futebol

O goleiro e a "paradinha"

         Criou-se em todo o mundo a cultura de que o goleiro tem de arriscar um canto na cobrança de um pênalti. Justifica-se que o gol é muito grande (7,32 metros de extensão por 2,44 de altura) e, então, os goleiros têm alguma chance apenas quando adivinham o canto para onde a bola vai. Essa ideia, consagrada e sedimentada entre os arqueiros, oferece aos torcedores a cena ridícula (exceções acontecem) em que o goleiro sai do chão em direção a uma das traves – em busca de um objeto invisível – e a bola vai para o outro lado.
         Eu disse ridícula porque goleiro não é remunerado para ser adivinho. Recebe salários e outras recompensas para ser atleta. Ele tem de treinar para ter a cada vez mais conhecimentos, técnicas,explosão, velocidade, elasticidade, objetividade e firmeza.
         Nos últimos campeonatos, no entanto, popularizou-se a “paradinha”. O cobrador do pênalti blefa: aproxima-se da bola, arma o chute, mas não chuta. O goleiro sai do chão em direção a uma das traves e o cobrador, então, chuta a bola para o outro lado. E o goleiro não se envergonha, porque também se criou em todo o mundo a cultura de que a responsabilidade num pênalti é toda do jogador de linha. Dizem que, quando o cobrador converte o pênalti em gol, não fez mais que sua obrigação. E que, quando o goleiro defende um pênalti, é um herói.
         Alguns goleiros, de tanto serem humilhados pela “paradinha”, não estavam mais tentando adivinhar o canto. Isso é ótimo. Os goleiros estavam voltando a ser goleiros. Estavam desistindo da condição de adivinhos, videntes.
         Mas a FIFA “melou” essa evolução no futebol. Proibiu a “paradinha”. Por quê? Não existe – nem pode existir – uma regra que proíba o jogador de blefar um chute. Porque proibiram o blefe numa cobrança de pênalti, teriam de proibir também durante a partida. O atacante que chega à frente do goleiro e arma um chute tem de chutar? Não pode enganar o goleiro? Coitado! Então não podemos mais driblar. Estou exagerando? Por que o jogador pode enganar durante a partida e não na cobrança de um pênalti?
         Por outro lado, os atacantes mais erram que acertam o chute na cobrança de um pênalti. A maioria das bolas vai para o meio do gol. Mas o goleiro cai para um dos cantos em busca do nada. Se os goleiros ficassem no centro do gol e só saíssem depois do chute, como determina a regra, os cobradores se sentiriam mais pressionados, porque saberiam que teriam de acertar o chute. Se errassem, o goleiro pegaria, porque estaria no centro do gol. Porque futebol não sorte, é esporte.
         Por fim, se o gol é tão grande que não permite ao goleiro restringir-se à condição de atleta, diminuam o tamanho do gol!