filhos

FALAR É PRECISO

         Os adolescentes têm usado os recursos tecnológicos de comunicação tão largamente que os adultos, às vezes, têm perdido a paciência.
         – Meu filho não sai do computador! Se deixar, fica a noite inteira no bate-papo...
         O fato é que alguns adolescentes nem precisariam de tanta tecnologia para dizer o que e a quem querem: são desinibidos por conta de um patrimônio genético invejável e ou foram criados num ambiente propício à comunicação. A maioria dos adolescentes, no entanto, tem dificuldades para expressar suas vontades. Porque têm medos demais desenvolvidos na infância ou uma autoestima prejudicada na pré-adolescência, muitos jovens encontram nos computadores domésticos uma forma eficaz de pôr para fora desejos que já não suportavam mais guardar.
         Falar, escrever, expor ideias é necessidade. Os mais velhos, aqueles que já sofreram a dor da solidão, sabem quanto precisam de alguém para conversar. No cérebro também a fila tem que andar. Pensamentos amadurecidos precisam sair para que nasçam ideias novas. É uma questão de descongestionar a mente. De nada vale uma fábrica produtiva que não tem como escoar sua mercadoria.
         – Meu filho não me ouve!
         Naturalmente! Ouvir é luxo; falar é necessário. Ouvir é evolução; falar é sobrevivência. Quem ouve é quem já falou o bastante para estar com um volume satisfatório de informações organizadas. Do mesmo modo que só vai estudar quem estiver com barriga cheia – exatamente porque estudar é evolução e comer é sobrevivência – só vai escutar quem estiver com uma boa quantidade de informações assentadas.
         Pensamos enquanto falamos. E vice-versa. Antes de escapar aos lábios, as frases têm de ser autorizadas pelo cérebro. As melhores ideias nascem num bate-papo. O cérebro se organiza para a fala – ou escrita – e nisso ajusta as conclusões. Nossa saúde psicológica depende muito do tanto que expressamos nossos sentimentos. Considerando o volume de informações que entra em nossa cabeça todos os dias, por meio dos sentidos, é organizar esse mundo de dados ou endoidecer.
         Num caminho de volta, ajustamos teorias e revemos conceitos diante das concordâncias e discordâncias dos outros indivíduos. As pessoas com quem conversamos nos servem como referências para reorganizar – qualificando e atualizando – a imagem que temos do mundo dentro de nós.
         A adolescência é justamente o período em que os sujeitos começam a enfrentar os mecanismos sociais. Aliás, emergimos na adolescência. Antes, cumprimos uma trajetória delineada genética e culturalmente. Os adolescentes são instigados a mostrar conhecimentos, habilidades e capacidades. E precisam conseguir de outras pessoas favores, concessões e concordâncias. Antes, imploravam aos pais, aos irmãos. Vai suplicar aos amigos? Pedir um lápis emprestado a um colega é mais fácil do que pedir um beijo. Mas tem beijo doido pra ser pedido. Adeus à timidez!
         Assim, a internet tem ajudado os jovens a resolver, antes dos 15 anos, problemas de comunicação que só seriam resolvidos – se é que seriam – depois dos 20.
         Estamos a caminho de uma sociedade menos escondida dentro de cada cidadão. Talvez até mesmo, por isso, menos mentirosa. Ou hipócrita. Uma grande pensadora, minha mãe, disse-me que tinha medo das pessoas caladas. Nunca sabemos que estão pensando e, consequentemente, que estão por fazer. Um mundo em que as pessoas conversam mais pode ser menos perigoso. Além de mais criativo e eficaz.

FILHOS CARENTES, ALVOS FÁCEIS.

         As sociedades estabelecem padrões físicos ou de comportamento como referência de normalidade. O padrão de homem bem sucedido, por exemplo, veste paletó e gravata, usa carros importados e gasta quase todo o seu tempo com seus compromissos profissionais. Já o padrão de homem inteligente possui memória enciclopédica, é poliglota e desatencioso aos afazeres cotidianos.
         Para os nossos filhos, herdeiros do materialismo crescente do século vinte, no entanto, o desconforto está no padrão de beleza. Todos querem ser atraentes e bem cotados pelos colegas. O ideal é ser um produto tão bem acabado como os campeões do design industrial. Os meninos gastam horas nas academias de musculação e as meninas se esquecem nos salões de beleza. Mas, infelizmente, uma porção significativa dos jovens, por mais que se esforcem, não consegue participar do grupo dos fisicamente privilegiados.
         Algumas meninas, por mais que alisem os cabelos e apelem para lentes de contato coloridas, não conseguem ficar com o garotinho que acham lindo. Sentem-se excluídas, marginalizadas, mais espectadoras que protagonistas, e uma adolescente menos admirada, insatisfeita, carente, torna-se um alvo fácil. O primeiro espertalhão que a chamar de princesa tem grande chance de comovê-la. E conseguir dela o que quiser. E vai adiantar alguém dizer para ela que o rapaz não presta?
         – Não presta é quem nunca me chamou de princesa!
         – Esse rapaz pode ser um bandido?
         – E quem tem certeza de alguma coisa?
         – Você vai estragar a sua vida...
         – Eu resolvo os meus problemas.
         – Ele está querendo se aproveitar de você...
         – Mentira! Ele gosta de mim... Quem não presta não gosta de ninguém.
         É como estar perdido numa floresta, encontrar uma panela enferrujada, amassada, quase furada, e gastar dias com lavagem e reparo para torná-la útil. Na falta de uma vasilha melhor, recupera-se essa. Assim é com a menina que encontrou o seu “príncipe”. Irresponsável, desonesto, quase um bandido. Na falta de um “mocinho” melhor, recupera-se esse.
         Com os meninos, não é diferente. Neste momento histórico em que as mulheres já podem fazer quase tudo que os homens fazem, muitos deles não se casam, são casados. Quando percebem, já estão recebendo os cumprimentos. Muitas mulheres são educadas para atrair e abater um macho capaz de sustentá-la e a prole.
         A esse fenômeno em que as pessoas se veem muito mais como presas ou predadores que exemplares de uma mesma espécie, juntam-se dois fortes ingredientes: as dificuldades de um mundo altamente competitivo somadas ao extremo materialismo que transformou o corpo humano num objeto da indústria do prazer: quem tem um corpo bem cotado pode diminuir as suas dificuldades de sobrevivência negociando-o com alguém que não tem um belo porte, mas pode resolver alguns problemas funcionais do outro.
 
         Se filhos carentes são alvos fáceis de espertalhões, o que os pais podem fazer é diminuir a carência dos filhotes e afastá-los dos oportunistas de plantão.
         Infelizmente, porém, nem é possível aos pais baixar completamente o nível de carência dos meninos nem isolar totalmente as meninas do “lobo mau”.
         Os pais podem, contudo, manter em pauta esses dois objetivos e contar com a sorte das boas circunstâncias. Sorte?
         É. Todos os acontecimentos sociais, todos, são resultados de coincidências. Por mais que alguém planeje e tenha consciência dos seus atos, ninguém pode prever e controlar as atitudes dos outros cidadãos. Um rapaz começa a beber, no bar, às dez horas da manhã para bater o carro dele no seu, estacionado, às oito da noite. E daí que você é um motorista prudente etc.?
         Há casos de pais extremamente coerentes e cuidadosos que, num dado momento, foram surpreendidos por péssimas notícias. Como há casos de pais despreparados e relapsos que nunca se viram ameaçados por dons juans ou fornecedores de drogas.
         Porque ninguém tem o controle das circunstâncias – das coincidências, podemos fazer a parte que nos cabe e o resto da história “entregar a Deus” (ao acaso, ao destino). Por que se preocupar com o que não pode ser feito? O melhor é se ocupar com a parte que nos é possível: “diminuir a carência dos filhotes e afastá-los dos oportunistas de plantão”.
         Alguns pais têm a sorte de criar e educar filhos física e intelectualmente privilegiados: um corpo exemplar para uma mente sã. Já outros têm muito que fazer quando seus filhos não são os melhores.
         Se os pais de filhos muito carentes fazem tudo o que podem para diminuir essa fraqueza, que mais podemos esperar deles? Aceitar um problema na sua dimensão real, sem se desesperar, já é um bom passo para superá-lo. Não podemos perder de vista que viver é estar o tempo todo em estado de risco.
         Mas podemos diminuir os riscos, por exemplo, disponibilizando aos filhos uma extensão da família: uma comunidade, uma associação, na igreja, no clube. Famílias que se juntam a outras com interesses comuns e com o objetivo de no mínimo criar um ambiente saudável para os filhos facilitam as coisas. Oferecer alguns prováveis bons amigos aos filhos deve ser melhor do que deixá-los encontrar seus amigos sozinhos, na esquina, no posto ou na boate.
         Se faz parte aceitável das sociedades modernas ingressar numa comunidade religiosa ou recreativa para garantir o emprego ou clientes, menos enganoso é participar de um corpo social com o objetivo explícito de preservar alguns princípios e uma maneira saudável de viver.
         E se, apesar desse ambiente favorável, mesmo assim os filhos chegam da rua com surpresas desagradáveis, precisamos de um último recurso: a credibilidade. Os pais têm que aperfeiçoar a sua capacidade de educar. Não podem se escorar na ideia “isso é assim mesmo”. Se os filhos se atolam em dúvidas, os pais que multipliquem suas respostas. Quem põe comida na mesa cria; quem oferece limites e possibilidades educa.
 
         Se o que podemos fazer é diminuir a carência e distanciá-los dos oportunistas. A pergunta que se faz, então, é: como baixar os índices de carência de um adolescente?
         Uma carência corresponde a uma insatisfação. E uma insatisfação pode ser referente a algo possível ou impossível. Vamos começar pelo algo possível.
         São muitos os pais que sonegam informações e atitudes simplesmente porque entendem que fazer as vontades dos filhos seria mimá-los desastrosamente. Que os filhos deixariam de ter limites por serem “sempre” atendidos.
         Isso é ver um fenômeno sem altitude. Do alto, de um ponto de vista mais amplo, os desejos dos filhos aos pais não são todos nem a maior porção dos desejos das crianças ou dos adolescentes. Eles querem muito dos pais, mas também querem muito (mais) dos outros. Se já vão se frustrar demais com outros, por que se frustrarem também (demais) com os pais?
         O movimento deve ser inverso. Se os pais satisfizerem os desejos dos filhos, as frustrações serão decorrentes dos outros e o abrigo afetivo dos adolescentes continuará sendo a sua própria casa.
         É claro que os pais não podem atender a todos os desejos dos filhos. Alguns por falta de dinheiro mesmo e outros porque afinal temos de zelar pela saúde das crianças. Mas, considerando um desejo que não faz mal à saúde (física e psicológica) dos meninos e há dinheiro para tanto, por que não proporcioná-lo? Porque eles não darão valor? Porque tudo que vem fácil vai fácil? Porque eles já ganharam muitos presentes nos últimos dias?
         Besteira! Desejos nascem para morrer. Aliás, os desejos se realizam com a própria morte. Se os desejos não quisessem morrer, não causariam em nós ansiedade.
         Ou, se quiser, desejos são metades que se completam com a satisfação de quem deseja. O escritor português Luís de Camões disse, num soneto, que não existe algo natural que não queira se perpetuar, então, prosseguiu o escritor, o desejo não quer o objeto desejado para não morrer: “Não há coisa, a qual natural seja, / Que não queira perpétuo o seu estado; / Não quer logo o desejo o desejado, / Por que não falte nunca onde sobeja.”
         Excelente! Que o desejo não queira se realizar para não morrer, isso é naturalmente compreensível, mas não somos os nossos desejos. Gostamos de matar saudades e desejos exatamente porque isso significa mais autoestima e menos carência. Desejo que não se realiza apodrece como a semente que não brota.
 
         Filosofia do desejo à parte, se os pais se apresentam como as pessoas mais próximas das realizações dos filhos, os índices de carência dos meninos caem significativamente. Não dar limites é permitir o que não deveria ser permitido, por exemplo, que o filho deixe de estudar, que durma sem tomar banho. Consentir que o menino gaste o dinheiro que não tem não é satisfazer desejos, é se ausentar como educador. Dar uma bicicleta à filha, mesmo que não seja dia de ganhar presentes, é bem diferente de permitir que o menino fique no computador, envolvido com jogos violentos, durante todo o domingo.
         Podemos dar aos nossos filhos tudo que o dinheiro pode comprar sem ferir a ética, a moral ou a legalidade; desde que esteja acompanhado da ideia de que não nascemos para ganhar presentes: eles, os presentes, devem ser recebidos como recursos, os quais existem para serem usados na construção de uma vida digna e exemplar.

A VEZ DOS FILHOS

         Tínhamos três chances de ascensão social: o nascimento, o casamento e a boa sorte (a pessoa certa, no lugar certo e na hora certa). Se o sujeito, porém, não nasceu num “berço de ouro”, não conseguiu um casamento financeiramente interessante, nem pôde se preparar para as boas oportunidades, ainda há uma esperança: o filho.
         Noutros tempos, as crianças apenas reproduziam o comportamento dos pais. Uma profissão se aperfeiçoava no filho, no neto. O pai lavrador mandava os filhos para a roça e multiplicava a mão de obra. Hoje, os adolescentes têm seus próprios sonhos e normalmente arrastam os pais no encalço dos seus objetivos. Pais de atletas, mães de modelos, cantoras apostam nos filhos como a quarta chance de ascensão social.
         No tempo do meu avô, os pais lideravam e determinavam o ruma da família; hoje, os filhos que demonstram algum talento ou habilidade específica tornam-se a “bola da vez”. São muitos os pais que se convenceram de que já chegaram até onde podiam e assumem as tarefas de preservar a condição social conquistada e criar as possibilidades para que os filhos os levem mais longe. O pai do Kaká, por exemplo, é o empresário do jogador.
         O mundo globalizado multiplica as oportunidades e tem apresentado opções para os mais diversos talentos. Alguém que era bom na cozinha há cinquenta anos raramente conseguia desenvolver essa capacidade profissionalmente. Neste século, no entanto, há escolas superiores de culinária e hotelaria exportando profissionais.
         Se os filhos eram mais tímidos ou menos corajosos, se os pudores dos pais eram intransponíveis, se as oportunidades não eram tantas, se as compensações financeiras não eram tão atraentes, a meninada deste mundo tem vergonha de nada, arriscam-se com facilidade, construíram uma autoestima suficiente para colocar os pais na bagagem e sair para o mundo.
         A ordem se inverteu. Os pais que sempre buscaram a própria prosperidade para deixar aos herdeiros, hoje querem o melhor para os filhos e consequentemente para si mesmos. E eles sabem que o estímulo e uma boa escola são fundamentais. Famílias bem estruturadas e conscientes de que o seu desenvolvimento pode ocorrer em várias gerações têm mais chances de alcançar suas metas. Como numa corrida de revezamento: os pais vão até onde podem, passam o bastão aos filhos, que passam aos netos...

COMO CHEGAM OS FILHOS

         As pessoas crescem, fisicamente, até os 17, 18 ou 19 anos. Nesse tempo acontece a “leitura” da sua herança genética, ou seja, nesse período o indivíduo toma para si o que os seus pais e antepassados deixaram para ele: um tamanho, uma cor, uma determinada configuração neuronal. Podemos dizer que ficamos prontos quando paramos de crescer fisicamente.
         Enquanto se faz a leitura genética, repassamos por todas as vidas que fizeram a nossa: ...hexavós, pentavós, tetravós, trisavós, bisavós, dos avós e dos pais. Como se acelerássemos um filme até o ponto em que se encontra a nossa história. Por isso nos modificamos tanto nas duas primeiras décadas de vida.
         Nascemos como animaizinhos completamente indefesos, porque revivemos, na primeira infância, os primeiros momentos da condição animal, quando tínhamos pouca mobilidade e nenhuma consciência. Somos tão diferentes aos dezoito anos porque não estávamos prontos antes. Quem diria que aquela menina irresponsável aos treze seria essa mulher decidida aos vinte?
         Considerando que um ser humano fica pronto quando para de crescer fisicamente, o seu filho não é completamente esse menino que você está vendo aos dez ou doze anos. Seu filho não está terminado. Esse menino está nos revelando a trajetória percorrida pelos seus ancestrais, por onde passaram para chegar onde estará aos dezoito ou dezenove anos. Está desfiando o seu percurso genético enquanto se ajusta ao mundo moderno.
         Essa estrada genética termina nos pais. A natureza nos abastece com todas as informações de todos os nossos antepassados até quem nos gerou e daí por diante é por nossa conta. Isso significa que os filhos trazem muito dos vícios e limitações dos pais. Aliás, dizem que em muitas vezes os filhos ensinam os pais justamente porque estes são obrigados a corrigir nos filhos os próprios defeitos e, naturalmente, ensinando, aprendem muito, já que os argumentos que oferecem aos filhos também servem a eles.
         Os filhos chegam aos pais e ao mundo, portanto, como seres fisiologicamente primitivos, mas repletos de potencialidades a serem reveladas ainda. Uma criança não é uma “tabula rasa” ou uma “folha de papel em branco” na qual registramos as nossas experiências, como queria o filósofo inglês John Locke. Pelo contrário, crianças são “folhas de papel” já muito usadas, carregadas de informações. Enquanto crescemos e tomamos posse dessas informações, temos a chance de atualizar e reeducar cada uma das vidas que participam da nossa.
         O pensador francês René Descartes disse que as ideias inteiramente racionais só podem existir porque já nascemos com elas, exatamente porque não existem elementos suficientes, numa única existência, para fazê-las existir. Disse conclusivamente que as ideias inatas são “a assinatura do Criador”.

HUMILDADE E DESENVOLVIMENTO

         É sabido e alardeado que os filhos nascem a cada dia mais inteligentes, espertos. E também se desenvolvem mais rapidamente. Qualquer avô pode afirmar que um menino, com 13 anos, hoje, vira-se bem melhor que um rapaz com 17 anos na década de 1950.
         Os pais estão fisiologicamente sempre atualizados e, naturalmente, seus filhos nascem com uma configuração neuronal, na pior das hipóteses, minimamente apropriada aos estímulos do mundo moderno. Afinal, os espermatozoides e os óvulos que fecundaram os nossos filhos não poderiam ser semelhantes aos gametas de um neandertal. E se estamos vivos, de verdade, é porque todos os nossos antepassados, todos, cresceram, evoluíram e ainda tiveram filhos. Ou não estaríamos aqui.
         Nisso a natureza mostra-se, como sempre, suficientemente sábia. Os filhos nascem a cada dia mais espertos e, na mesma proporção, os pais possuem condições apropriadas para educá-los. Se os filhos nascem mais desenvolvidos geneticamente a cada geração, os pais também estão melhor estruturados fisiologicamente, portanto, têm inerentemente potencialidades físicas e intelectuais para criar e educar satisfatoriamente os próprios filhos. Devem e podem estar bem preparados para desempenhar exemplarmente o papel de pais.
         O mundo moderno, entretanto e mais uma vez, distancia o homem de suas qualificações naturais. O ambiente humano contemporâneo modifica significativamente as suas circunstâncias (sociais, econômicas, culturais etc.) de uma geração para outra. Até o filho completar 14 ou 15 anos, os pais podem ficar demasiadamente desatualizados. E ainda mais aqueles que já estavam ultrapassados antes de os filhos nascerem.
         Os pais que atentam para a questão ou nem por isso mantêm-se no ritmo de desenvolvimento da sociedade a que pertencem conseguem educar seus filhos até com certa facilidade, pois os filhos são extensões dos pais. Quem consegue desenvolver e manter uma autocrítica razoável vai encontrar nos filhos as próprias virtudes e também as mesmas deficiências ou limitações.
         Essas coisas só não são assim cem por cento, exatamente, ou tão simples quanto “filho de peixe peixinho é”, porque um filho não é um prolongamento genético aperfeiçoado apenas do pai ou da mãe, mas uma combinação dos genes do pai com as informações hereditárias da mãe, às vezes com a predominância das características do avô ou da bisavó.
         A questão, então, é não desperdiçar uma dádiva da natureza. Se é filho nosso, não pode ser muito diferente de nós. Entender a si mesmo ajuda a entender o filho. Reconhecer os próprios vícios e se gastar para vencê-los faz parte do esforço pelo aperfeiçoamento da própria espécie. Os recursos que usamos em nosso favor podem ser os mesmos com os quais ajudaremos os nossos filhos a construir um caráter melhor.
         Quem humildemente admite suas imperfeições e se esforça para resolver seus problemas psicofisiológicos percebe nos filhos as mesmas causas dos mesmos problemas e com alguma experiência no assunto. Um pouco de humildade e espelho pode ser o bastante para o encaminhamento das crianças.