Bagagem

Adélia Prado

Orfandade

Meu Deus,
me dá cinco anos.
Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,
me dá um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dá a neguinha Fia pra eu brincar,
me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande,
ó meu Deus, meu pai,
Meu pai.

1. A evasão do presente e a idealização do passado, evidentes no poema acima, são comuns também na
a) primeira geração modernista, do início do século 20, na época de Oswald de Andrade.
b) primeira geração romântica, da primeira metade do século XIX, no período de Gonçalves Dias.
c) segunda geração romântica, de meados do século dezenove, na época de Casimiro de Abreu.
d) terceira geração modernista, de meados do século XX, no tempo de Clarice Lispector.
e) terceira geração romântica, da segunda metade do século 19, no tempo de Castro Alves.
 
2. A respeito do poema de Adélia Prado, assinale a alternativa incorreta.
a) A repetição da expressão verbal “me dá”, no início dos versos, caracteriza a figura de linguagem denominada aliteração.
b) “Deus” é o interlocutor do eu lírico, ou seja, o ser a quem o eu lírico se dirige.
c) “Meu Deus” é apóstrofe: palavra ou sintagma nominal que inicia um enunciado a fim de indicar o destinatário da mensagem.
d) No segundo verso, temos um reducionismo sintático, porque o eu lírico certamente não quer “cinco anos”, quer viver novamente o tempo em que tinha cinco anos de idade.
e) O termo “cura” é metafórico, porque compara o fato de ser adulto a uma doença.
 
3. Aponte a alternativa incorreta, a respeito do poema “Orfandade”.
a) A palavra “sã” pode ser substituída, sem prejudicar o sentido do oitavo verso, por “equilibrada” ou “sensata”.
b) No quinto verso, podemos estender a palavra “pessoas” às visitas que se juntavam à família nas festas de fim de ano.
c) O quarto verso sugere que o dia de Natal era mais importante que a véspera.
d) Nos versos oito e nove, o eu lírico se refere ao algo sadio (a alegria), a um sentimento remediável (o medo) e a um fato irremediável (a maturidade).
e) O título do poema indica que a ausência da mãe predomina sobre as outras ausências.
 
4. ANÁLISE SINTÁTICA: Indique a alternativa incorreta.
a) Adélia Prado não evita a sintaxe coloquial, por exemplo, no uso da próclise no início de versos: “me dá cinco anos”.
b) “Fia” é aposto de “neguinha”.
c) O trecho “de ser grande” – nono verso – é objeto indireto do verbo “cura”.
d) “pra eu brincar” é oração subordinada adverbial de finalidade.
e) O sintagma “das pessoas”, no quinto verso, é complemento nominal, porque indica o possuidor dos sons produzidos pela respiração durante o sono.
 
5. ANÁLISE MORFOLÓGICA: Identifique a alternativa incorreta.
a) A palavra “ressonar”, no quinto verso, é substantivo formado por derivação imprópria a partir do verbo.
b) “cinco” é numeral cardinal.
c) O termo “ó”, no penúltimo verso, é uma interjeição, porque não tem outra função além da de expressar um sentimento.
d) “pra” – sexto verso – é uma forma coloquial para a preposição “para”.
e) O verbo dar está flexionado na terceira pessoa do singular do modo imperativo afirmativo.
 
6. Quais funções da linguagem predominam no poema “Orfandade”?
a) apelativa e referencial
b) expressiva e fática
c) metalinguística e fática
d) poética e conativa
e) referencial e metalinguística
 
7. ACENTUAÇÃO GRÁFICA: Assinale a alternativa incorreta.
a) “dá” recebe o acento gráfico porque é monossílabo tônico terminado com “a”.
b) “pé” está acentuado porque é monossílabo tônico finalizado com “e”.
c) “remediável” traz o acento agudo porque é paroxítono acabado com “l”.
d) “ressonar” não se acentua graficamente porque é verbo.
e) “véspera” deve ser acentuado porque é proparoxítono.

Amor feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

8. Aponte a alternativa incorreta, a respeito do poema acima.
a) “amor feinho” é amor de pessoas simples, menos idealizado, menos romântico, menos glamoroso.
b) “beijo” – oitavo verso – é uma flor, também conhecida por beijo-de-frade ou maria-sem-vergonha; encontra-se com a cor vermelha, rosa, branca ou as três cores juntas.
c) O “amor feinho” é “magro” porque é essencial, não se preocupa com aparências nem com atitudes que impressionem.
d) No terceiro e quarto versos, o eu lírico diz que o “amor feinho”, depois de encontrado, é como a fé, acredita e fim, não se questiona.
e) O sexto verso indica que o “amor feinho” gosta de filhos, de casa cheia de crianças.
 
9. A respeito do poema acima, identifique a alternativa incorreta.
a) “doido por sexo” sugere um amor natural, objetivo, sem rodeios, não esconde ou disfarça seus interesses, faz o que tem pra fazer.
b) Do segundo verso, podemos inferir que, no “amor feinho”, os amantes não se conhecem, não se preocupam um com o outro.
c) O “amor feinho” é “duro de forte” porque não tem mentiras nem fantasias.
d) “saudade” – nono verso – é uma flor, conhecida também por flor-de-viúva ou suspiro-dos-jardins; encontra-se com a cor roxa, rosa ou branca; existe a comum e a dobrada, curvada para baixo.
e) O sétimo verso indica que o “amor feinho” não sabe falar bonito, fala pouco, mas faz o que não fala, ou seja, não fala de beijo, mas planta a flor “beijo de três cores ao redor da casa”; não fala de saudade, mas planta a flor “saudade roxa e branca” dos dois tipos.
 
10. Todas as alternativas estão corretas, exceto:
a) “amor feinho não tem ilusão”, os amantes não apostam em super-homens ou supermulheres, um amante não espera mais do que o outro pode oferecer.
b) “ele tem é esperança”, está acostumado à realidade, espera apenas o que é possível.
c) O eu lírico diz que o “amor feinho é bom porque não fica velho”, isto é, todo dia é como se fosse o dia em que se conheceram.
d) “eu quero amor feinho”, amor de verdade, real, sem superficialidades.
e) “o que brilha nos olhos é o que é”, ou seja, vê o que as coisas são e não o que gostaria que as coisas fossem.
 
11. A linguagem caracterizada por Adélia Prado, no poema acima, é uma combinação das linguagens
a) coloquial e culta
b) culta e sofisticada
c) erudita e culta
d) popular e coloquial
e) sofisticada e erudita
 
12. No mesmo verso (“Amor feinho não olha um pro outro”), temos a ocorrência de duas figuras de linguagem:
a) anadiplose e concatenação
b) comparação e metáfora
c) anástrofe e hipérbato
d) metonímia e personificação
e) antítese e oxímoro
 
13. No poema “amor feinho” encontramos as funções da linguagem
a) apelativa, emotiva e referencial, com maior ocorrência da apelativa.
b) conativa, fática e metalinguística, com predomínio da conativa.
c) apelativa, emotiva e poética, com predominância da expressiva.
d) expressiva, poética e referencial, com ascendência da referencial.
e) apelativa, fática e metalinguística, com maior incidência da metalinguística.
 
14. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo” – Assinale a alternativa incorreta.
a) “de forte” é locução adverbial de causa.
b) “duro” é advérbio de consequência.
c) “feinho” é adjetivo, numa forma coloquial de diminutivo.
d) “por” é preposição.
e) “sexo” é substantivo.
 
15. ANÁLISE SINTÁTICA: “Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo” – Aponte a alternativa incorreta.
a) “de forte” adjunto adverbial de consequência.
b) “duro”, “magro” e “doido” são predicativos do sujeito.
c) “feinho” é adjunto adnominal.
d) “o amor feinho” é sujeito simples.
e) “por sexo” é complemento nominal

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem de ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

16. No título do poema, predomina qual função da linguagem?
a) conativa
b)expressiva
c) metalinguística
d) poética
e) referencial
 
17. Aponte a alternativa incorreta.
a) A metalinguagem do título não se estende ao corpo do poema.
b) O ritmo do poema é assegurado pela métrica e rima.
c) No corpo do poema predominam as funções poética e referencial.
d) A transformação da “coisa” em “sentimento” espelha a absorção da realidade exterior pelo mundo interior.
e) O trem de ferro é um elemento cultural significativo em Minas Gerais, terra de Adélia Prado.
 
18. Identifique a alternativa incorreta.
a) A conjunção adversativa “mas” aponta para a oposição entre o mundo tangível e o mundo poético.
b) No tempo presente do poema, não há mais trens de ferro.
c) A explicação de poesia não é prosaica, é poética.
d) O trem de ferro esteve sempre presente na vida do eu lírico.
e) Segundo a explicação da autora, a poesia transforma coisas em sentimentos.

19. ANÁLISE MORFOLÓGICA. Identifique a alternativa incorreta.
a) “só” é advérbio de exclusão.
b) “coisa” é substantivo.
c) “ninguém” é pronome indefinido.
d) “sem” é preposição.
e) “pedir” é verbo da primeira conjugação, flexionado no infinitivo.

20. ANÁLISE SINTÁTICA. Encontre a alternativa incorreta.
a) “de ferro” é adjunto adnominal.
b) “mas atravessa (...) o dia” é oração coordenada sindética adversativa.
c) “sentimento” é predicativo do sujeito “Um trem de ferro”.
d) “mecânica” é núcleo do predicativo do sujeito.
e) “virou” é verbo de ligação.

21. ANÁLISE SINTÁTICA. A oração “sem ninguém pedir”, constante do título, é oração
a) subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo.
b) coordenada assindética
c) subordinada adverbial de modo
d) coordenada sindética explicativa
e) subordinada substantiva objetiva direta