correspondeu a nenhum dos desejos do padrinho: não foi para Coimbra, não se fez padre, não trabalhou em cartório algum e não foi para a Conceição. Tornou-se um desocupado, que simplesmente não pensava e não fazia nada, deixava-se levar pelos acontecimentos sem tirar proveito pessoal algum.
d) D. Maria “das demandas” era uma mulher velha, muito gorda; devia ter sido muito formosa no seu tempo, porém dessa formosura “só lhe restaram o rosado das faces e a alvura dos dentes”. “Tinha bom coração e era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém, em compensação destas virtudes, tinha um dos piores vícios daquele tempo e daqueles costumes; era a mania das demandas”
e) Numa cena ridícula, todo desajeitado, depois de muitas tentativas e retrocessos, Leonardo conseguiu declarar-se a Luisinha.
 
25. Sobre o romance “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, assinale a alternativa incorreta.
a) O protagonista é um herói-malandro, desses que não se preocupam com o próprio futuro.
b) A linguagem utilizada aproxima-se da linguagem coloquial da época.
c) A caracterização das personagens difere dos padrões habituais dos heróis românticos.
d) “Memórias de um sargento de milícias” é tipicamente um romance romântico.
e) O romance de Manuel Antônio de Almeida antecipa muitas das características do Realismo.
 
26. Leonardo tornou-se um sargento de milícias porque:
a) era o sonho do barbeiro e seu padrinho.
b) trabalhava há muito tempo na guarda municipal como soldado e depois cabo, portanto merecia a promoção.
c) era a condição que D. Maria impunha para autorizar o casamento do rapaz com Luisinha.
d) o Major Vidigal o nomeou, cumprindo uma promessa que fizera ao padrinho do rapaz.
e) como soldado, não podia se casar, então o Major Vidigal o nomeou sargento para que pudesse se unir a Luisinha.
 
27. Como o padrinho de Leonardo se arranjou?
a) Tornou-se o único herdeiro do barbeiro que o havia criado e educado.
b) Ganhou dinheiro suficiente para se sustentar e ao afilhado como sangrador em navios negreiros.
c) Ficou com a herança do capitão do navio em que trabalhou como sangrador, a qual deveria entregar à filha do marinheiro.
d) Trabalhou honestamente uma vida inteira como barbeiro para criar e sustentar o filho de Leonardo Pataca.
e) Recebeu uma herança do tenente-coronel português cujo filho era o verdadeiro pai de Leonardo.
 
28. Assinale a alternativa incorreta.
a) D. Maria é tia de Luisinha.
b) Maria Regalada é amante do Tenente-Coronel.
c) Chiquinha é filha da Comadre.
d) Maria da Hortaliça é mãe de Leonardo.
e) D. Maria tinha a mania das demandas.
 
29. As “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, publicado pela primeira vez no jornal Correio Mercantil do Rio de Janeiro, entre os dias 27 de junho de 1852 e 31 de julho de 1853, insere-se em que período da Literatura Brasileira?
a) Renascimento.
b) Realismo.
c) Arcadismo.
d) Romantismo.
e) Barroco.
 
30. Indique a alternativa que se refere corretamente ao protagonista de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
a) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir, até sua transformação final em símbolo sublimado.
b) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge, condenando o próprio cinismo ao inferno da culpa, do remorso e da expiação.
c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da “bondade natural”, adotada pelo autor.
d) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca ocultar.
e) Nele, como também em personagens menores, há o contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa sorte.
 
31. Assinale a afirmativa incorreta a respeito de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
a) O protagonista é um herói-malandro.
b) A linguagem utilizada aproxima-se da fala da época.
c) A caracterização das personagens difere dos padrões habituais dos heróis românticos.
d) As personagens pertencem à alta burguesia que ascendeu ao poder.
e) O romance retrata a vida na fase de transição da colônia para uma nação independente (1808-1822), no período de D. João VI.
 
32. Leonardo é dito "filho de uma pisadela e de um beliscão" porque:
a) não lhe são conhecidos os verdadeiros pais e essa é uma forma de mostrar-se que tem origem desconhecida.
b) o pai, Leonardo Pataca, e a mãe, Maria da Hortaliça, agrediam-se costumeiramente em suas brigas.
c) foi dessa maneira que seus pais começaram seu relacionamento, em um navio, a caminho do Brasil.
d) essa seria uma forma de desmistificá-lo perante o leitor.
e) porque ele sofria violências constantes em seu lar.

33. Aponte a alternativa incorreta:
a) Manuel Antônio de Almeida publicou um romance apenas, denominado Memórias de um Sargento de Milícias.
b) O romance em questão foge aos padrões estabelecidos para as obras do Romantismo.
c) A obra passa-se na segunda metade do século XIX, época em que D. João VI estava no Brasil ("Era no tempo do rei").
d) Para poder escrever o romance, o autor teve que recolher informações com um companheiro de trabalho que vivenciara a época retratada.
e) Leonardo é um anti-herói, seguindo o modelo do herói picaresco espanhol.
 
34. Com relação a Memórias de um Sargento de Milícias, não podemos afirmar que:
a) O "canto dos meirinhos", citado no início do romance, era um local da cidade do Rio de Janeiro onde se reuniam tais funcionários do poder Judiciário.
b) Os meirinhos eram bastante considerados no tempo do rei.
c) Os meirinhos de hoje são exatamente iguais aos daquele tempo, "gente temível e temida, respeitável e respeitada".
d) As condições físicas dos meirinhos influíam, para que fossem respeitados.
e) Meirinhos e desembargadores exerciam as mesmas funções, fechando um círculo Judiciário.
 
35. "Tratou-se de resolver uma importante questão: para a companhia de quem iria o Leonardo? A abertura do testamento, feita nesse mesmo dia resolveu a questão." O segmento refere-se:
a) à morte de Leonardo Pataca, que deixa para o filho todos os bens que adquirira em vida.
b) à morte do Compadre, que fez do rapaz seu herdeiro universal.
c) à morte de D. Maria, que legara a Leonardo sua fortuna, para que este cuidasse de Luisinha.
d) à morte da Comadre, que, por não ter filhos, deixou seus humildes pertences para o afilhado.
e) à morte de Maria da Hortaliça, que, bem casada em Portugal, torna seu filho e herdeiro um verdadeiro magnata.

36. Vidinha é:
a) a sobrinha de D. Maria, que fica em sua companhia após uma demanda.
b) a esposa do toma-largura, com quem Leonardo é pego tomando sopa, sendo perseguido pelo marido enciumado.
c) uma mulata bonita que vive com o Major Vidigal.
d) uma jovem que vive somente com três primos em uma casa do subúrbio do Rio de Janeiro.
e) uma apreciadora de modinhas que cantava e deixava Leonardo encantado.

37. Das alternativas seguintes, seria verdadeiro afirmarmos que:
a) O Major Vidigal é responsável pelas prisões de Leonardo, mas também por sua nomeação como grana­deiro e sargento de milícias.
b) O Compadre conseguira enriquecer tão somente graças a seus esforços pessoais, na profissão de barbeiro.
c) Maria da Hortaliça não era uma mulher honesta, porém se mostrou mãe dedicada e amorosa.
d) Luisinha amava José Manuel, o que a fez trocá-lo por Leonardo.
e) Leonardo e Chiquinha realizaram seu sonho e tiveram uma filha calma e assentada.
 
38. Assinale a alternativa em que aparece um fragmento que se refere ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias.
a) "Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém, do negócio e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado".
b) "Era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração: era o juiz que julgava e distribuía a pena".
c) "Quando passou de menino a rapaz, e chegou a saber barbear e sangrar sofrivelmente, foi obrigado a manter-se à sua custa”.
d) "Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de carinha estreita e chupada, excessivamente calvo, tinha pretensões de latinista”.
e) "Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que se anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança".
 
39. Qual das afirmações abaixo não corresponde ao romance romântico Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida?
a) Memórias de um sargento de milícias é um romance tipicamente romântico.
b) Um retrato das classes sociais menos favorecidas do Rio Antigo.
c) Memórias de um sargento de milícias se afasta do caráter sentimental e idealizador do Romantismo.
d) O gênero aproxima-se da crônica histórica.
e) Leonardo é um anti-herói, um pícaro.
 
40. (PUC-RS) "Era esse dia um domingo do Espírito Santo. Como todos sabem, a festa do Espírito Santo é uma das festas prediletas do povo fluminense. Hoje mesmo que se vão perdendo certos hábitos, uns bons, outros maus, ainda essa festa é motivo de grande agitação; longe porém está o que agora se passa daquilo que se passava nos tempos a que temos feito remontar os leitores. A festa não começava no domingo marcado pela folhinha, começava muito antes, nove dias, cremos, para que tivessem lugar as novenas." Além de ser uma narrativa crítica e irônica da moral da época, Memórias de um Sargento de Milícias, como ilustra o texto acima, pode ser visto como um romance:
a) histórico.
b) de costumes.
c) psicológico.
d) moralista.
e) sentimental.

         Era no tempo do Rei [...]. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isso uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado [...] meses depois teve a Maria um filho, formidável menino [...], o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

(Fragmento das “Memórias de um sargento de milícias”)

41. No fragmento acima
a) notam-se traços de humor, estilo coloquial e tom direto, na composição de uma narrativa que, como as de José de Alencar, retrata os costumes da burguesia nos salões fluminenses.
b) aspectos da narração evidenciam ser o autor um cultor do romance histórico, ao lado de Machado de Assis, principalmente em Memórias póstumas de Brás Cubas.
c) nota-se passagem metalinguística, presença que aproxima o autor de Machado de Assis, embora dele se afaste em outro aspecto: o estilo do escritor realista é menos espontâneo.
d) a apresentação do herói denota a idealização típica dos protagonistas românticos, ainda que o autor a faça com linguagem próxima da oralidade e com traços de comicidade.
e) são nítidos a temática e o tom que aproximam o autor do José de Alencar em sua fase de representar a gestação do homem brasileiro, período em que focalizou a época colonial.
 
42. (FUVEST) Assinale a alternativa em que aparece fragmento que se refere ao protagonista de Memórias de um Sargento de Milícias.
a) "Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria;aborrecera-se porém do negócio e viera ao Brasil.Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado."
b) "Era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração: era o juiz que julgava e distribuía a pena."
c) "Quando passou de menino a rapaz, e chegou a saber barbear e sangrar sofrivelmente, foi obrigado a manter-se à sua custa."
d) "Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de carinha estreita e chupada, excessivamente calvo, tinha pretensões de latinista."
e) "Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança."
 
43. Assinale a alternativa incorreta, considerando as personagens Berta (Til, José de Alencar), Joaninha (Viagens na minha terra, Almeida Garrett) e Luizinha (Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida).
a) Joaninha é mais idealizada que Luizinha
b) Joaninha é menos idealizada que Berta.
c) Luizinha é mais idealizada que Berta.
d) Luizinha é menos idealizada que Joaninha.
e) Luizinha é menos idealizada que Berta.

         O velho tenente-coronel, apesar de virtuoso e bom, não deixava de ter na consciência um sofrível par de pecados, desses que se chamam da carne, e que não hão de ser levados em conta, não de hoje, que a idade o tornara inofensivo, porém do tempo da sua mocidade: o resultado de um deles fora um filho que deixara em Lisboa, fruto de um derradeiro amor que tivera aos 36 anos. Por castigo em nada havia ele saído ao pai, e nem os conselhos, nem os cuidados e nem o exemplo deste puderam encaminhá-lo por boa vereda. Aos 20 anos, tendo sentado praça, era um cadete desordeiro, jogador e o mais insubordinado do seu regimento. Bastantes vergonhas custara ao pobre pai, que cuidadoso procurava sempre por todos os meios encobrir-lhe os defeitos e remediar as gentilezas que fazia, já pagando por ele dívidas de jogo, já atabafando-lhe as desordens e curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários. Houve, porém, uma que as circunstâncias e mesmo a natureza do caso não permitiram que tivesse remédio. Poucos dias antes de embarcar para o Brasil em companhia del-rei, estando o infeliz pai em preparativos de viagem, viu entrar-lhe pela porta adentro uma mulher velha, baixa, gorda, vermelha, vestida segundo o costume das mulheres da baixa classe do país, com uma saia de ganga azul por cima de um vestido de chita, um lenço branco dobrado triangularmente posto sobre a cabeça e preso embaixo do queixo, e uns grossos sapatões nos pés. Parecia presa de grande agitação e de raiva: seus olhos pequenos e azuis faiscavam de dentro das órbitas afundadas pela idade, suas faces estavam rubras e reluzentes, seus lábios franzinos e franzidos apertavam-se violentamente um contra o outro como prendendo uma torrente de injúrias, e tornando mais sensível ainda seu queixo pontudo e um pouco revirado.

44. A respeito do excerto acima, aponte a alternativa incorreta.
a) A expressão “tendo sentado praça”, em “Aos 20 anos, tendo sentado praça, era um cadete desordeiro”, significa que o filho do tenente-coronel era vagabundo e passava os dias sentado na praça.
b) Com a expressão “e que não hão de ser levados em conta”, o narrador sugere que o “par de pecados” do tenente-coronel era insignificante diante das suas inúmeras virtudes e boas ações.
c) O trecho “curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários” sugere que o rapaz fosse briguento e violento.
d) No período “Houve, porém, uma que as circunstâncias e mesmo a natureza do caso não permitiram que tivesse remédio”, a palavra “uma” significa uma das “gentilezas” do filho do tenente-coronel.
e) O “velho tenente-coronel” não se envolveu mais em aventuras amorosas depois dos 36 anos de idade.
 
45. FIGURAS DE LINGUAGEM: Marque a afirmativa incorreta.
a) A expressão “brechas”, no trecho “curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários”, caracteriza um eufemismo, para dimensionar violência do rapaz.
b) A palavra “vereda”, no trecho “nem os cuidados e nem o exemplo deste puderam encaminhá-lo por boa vereda” deve ser classificada como metáfora.
c) No trecho “Poucos dias antes de embarcar para o Brasil em companhia del-rei”, o termo “embarcar” caracteriza uma figura de linguagem denominada catacrese.
d) O termo “vermelha”, no trecho “uma mulher velha, baixa, gorda, vermelha, vestida segundo o costume das mulheres da baixa classe do país”, é hiperbólico, pois não nos é possível verificar uma pessoa literalmente vermelha.
e) O vocábulo “torrente”, no último período do excerto, é exemplo de hipérbole.
 
46. A respeito do excerto acima, qual alternativa é incorreta?
a) A mulher descrita no fim do excerto se apresenta raivosa diante do tenente-coronel.
b) A oração explicativa “que a idade o tornara inofensivo” se refere à sexualidade do tenente-coronel.
c) O tenente-coronel, além de não seguir os bons exemplos do pai, dava-lhe muitas despesas.
d) O narrador afirma que o tenente-coronel cometera alguns pecados “da carne”, ou seja, pecados provocados pela sexualidade.
e) O tenente-coronel deixou um filho em Portugal e veio para o Brasil.
 
47. FIGURAS DE LINGUAGEM: Identifique a alternativa incorreta.
a) A palavra “gentilezas”, no trecho “encobrir-lhe os defeitos e remediar as gentilezas”, caracteriza uma ironia.
b) No trecho “curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários”, a palavra “ouro” participa de uma hipérbole.
c) Os efes de “franzinos e franzidos” compõem uma assonância.
d) O termo “presa”, no trecho “parecia presa de grande agitação e de raiva”, forma uma metáfora, pois compara, sem usar conectivos de comparação, a agitação e a raiva a predadores.
e) O vocábulo “faiscavam”, no último período do excerto, é exemplo de hipérbole.
 
48. VOCABULÁRIO: Que alternativa está incorreta?
a) “atabafando-lhe” é o mesmo que abafando-lhe: “já atabafando-lhe as desordens e curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários”.
b) “brechas” é sinônimo de lacunas, cortes: “curando com ouro as brechas que ele fazia na cabeça de seus adversários”.
c) “cadete” quer dizer soldado, aspirando, recruta: “Aos 20 anos, tendo sentado praça, era um cadete desordeiro”.
d) “chita” é um tipo de tecido: “vestida segundo o costume das mulheres da baixa classe do país, com uma saia de ganga azul por cima de um vestido de chita”.
e) “vereda” significa crença, religião: “nem os cuidados e nem o exemplo deste puderam encaminhá-lo por boa vereda”.
 
49. ANÁLISE SINTÁTICA: Identifique a alternativa incorreta.
a) “Bastantes vergonhas custara ao pobre pai”: o termo “ao pobre pai” é objeto indireto.
b) “já atabafando-lhe as desordens”: o termo “lhe” é adjunto adnominal.
c) “o resultado de um deles fora um filho que deixara em Lisboa”: a oração “que deixara em Lisboa” é subordinada adjetiva restritiva.
d) “Poucos dias antes de embarcar para o Brasil em companhia del-rei, estando o infeliz pai em preparativos de viagem, viu entrar-lhe pela porta adentro uma mulher velha, baixa, gorda, vermelha, vestida segundo o costume das mulheres da baixa classe do país”: o trecho “poucos dias antes de embarcar para o Brasil” é adjunto adverbial de tempo.
e) “suas faces estavam rubras e reluzentes”: os adjetivos “rubras” e “reluzentes” são predicativos do sujeito “suas faces”.
 
50. Quem é a “mulher velha, baixa, gorda, vermelha, vestida segundo o costume das mulheres da baixa classe do país, com uma saia de ganga azul por cima de um vestido de chita, um lenço branco dobrado triangularmente posto sobre a cabeça e preso embaixo do queixo, e uns grossos sapatões nos pés”?
a) Cigana
b) Esposa do tenente-coronel
c) Mãe da Maria Saloia
d) Comadre
e) Maria Saloia

         Passou‑se ainda algum tempo. De repente a comadre gritou para fora:
         – Ó compadre, dê cá lá uma garrafa...
         O Leonardo‑Pataca obedeceu prontamente. Ouviu‑se então dentro do quarto o som que produziria uma boca humana a soprar com toda a força dentro de alguma coisa. Era Chiquinha que por ordem da comadre soprava a morrer de cansaço dentro da garrafa que esta mandara vir.
         – Com força, menina, com bem força, e Nossa Senhora não desampara os fiéis. Ânimo, ânimo; isto o mais que sucede é uma vez por ano. Desde que nossa mãe Eva comeu aquela maldita fruta ficamos nós sujeitas a isto. “Eu multiplicarei os trabalhos de teu parto.” São palavras de Jesus Cristo!
         Já se vê que a comadre era forte em história sagrada.
         Ao Leonardo‑Pataca tremiam‑lhe cá fora tanto as pernas, que não pudera mais continuar no passeio, e achava‑se sentado a um canto com os dedos nos ouvidos.
         – Soprai, menina, continuava sempre dentro a comadre, soprai com Nossa Senhora, soprai com S. João Batista, soprai com os Apóstolos Pedro e Paulo, soprai com os Anjos e Serafins da Corte Celeste, com todos os Santos do paraíso, soprai com o Padre, com o Filho e com o Espírito Santo.
         Houve finalmente um instante de silêncio, que foi interrompido pelo choro de uma criança.
         – Ora lá vai o mau tempo, exclamou a comadre; bem dizia eu que isto não era mais do que um pau por um olho... Ah! Sr. compadre, chegue, que é agora a sua vez, venha ver a sua pecurrucha...
         – É uma pecurrucha!... exclamou o Leonardo‑Pataca fora de si; ora isto é de bom agouro, porque com o outro que saiu macho não fui feliz.
         Recendeu então pela casa um agradável cheiro de alfazema; a comadre veio à sala, apagou as velas que estavam acesas a Nossa Senhora; foi depois desatar a fita da cintura da Chiquinha e tirar‑lhe do pescoço os bentinhos.
         A recém‑nascida, enfraldada, encueirada, encinteirada, entoucada e com um molho de figas e meias‑luas, signos de Salomão e outros preservativos de maus‑olhados presos ao cinteiro, passava das mãos de Chiquinha para as do Leonardo‑Pataca, que não cabia em si de contentamento; era uma formosa criancinha, em tudo o oposto de seu irmão paterno o nosso amigo Leonardo, mansa e risonha.
         O Leonardo‑Pataca recorreu imediatamente à folhinha para ver que nome trazia a menina; porém como este lhe não agradasse, travou logo com Chiquinha uma questão a respeito do nome que se lhe devia dar.
         A comadre aproveitou‑se disso para dar conta dos últimos arranjos, e depois envergou a mantilha e saiu para acudir a outras necessitadas.

(Trecho do capítulo vinte e quatro – A Comadre em exercício)

51. Depois de considerar as afirmações relativas ao excerto acima, aponte aquela que não interpreta coerentemente o que está escrito.
a) A Comadre, apesar de ser “forte em história sagrada”, atribuiu incorretamente a Jesus Cristo a frase “Eu multiplicarei os trabalhos de teu parto”, pois Eva é um personagem bíblico bem anterior a Jesus.
b) A expressão “mau tempo” – nono parágrafo – é uma referência ao tempo em que Leonardo-Pataca tinha apenas o Leonardo por filho.
c) Na frase “Leonardo‑Pataca recorreu imediatamente à folhinha para ver que nome trazia a menina”, Leonardo, na verdade, foi verificar qual era a santa do dia em que nascera sua filha.
d) O termo “folhinha” – penúltimo parágrafo – significa “calendário”.
e) A expressão “envergou a mantilha”, no último parágrafo, está empregada em seu sentido conotativo, isto é, tem o sentido metonímico de “arrumou seus pertences”.
 
52. A frase “isto não era mais do que um pau por um olho” – nono parágrafo – própria da sabedoria popular, a frase significa que
a) o nascimento seria difícil, mas valeria o esforço.
b) a criança não seria um menino.
c) o parto seria fácil: pouco trabalho por muito resultado.
d) suas rezas valeriam mais uma vez.
e) o trabalho não podia ser executado senão por uma parteira.
 
53. Transportando do discurso direto para o indireto, qual seria a melhor alternativa para o trecho abaixo?
 
         – Ora lá vai o mau tempo, exclamou a comadre; bem dizia eu que isto não era mais do que um pau por um olho... Ah! Sr. compadre, chegue, que é agora a sua vez, venha ver a sua pecurrucha...
 
a) “A comadre exclamou que o mau tempo estava indo embora; lembrou haver dito que o parto não seria mais do que um pau por um olho... Deixou escapar uma interjeição de prazer e chamou o compadre para ver a filha, disse que era a vez do pai ver a pecurrucha...”.
b) A comadre exclamou lá vai o mau tempo; lembrou haver dito que o parto não era mais do que um pau por um olho... Deixou escapar um ah! e chamou o compadre para ver a menina, disse que era a vez do pai ver a filha...
c) A comadre exclama que lá se vai o mau tempo; lembra haver dito que o parto não era mais do que um pau por um olho... Deixa escapar uma interjeição de prazer e chama o compadre para ver a filha, disse que era a vez do pai ver a pecurrucha...
d) A comadre exclamou que lá se ia o mau tempo; lembrou haver dito que o parto não seria mais do que um pau por um olho... Deixou escapar uma interjeição de prazer e chamou o compadre para ver a filha, disse que era a vez do pai ver a pecurrucha...
e) A comadre exclamou que lá se foi o mau tempo; lembrou haver dito que o parto não tinha sido mais do que um pau por um olho... Deixou escapar uma interjeição de prazer e chamou o compadre para ver a filha, disse que era a vez do pai ver a pecurrucha...
 
54. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “Já se vê que a comadre era forte em história sagrada” – Aponte a alternativa incorreta.
a) “comadre” é adjetivo.
b) “já” é advérbio de tempo.
c) “que” é conjunção.
d) “se” é pronome pessoal oblíquo da terceira pessoa do singular.
e) “vê” é verbo da segunda conjugação, flexionado na terceira pessoa do singular do tempo presente do modo indicativo.
 
55. ANÁLISE SINTÁTICA: “Já se vê que a comadre era forte em história sagrada” – Identifique a alternativa incorreta.
a) “em história sagrada” é complemento nominal.
b) “forte” é predicativo do sujeito.
c) “que a comadre era forte em história sagrada” é oração subordinada substantiva subjetiva.
d) “que” é conjunção integrante.
e) “se” é objeto indireto.

         No dia seguinte saiu o nosso homem pela barra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta.
         Por um feliz acaso, logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o médico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doentes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa reputação, e começou a ser estimado.
         Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do riscado.
         Poucos dias antes de chegar ao Rio o capitão do navio adoeceu; a princípio nem ele nem alguém teve a menor dúvida de que ficaria bom logo depois da primeira sangria; porém repentinamente o negócio complicou-se, e nem com a terceira e quarta se pôde conseguir coisa alguma. No fim do quarto dia convenceram-se todos e o próprio doente capitão de que estava chegada a sua hora. Nem por isso porém inculparam o nosso homem.
         – Ali não há sangria que o salve, diziam; chegou a sua vez de dar à costa... há de ir.
         O capitão teve de fazer suas últimas disposições, e, como dissemos, tendo o médico granjeado grande amizade e confiança, foi escolhido para desempenhá-las.
         O capitão chamou-o à parte, e em segredo lhe fez entrega de uma cinta de couro e uma caixa de pau pejadas de um bom par de doblas em ouro e prata, pedindo que fielmente as fosse entregar, apenas chegasse à terra, a uma filha sua, cuja morada lhe indicou. Além deste dinheiro encarregou-o também de receber a soldada daquela viagem e lhe dar o mesmo destino. Eram estas as suas únicas e últimas vontades que o encarregava de cumprir, declarando-lhe que lá do outro mundo o espiaria para ver como cuidava disso.
         Poucas horas depois expirou.
         Desse dia em diante nenhum só doente escapou mais, porque o médico já não sangrava tanto; andava preocupado, distraído, e assim levou até chegar à terra.
         Apenas saltou, declarou que não se tinha dado bem, e que não embarcaria mais.
         Quanto às ordens do capitão... histórias; quem é que lhe havia de vir tomar contas disso? Ninguém viu o que se passou; de nada se sabia. Os únicos que podiam ter desconfiado e fazer alguma coisa eram os marinheiros; porém estes partiram em breve de novo para a Costa.
         O compadre decidiu-se a instituir-se herdeiro do capitão, e assim o fez.
         Eis aqui como se explica o arranjei-me, e como se explicam muitos outros que vão aí pelo mundo.

(Trecho de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida)

56. No primeiro parágrafo, apenas uma das quatro frases abaixo não é sinônima às outras. Qual?
a) “cumpria sabê-lo aproveitar”
b) “de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro”
c) “Isso ficou por sua conta”
d) “restava unicamente saber fazer render a nova posição”

57. O vocábulo “fortuna”, usado no primeiro parágrafo, pode ser substituído adequadamente por:
a) destino
b) dinheiro
c) família
d) herança
e) lei

58. O termo “negro”, usado no terceiro parágrafo, é exemplo de qual figura de linguagem?
a) antonomásia
b) comparação
c) eufemismo
d) homonímia
e) metonímia

59. Qual palavra do primeiro parágrafo indica o leitor como segunda pessoa para o narrador?
a) homem
b) isso
c) lhe
d) nosso
e) sua

60. No sétimo parágrafo, na frase “apenas chegasse à terra”, há uma incorreção no emprego do acento grave. Qual alternativa não explica essa incorreção?
a) O acento grave, ou crase, justifica-se com presença de artigo definido e preposição simultaneamente, porém, neste caso, não temos a ocorrência do artigo definido, porque a palavra “terra” não é específica.
b) A oração “apenas chegasse à terra” pode ser substituída adequadamente por “apenas chegasse em terra”, portanto não há artigo definido.
c) O artigo definido “a” está na oração por exigência do substantivo feminino “terra” e se trata de uma palavra átona, por isso não pode receber qualquer sinal de acentuação.
d) A palavra “terra” é indefinida, significa qualquer terra, por isso não há a presença do artigo definido.
e) O verbo “chegasse” requer a presença da preposição “a”, pois quem chega chega a algum lugar, porém o substantivo “terra” não requer a presença do artigo definido.

61. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “ele fez tudo o que sabia” (segundo parágrafo). Aponte a alternativa incorreta.
a) “sabia” é verbo da segunda conjugação, flexionado na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo.
b) “ele” é pronome pessoal do caso reto.
c) “o” é pronome demonstrativo.
d) “que” é pronome relativo.
e) “tudo” é pronome indefinido.

62. ANÁLISE SINTÁTICA: “ele fez tudo o que sabia” (segundo parágrafo). Identifique a alternativa incorreta.
a) “que sabia” é oração subordinada adjetiva restritiva.
b) “Ele fez tudo o” é oração principal.
c) “que” é objeto direto.
d) “o” é conjunção.
e) “tudo” é adjunto adnominal.