Sentimento do Mundo

Carlos Drummond de Andrade

questões

CANÇÃO DO BERÇO
 
O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
 
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
 
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
 
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).
 
1. A palavra “inoculação” – primeira estrofe – pode ser compreendida adequadamente como
a) aceitação de qualquer ser vivo dotado da capacidade de ver e de ser visto.
b) ingestão de nutrientes ou medicamentos com a finalidade de promover a adaptação orgânica.
c) inserção de elemento capaz de se adaptar em ambiente ou situação favorável ao seu crescimento.
d) introdução de componente em meio impróprio.
e) transmissão de caracteres projetados para degenerar os seres apropriados de um determinado ambiente.
 
2. Os parênteses, na primeira estrofe, servem para
a) acrescentar uma ideia que deveria ter sido acrescentada anteriormente.
b) excluir uma característica do sujeito com a finalidade de não interferir no sentido da oração principal.
c) expor duas ideias simultaneamente para tornar o poema menos sintético.
d) incluir uma observação do eu lírico a fim completar o sentido da oração principal.
e) lembrar o leitor de uma característica típica do sujeito.
 
3. A palavra “espasmo” – primeira estrofe – pode ser explicitada adequadamente por
a) compressão muscular voluntária
b) contração muscular involuntária
c) encolhimento muscular espontâneo
d) encurtamento muscular provocado
e) retração muscular permanente
 
4. Os parênteses, no último verso, servem para
a) acrescentar uma nova ideia ao texto.
b) diminuir a importância da palavra importância no fim do poema.
c) enfatizar o desprezo à vida e ao mundo.
d) incluir uma afirmação que deveria ter sido incluída anteriormente.
e) inserir uma lembrança ao leitor da ausência de importância às coisas que deveriam ter, anunciada em todo o poema.
 
5. A palavra “tênue” – terceira estrofe – pode ser substituída adequadamente por
a) espessa
b) frágil
c) pequena
d) resistente
e) teimosa

ELEGIA 1938
 
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
à noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
 
6. O interlocutor do eu lírico é o
a) Gonçalves Dias.
b) habitante típico da Ilha de Manhattan.
c) leitor.
d) próprio eu lírico.
e) trabalhador comum de 1938.

7. A respeito do poema Elegia 1938, assinale a alternativa incorreta.
a) Carlos Drummond de Andrade lamenta os anos de trabalho burocrático no serviço público, no último verso da quarta estrofe.
b) Drummond defende a luta armada nos dois últimos versos do poema.
c) Elegia é nome pelo qual os gregos reconheciam os poemas que lamentam, que curtem dores, que velam sofrimentos. Drummond escolheu esse título para não esconder que sofria.
d) Nos dois últimos versos da terceira estrofe, Drummond implica os versos da Canção do Exílio de Gonçalves Dias, para contrastar o poeta que escrevia sob as palmeiras de São Luís do Maranhão, no século 19, com o poeta que compõe seus versos à sombra de máquinas e edifícios, no Rio de Janeiro do século 20.
e) O ano apontado pelo título faz do poema uma profecia: a época é de grande desenvolvimento industrial; grave crise social e política; e antecede a Segunda Grande Guerra.

8. A respeito do poema Elegia 1938, assinale a alternativa incorreta.
a) Carlos Drummond de Andrade não sentiu o prazer da produtividade no serviço público, por isso trabalhou arrastadamente, não fez o melhor que podia.
b) Dormir descarrega a consciência e a descansa.
c) Drummond trabalhou décadas como funcionário público sem sentir o prazer de estar produzindo um mundo melhor.
d) O “coração orgulhoso” não quer esperar que outros proclamem sua derrota e se passe por ingênuo ou inocente.
e) Os heróis deste mundo e seus ideais estão distantes: nas estátuas em praças públicas ou em bibliotecas fantasmas.

9. A respeito do poema Elegia 1938, assinale a alternativa incorreta.
a) Em 1938, o eu lírico convive intolerantemente com estruturas e atitudes ultrapassadas.
b) No início da terceira estrofe, a noite ressurge como signo de amortecimento, de encerramento, de fim.
c) O segundo verso da última estrofe é uma referência ao processo de desencantamento do comunismo soviético.
d) Os três primeiros versos da penúltima estrofe dizem respeito à leitura dos clássicos. Essa leitura afastou o poeta do presente e dos prazeres da carne, antítese dos “negócios do espírito”.
e) Para os seus problemas, dormir equivale a morrer.
 
10. A palavra “preconizam” não pode ser substituída adequadamente por
a) aconselham
b) antecipam
c) elogiam
d) enaltecem
e) proclamam

TRISTEZA DO IMPÉRIO
 
Os conselheiros angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-rena
pa-ra li-vre sus-pi-rar”
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos
arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.

ABEMOLAVAM: colocavam bemóis em; baixavam meio-tom de uma nota musical.
BOLORENTO: que está ultrapassado ou desgastado; velho, retrógrado, decadente; que apresenta bolor, mofo; embolorado, mofado.
“BUSCO A CAMPINA SERENA”: Modinha (séc. 19) de Cândido Inácio da Silva (1800-1838).
COLO: parte do corpo feminino entre e sobre as mamas; seio.
CONSELHEIROS: conselheiros de D. Pedro II.
EBÚRNEO: branco e ou liso como o marfim.
ENFADO: sensação de tédio, de fadiga espiritual; estado de espírito em que predomina o aborrecimento.
GUERRA DO PARAGUAI: 1864-1870.
“NINHOS DE AMOR”: apartamentos destinados a encontros amorosos.
OPULENTAS: carnudas, bem dotadas.
RAPÉ: pó resultante da trituração de folhas de tabaco torradas após fermentação, por vezes misturado a componentes aromáticos, usado para inalação ou esfregar nas gengivas, e que provoca espirros. O hábito de cheirar rapé atingiu o ápice nos séculos 18 e 19, e decaiu na primeira metade do século 20, tendendo a desaparecer.
SÃO CRISTÓVÃO: Bairro Imperial de São Cristóvão – é um bairro de classe média da Zona Central do Rio de Janeiro. Seu povoamento lusitano começou com a fundação da Igreja de São Cristóvão em 1627. Após a Independência do Brasil, tornou-se a endereço do Palácio Imperial, mas, depois da Proclamação da República, a elite se transferiu para os novos bairros Botafogo e Copacabana.

11. Do poema “Tristeza do Império”, podemos inferir, exceto, que
a) a angústia dos conselheiros está associada à decadência do Império e consequentemente do Bairro de São Cristóvão.
b) nesse tempo, ainda não havia os “arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático”.
c) no fim do século 19, os ex-escravos erguiam favelas ao redor da cidade e ganhavam a vida puxando cargas como animais.
d) os conselheiros aspiravam rapé distraidamente, absortamente.
e) a decadência de Copacabana e a ascensão de São Cristóvão aconteciam simultaneamente.
 
12. Das afirmações abaixo, qual delas não se refere coerentemente ao poema “Tristeza do Império”?
a) A linguagem caracterizada em “ninhos de amor” não é própria do autor, é uma crítica à pieguice dos “conselheiros”, herdeiros do romantismo do século 19.
b) O termo “dor” é metonímico, porque representa uma circunstância, algo bem mais amplo que uma determinada dor.
c) O trecho “sonhavam a futura libertação dos instintos” significa a constatação do eu lírico de que, durante a monarquia, no século 19, o homem se sentia mais livre para satisfazer suas vontades pessoais.
d) Os versos livres e brancos são características evidentes dos modernistas.
e) O vocábulo “bolorento” contribui com a construção do clima de decadência, de ruína.
 
13. O poema “Tristeza do Império” é predominantemente
a) argumentativo
b) descritivo
c) dissertativo
d) dramático
e) narrativo
 
14. “ninhos de amor” e “arranha-céus” correspondem a uma figura de linguagem denominada:
a) antonomásia
b) eufemismo
c) gradação
d) oxímoro
e) paradoxo
 
15. A palavra “pitada” pode ser substituída sem prejudicar o sentido do verbo por
a) absorvida
b) aspirada
c) cheirada
d) fumada
e) porção
 
16. O termo “mecânicos”, empregado no décimo verso, funciona como
a) adjetivo
b) advérbio
c) pronome
d) substantivo
e) verbo
 
17. ANÁLISE SINTÁTICA: Aponte a alternativa incorreta.
a) “a serem instalados nos / arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático” é oração subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo.
b) “bus-co a cam-pi-na se-rena / pa-ra li-vre sus-pi-rar” é objeto direto do verbo “abemolavam”.
c) “donzelas” é antecedente do pronome relativo “que”.
d) “ninhos de amor” é objeto direto do verbo “sonhavam”.
e) “Os conselheiros angustiados” é sujeito do verbo “abemolavam”.

MENINO CHORANDO NA NOITE
 
Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.
 
18. A respeito do poema acima, podemos depreender, exceto:
a) A palavra “noite” é recorrente na poesia de Drummond, demonstrando a paixão do poeta pelas noites de Minas Gerais.
b) Diferente da atitude surrealista de Mário de Andrade, Drummond opta pela estética.
c) Drummond tematiza a fragilidade e a solidão.
d) O eu lírico não é um homem de muitas esperanças, “(um fio apenas)”.
e) O poema reconstrói imagens oníricas, lembram quadros de Salvador Dali.
 
19. É evidente, neste poema, a influência dos primeiros modernistas na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Das vanguardas europeias, veem-se nitidamente imagens
a) cubistas.
b) dadaístas.
c) expressionistas.
d) futuristas.
e) surrealistas.
 
20. Um dos recursos mais comuns na construção e no aperfeiçoamento de uma língua é diminuir algumas frases já muito usadas por julgar algumas palavras desnecessárias e para acelerar a comunicação. Por exemplo: “risco de vida” em vez de “risco de perder a vida”. No terceiro verso, Drummond escreveu “passos abafados” em lugar de “sons abafados dos passos”. A esse recurso damos o nome de
a) aglutinação
b) analogia
c) justaposição
d) metalinguagem.
e) reducionismo.
 
21. A expressão “vozes extenuadas”, no terceiro verso, caracteriza o recurso literário com que uma parte representa um todo, no caso, as vozes representam as pessoas cansadas. Essa figura de linguagem recebe o nome
a) apóstrofe
b) coliteração.
c) eufemismo.
d) hipálage.
e) metonímia.
 
22. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça / perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas”. Identifique a alternativa incorreta.
a) “atrás” é verbo da segunda conjugação.
b) “dos” é fusão de preposição com artigo.
c) “(na sombra) das vozes extenuadas” é locução adverbial de lugar.
d) “se” é pronome reflexivo.
e) “sombra” é substantivo.
 
23. ANÁLISE SINTÁTICA: “O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça / perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas”. Aponte a alternativa incorreta.
a) “choro” e “luz” são núcleos do sujeito composto do verbo “perdem”.
b) “da parede” é adjunto adnominal.
c) “na sombra dos passos abafados” é adjunto adverbial de lugar.
d) “perdem” é verbo transitivo direto do período simples.
e) “se” é objeto direto do verbo “perdem”.
 
24. ANÁLISE MORFOLÓGICA: “E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça / e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino”. Assinale a alternativa incorreta.
a) “e” é conjunção aditiva.
b) “enquanto” é conjunção adverbial.
c) “fio” é adjetivo.
d) “outra” é pronome indefinido substantivo.
e) “que” (qualquer dos dois) é pronome relativo.
 
25. ANÁLISE SINTÁTICA: “E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça / e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino”. Marque a alternativa incorreta.
a) “do menino” é adjunto adnominal.
b) “enquanto a outra sustenta a cabeça” é oração subordinada adverbial temporal.
c) “que escorre pelo queixo do menino” é oração subordinada adjetiva restritiva.
d) “que levanta a colher” é oração subordinada adjetiva explicativa.
e) “vejo”, “levanta”, “sustenta”, “vejo” e “escorre” justificam a existência de cinco orações.

A NOITE DISSOLVE OS HOMENS
 
A Portinari
 
A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança... Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
 
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
 
26. Encontre a alternativa cujo conteúdo não corresponde ao que se afirma no poema de Carlos Drummond de Andrade.
a) A noite reaparece em Drummond como metáfora de um tempo em que as pessoas não se enxergam e consequentemente não se respeitam nem constroem um bem comum.
b) Em “E o amor não abre caminho / na noite”, o eu lírico se refere a uma noite extrema, a uma obscuridade intransigente, nem mesmo o amor consegue vencê-la.
c) Na primeira estrofe, o interlocutor do eu lírico é a “noite”; na segunda, a “Aurora”.
d) No fim da primeira estrofe, o eu lírico experimenta um momento sem qualquer esperança, para renascer com a aurora, que vem “expulsando a treva noturna”, no início da segunda estrofe.
e) No poema, há várias alusões a guerras – “combate”, “campos desfalecidos”, “guerreiros”, “mundo fascista”, “sangue”. Especificamente, à Segunda Grande Guerra, pois o livro “Sentimento do Mundo” foi publicado em 1940.
 
27. Uma das afirmações abaixo não pode ser verificada no poema de Carlos Drummond de Andrade. Qual?
a) A conjunção “entretanto”, no início da segunda estrofe, tem sentido adversativo, equivale a “contudo”.
b) No antepenúltimo verso, o eu lírico cria o termo “antemanhã” para se referir a uma manhã anterior à noite, às épocas em que o homem acreditava na humanidade.
c) No verso que intitula o poema, o eu lírico diz que a noite, esse tempo de cegueira e estupidez, retira de nós o que temos de humano, torna-nos selvagens.
d) O termo “fascista”, no sétimo verso da segunda estrofe, pode ser substituído, com o mesmo sentido, por autoritário ou absolutista.
e) O verbo “sobes”, no sexto verso da segunda estrofe, descreve uma trajetória da linha do horizonte para o centro do céu.
 
28. Nos versos “O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, / teus dedos frios, que ainda não modelaram”, temos a presença da figura de linguagem que se caracteriza com a repetição da última palavra no início do próximo verso. Qual das denominações abaixo não corresponde a essa figura de linguagem?
a) anadiplose
b) anáfora
c) concatenação
d) encadeamento
e) epanástrofe
 
29. No período “Os suspiros / acusam a presença negra / que paralisa os guerreiros”, temos um exemplo da figura de linguagem com que uma expressão ou frase representa um nome, no caso, a expressão “presença negra” representa a noite. Que nome se dá a essa figura?
a) epístrofe
b) hipálage
c) hipérbato
d) hipérbole
e) perífrase
 
30. ANÁLISE MORFOSSINTÁTICA: Assinale a alternativa incorreta a respeito do seguinte período: “O mundo / se tinge com as tintas da antemanhã / e o sangue que escorre é doce, de tão necessário / para colorir tuas pálidas faces, aurora”.
a) “aurora” é substantivo e vocativo.
b) “da antemanhã” é contração de preposição com artigo, substantivo e adjunto adnominal.
c) “para colorir tuas pálidas faces” é preposição, verbo da terceira conjugação, pronome pessoal oblíquo, adjetivo, substantivo e oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo (completa o nome “necessário”).
d) “que escorre” é conjunção integrante, verbo da segunda conjugação e oração subordinada adjetiva explicativa.
e) “se” é pronome reflexivo e objeto direto do verbo “tinge”.
 
31. As obras “Capitães da Areia”, “Sentimento do Mundo” e “Vidas Secas” foram escritas por autores da segunda geração modernista. Nelas aparecem referências metafísicas. Relacione as obras às suas respectivas referências.
I. “Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem (...), pediu informações”.
II. “No reino do céu seriam iguais. Mas já tinham sido desiguais na terra, a balança pendia sempre para um lado”.
III. “Quando me levantar, o céu / estará morto e saqueado”.
a) Capitães da Areia, Vidas Secas e Sentimento do Mundo.
b) Vidas Secas, Capitães da Areia e Sentimento do Mundo.
c) Sentimento do Mundo, Capitães da Areia e Vidas Secas.
d) Capitães da Areia, Sentimento do Mundo e Vidas Secas.
e) Vidas Secas, Sentimento do Mundo e Capitães da Areia.

NOTURNO à JANELA DO APARTAMENTO

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.

Nenhum pensamento de infância,
nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula.
Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquida, circula.

Suicídio, riqueza, ciência…
A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.

Triste farol da Ilha Rasa.

APARTAMENTO – Drummond viveu grande parte de sua vida em um apartamento de Copacabana, bairro do Rio de Janeiro.
ILHA RASA – É uma ilha situada no litoral do Rio de Janeiro. Situa-se cerca de 14 quilômetros do sul da barra da entrada da Baía de Guanabara e aproximadamente 9 quilômetros da Ponta do Arpoador.
NOTURNO – Composição musical que celebra a noite ou é inspirada por ela. Peça composta principalmente para piano, solo, foi largamente produzida durante o século 19.

32. Aponte a alternativa incorreta.
a) A alternativa (c) está correta.
b) o eu lírico está rente à janela.
c) As alternativas (d) e (e) estão corretas.
d) o eu poético está a alguns metros da janela.
e) o sujeito lírico não está debruçado no parapeito da janela.

33. Assinale a alternativa incorreta.
a) O farol é “triste” porque não ilumina; não esclarece à alma “se é noite, mar ou distância”.
b) O eu lírico certamente está num dos primeiros andares de um edifício, pois não consegue ver o farol da Ilha Rasa.
c) O primeiro verso é descritivo; descreve a janela do apartamento.
d) O eu poético sentia-se pequeno diante da noite, do mar e do mundo.
e) O sujeito lírico não se mostra absorvido nem pelo passado nem pelo futuro.

34. Identifique a alternativa incorreta.
a) O eu poético lamenta a cegueira com a qual temos de viver.
b) Na primeira estrofe, a palavra “treva” é usada denotativamente; enquanto a palavra “noite” está empregada conotativamente.
c) Os três últimos versos da terceira estrofe ressalta que, apesar da escuridão, da cegueira, a vida segue.
d) Para o eu lírico, o suicídio é apenas uma das muitas possibilidades.
e) O verso “A soma da vida é nula” sugere que nem a longa existência do poeta é capaz de oferecer alguma luz.

35. Os versos livres e brancos aproximam o poema de Drummond ao
a) modernismo
b) naturalismo
c) pré-modernismo
d) realismo
e) simbolismo

36. Encontre, na primeira estrofe, o sujeito do verbo “é”.
a) cubo
b) morte
c) salto
d) silencioso
e) treva

37. Qual o poder da vida destacado pelo sujeito poético?
a) anular
b) circular
c) contemplar
d) integrar
e) somar

38. No início da quarta estrofe, o poeta inicia uma oração, mas não a termina. Que nome se dá a essa figura de linguagem?
a) anacoluto
b) perífrase
c) hipérbole
d) catacrese
e) sinédoque

39. “A vida tem o poder de circular na escuridão absoluta como se fosse líquida”. Que nome se dá à natureza desta frase, derivada dos três últimos versos da terceira estrofe?
a) paráfrase
b) hipérbato
c) paródia
d) metalinguagem
e) paronomásia

40. A palavra “ciência”, na quarta estrofe, recebe o sinal gráfico de acentuação porque é
a) paroxítona terminada em ditongo crescente.
b) paroxítona terminada em ditongo decrescente.
c) oxítona terminada com a vogal “a”.
d) proparoxítona.
e) proparoxítona terminada com a vogal “a”.

41. ANÁLISE MORFOLÓGICA. “Mas a vida tem tal poder: / na escuridão absoluta, / como líquida, circula”. Aponte a alternativa incorreta.
a) “circula” é verbo da primeira conjugação, flexionado na terceira pessoa do singular do tempo presente do modo indicativo.
b) “como” é conjunção conformativa.
c) “líquida” é adjetivo.
d) “mas” é conjunção adversativa.
e) “tal” é pronome demonstrativo.

42. ANÁLISE SINTÁTICA. “Mas a vida tem tal poder: / na escuridão absoluta, / como líquida, circula”. Assinale a alternativa incorreta.
a) “circula” é verbo intransitivo.
b) “como líquida” é oração subordinada adverbial comparativa.
c) “Mas a vida tem tal poder” é oração coordenada assindética.
d) “na escuridão absoluta, / circula” é oração subordinada substantiva apositiva.
e) “tal” é adjunto adnominal.

43. Analise gramaticalmente o trecho “A alma severa se interroga / e logo se cala”, do primeiro parágrafo, e identifique a alternativa incorreta.
a) “e logo se cala” é oração coordenada sindética aditiva, porque se adiciona ao sentido da oração à qual está anexada.
b) “A alma severa se interroga” é oração coordenada assindética, porque é independente e não possui conjunção.
c) “severa” é predicativo do sujeito, porque o eu lírico não tem duas ou mais almas para que “severa” seja apenas um adjunto adnominal.
d) “se” é pronome reflexivo, porque remete a ação do verbo de volta para o sujeito.
e) “logo” é adjunto adverbial de tempo, porque aproxima no tempo a ação de calar da ação de interrogar.

BOLERO DE RAVEL

A alma ativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto
esquiva ondulação evanescente
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.

EVANESCENTE – De curta duração, de existência efêmera. (Houaiss)
MELANCOLIA – Sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação; estado afetivo caracterizado por profunda tristeza e desencanto geral. (Houaiss)

44. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO. Assinale a alternativa incorreta.
a) As imagens da espiral e do círculo compõem uma alegoria.
b) “esquiva ondulação evanescente” é uma descrição da “alma”.
c) Imageticamente, os indivíduos referenciados no poema estão voltados para o alto, numa alusão ao céu, ao Paraiso.
d) No quarto verso, a palavra “infinita” está ligada diretamente a “espiral”, mas “infinitamente” está ligada a “enrola-se”, do segundo verso.
e) Segundo o poema, vivemos atraídos por desejos irrealizáveis, hipnotizados por utopias, experimentando ansiedades e angústias, tão seduzidos pelos sonhos que ficamos cegos para a realidade.
 
45. Aponte a opção incorreta.
a) O poema se apresenta com versos livres.
b) “a morte do Imperador” constitui uma perífrase para a realidade, para o tempo presente.
c) O primeiro “está presa” é um lamento; o segundo, uma constatação.
d) A audição prevalece sobre a visão, como se o desejo fosse um canto de sereia.
e) Os versos são brancos.
 
46. Considerando a descrição elaborada no poema Bolero de Ravel, “espiral” e “círculo” são
a) adversativas
b) consecutivas
c) sinônimos
d) antíteses
e) contraditórias
 
47. A inversão de termos no fim da oração “As mãos não tocam jamais o aéreo objeto” caracteriza a figura de linguagem denominada
a) anacoluto
b) hipérbato
c) sínquise
d) anástrofe
e) hipérbole
 
48. ANÁLISE SINTÁTICA. “A alma ativa e obcecada / enrola-se infinitamente numa espiral de desejo / e melancolia”. Assinale a opção incorreta.
a) “infinitamente” é adjunto adverbial de tempo.
b) “de desejo” é complemento nominal.
c) “melancolia” é adjunto adnominal.
d) “se” é objeto direto.
e) O período é simples.
 
49. No verso “Os olhos, magnetizados, escutam” temos:
a) anáfora
b) sinédoque
c) catacrese
d) sinestesia.
e) epístrofe
 
50. ANÁLISE MORFOLÓGICA. “As mãos não tocam jamais o aéreo objeto”. Aponte a alternativa incorreta.
a) “aéreo” é substantivo.
b) “As” é artigo definido feminino plural.
c) “jamais” é advérbio de tempo.
d) “não” é advérbio de negação.
e) “tocam” é verbo da primeira conjugação, flexionado na terceira pessoa do plural do tempo presente do modo indicativo.
 
51. NORMAS GRAMATICAIS. “Os olhos, magnetizados, escutam / e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa”. Identifique a alternativa incorreta.
a) O período é composto por subordinação, porque a segunda oração está subordinada à primeira, que é a principal.
b) ”magnetizados” é aposto, porque vem após explicando um termo anterior (“olhos”).
c) O trecho “está presa para sempre no círculo ardente” é predicado nominal, porque seu núcleo significativo é um nome (“presa”); a presença verbal não é predominante, é auxiliar.
d) “presa” é predicativo do sujeito, porque está inserido por um verbo de ligação e caracteriza o sujeito “nossa vida”.
e) O vocábulo “círculo” recebe o sinal de acentuação, porque todas as palavras proparoxítonas devem receber tal sinal, agudo ou grave.